PESQUISA

Proteger a natureza é a chave para evitar novas pandemias, diz cientista

Pesquisadora afirma que conservar a biodiversidade é tão importante quanto desenvolver vacinas e medicamentos para impedir o surgimento de novos patógenos

Cientistas defendem que proteger a natureza pode ser a chave para evitar novas pandemias -  (crédito: Reprodução/Freepik)
Cientistas defendem que proteger a natureza pode ser a chave para evitar novas pandemias - (crédito: Reprodução/Freepik)

Os modelos que tentaram prever pandemias até hoje falharam — e a ciência precisa rever as estratégias. A avaliação é da pesquisadora Felicia Keesing, professora do Bard College, nos Estados Unidos, que defende uma abordagem pouco considerada nas políticas de saúde pública: a conservação e a restauração da biodiversidade como forma de prevenir a disseminação de novas doenças.

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Keesing apresentou as ideias durante o primeiro dia da Escola Interdisciplinar FAPESP: Ciências Exatas e Naturais, Engenharia e Medicina em São Paulo. Segundo ela, 75% das doenças infecciosas emergentes em humanos têm origem em animais, o que mostra que a relação entre espécies pode ser decisiva para o surgimento de pandemias.

“Precisamos ampliar nossa busca para além de alguns poucos lugares como potenciais iniciadores de pandemias, de apenas vírus como patógenos que podem causá-las e de alguns poucos animais como os mais prováveis reservatórios”, afirmou.

Para a pesquisadora, é necessário repensar a forma como as previsões são feitas e testar modelos anteriores que não funcionaram, entendendo suas falhas. Além disso, ela alerta para a necessidade de olhar além dos coronavírus, que dominaram o foco científico após a COVID-19.

Keesing acredita que o próximo grande patógeno global pode ser uma bactéria resistente aos antibióticos atuais. “Temos nos concentrado em vírus, mas a ameaça das bactérias está crescendo e pode ser ainda mais perigosa”, disse.

Biodiversidade como escudo natural

Um ponto central da fala da pesquisadora foi o papel dos animais na transmissão de doenças. De acordo com Keesing, muitos microrganismos que causam enfermidades não têm apenas um hospedeiro, o que torna essencial entender quais espécies realmente atuam como reservatórios.

Ela questiona, por exemplo, a supervalorização de alguns grupos, como os morcegos, e a subestimação de outros, como os roedores. Em seus estudos no Quênia, a cientista observou que áreas que perderam grandes mamíferos, como girafas e leões, apresentaram aumento na população de ratos e serpentes venenosas — animais mais propensos a carregar patógenos perigosos para humanos.

Keesing também destacou que os animais mais abundantes e menos ameaçados de extinção são os que mais transmitem doenças. Isso ocorre por características biológicas, como reprodução acelerada e alta adaptabilidade, o oposto de espécies ameaçadas, como rinocerontes. Para ela, proteger ecossistemas e restaurar áreas degradadas pode ser uma ferramenta poderosa de prevenção. “A conservação da natureza precisa ser vista como parte da estratégia global de saúde”, defendeu.

Além disso, a pesquisadora reforça que essa visão deve vir acompanhada de avanços na ciência, como o desenvolvimento de antivirais e antibacterianos de amplo espectro, vacinas eficazes e políticas públicas robustas.

 

  • Google Discover Icon
postado em 12/11/2025 13:12
x