
Um novo estudo internacional estima que o planeta pode perder a maior parte de suas geleiras até o fim do século, dependendo do ritmo do aquecimento global. Se a temperatura média da Terra subir 4ºC, restariam cerca de 18 mil geleiras no mundo. No entanto, se o aumento for limitado a 1,5ºC, o número pode chegar a aproximadamente 100 mil. A pesquisa, liderada pela ETH Zurich, também identifica quando o desaparecimento anual dessas massas de gelo atingirá seu ponto máximo, chamado pelos cientistas de "pico da extinção das geleiras".
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Pela primeira vez, os pesquisadores calcularam a redução de área ou volume do gelo e o número exato de geleiras que deixam de existir ano após ano. Foi concluído, então, que o desaparecimento já está em curso em todas as regiões do planeta e tende a se intensificar nas próximas décadas, especialmente em áreas com muitas geleiras pequenas, localizadas em altitudes mais baixas ou próximas ao Equador.
De acordo com o estudo, publicado em dezembro de 2025 na Revista Nature Climate Change, o chamado "pico da extinção das geleiras" ocorrerá quando a perda anual atingir seu maior valor. Em um cenário compatível com o Acordo de Paris, de aumento de 1,5ºC, esse pico deve ocorrer por volta de 2041, com cerca de 2 mil geleiras desaparecendo em apenas um ano. Já em um cenário extremo, de 4ºC, o ápice é adiado para cerca de 2055, mas com uma perda anual de aproximadamente 4 mil geleiras.
"Pode parecer contraditório que o pico aconteça mais tarde em um mundo mais quente, mas isso ocorre porque não só as geleiras pequenas, como também as grandes, acabam desaparecendo", explica Lander Van Tricht, autor principal do estudo. Segundo ele, a nova metodologia permite captar a extinção completa dessas massas de gelo, algo que modelos anteriores não conseguiam medir com precisão.
A situação preocupa nos Alpes europeus. Caso as políticas climáticas atuais levem o mundo a um aquecimento de cerca de 2,7ºC, apenas 110 geleiras devem sobreviver na Europa Central até 2100, cerca de 3% do total existente hoje. Se chegar a 4ºC, esse número pode cair para apenas 20.
A geleira emblemática do Ródano, por exemplo, tende a se fragmentar ou desaparecer, enquanto a Aletsch pode se dividir em blocos menores de gelo. Entre 1973 e 2016, mais de mil geleiras já desapareceram apenas na Suíça, tendência que, segundo os cientistas, não dá sinais de desaceleração.
Nos Andes e na Ásia Central, cerca de 43% das geleiras poderiam resistir com um aumento de 1,5ºC. Com 4ºC, porém, as perdas ultrapassariam 90%. Nas Montanhas Rochosas, nos Estados Unidos e no Canadá, quase todas as geleiras desapareceriam.
O levantamento indica que não há mais áreas do planeta onde o número de geleiras esteja estável. Nem mesmo o Karakoram, na Ásia Central, região que apresentou crescimento pontual de algumas geleiras no início dos anos 2000, deve escapar do processo de derretimento acelerado.

Ciência e Saúde
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