
Artur Costa, psicanalista e professor sênior da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC)
Como os pais podem perceber que um adolescente está começando a se interessar demais por jogos de azar?
Um dos primeiros sinais costuma ser o aumento repentino do tempo de tela, acompanhado de uma ansiedade constante para jogar ou abrir caixas e recompensas. Muitas vezes aparecem pequenos gastos escondidos, como compras não autorizadas ou “sumiços” no cartão dos pais, além da necessidade insistente de tentar “só mais uma vez”. Irritação quando é impedido de jogar e conversas frequentes sobre chance, probabilidade, skins raras ou itens valiosos também são indicadores importantes. Sob a perspectiva psicanalítica, o alerta maior surge quando o jogo começa a funcionar como uma forma de anestesiar emoções difíceis. O que caracteriza um risco claro de envolvimento problemático com mecanismos semelhantes aos do jogo de azar.
O que pode ser feito para ajudar um jovem a não se envolver em apostas?
Três caminhos costumam funcionar muito bem na prevenção do uso problemático de jogos. O primeiro é a educação emocional: conversar abertamente sobre risco, impulsividade e manipulação digital. Os adolescentes entendem muito mais do que imaginamos, e essa troca reduz a sensação de que o assunto é proibido ou vergonhoso. O segundo é estabelecer limites claros, como tempo de tela, regras de uso e acompanhamento das microtransações. O terceiro é oferecer um ambiente afetivo estável. Quando o jovem se sente ouvido, tem vínculos fortes e mantém uma rotina equilibrada, a tendência de buscar escape emocional nos jogos diminui. Além disso, é importante estimular outras fontes de recompensa na realidade, como esporte, música ou desafios saudáveis.
