
Entre brindes, contagens regressivas e promessas de recomeço, o ano-novo também deixa rastros menos celebrados nas prateleiras das farmácias. Um desses sinais aparece logo após a virada: o aumento expressivo na procura por contracepção de emergência. Longe de ser apenas uma curiosidade estatística, o fenômeno revela como as dinâmicas das festas de fim de ano impactam diretamente o comportamento sexual e os riscos associados a ele.
De acordo com um estudo publicado na edição de Natal do British Medical Journal (BMJ), as vendas de anticoncepcionais de emergência nos Estados Unidos sobem cerca de 10% na semana seguinte ao ano-novo. O dado sugere que o período está associado a um maior número de relações sexuais desprotegidas quando comparado a outros feriados ao longo do ano.
A pesquisa analisou dados de vendas do levonorgestrel — medicamento conhecido popularmente como “pílula do dia seguinte” — entre 2016 e 2022. Disponível sem prescrição médica e sem restrição de idade desde 2013 nos EUA, o levonorgestrel é mais eficaz quando ingerido o quanto antes após a relação sexual sem proteção, podendo agir até 96 horas — e possivelmente até 120 horas — depois do ato. Por isso, o acesso rápido ao medicamento é considerado crucial.
Os pesquisadores concentraram a análise na semana posterior à véspera e ao dia de ano-novo, utilizando dados de grandes redes varejistas, como supermercados, farmácias, lojas de departamento, clubes de compra, lojas populares e estabelecimentos militares. Para ajustar os resultados ao tamanho da população em risco de gravidez, as vendas semanais foram divididas pelo número de mulheres entre 15 e 44 anos.
O resultado foi um aumento médio de 0,63 unidade por mil mulheres nessa faixa etária logo após o réveillon. Em números absolutos, considerando as estimativas populacionais de 2022, isso representou cerca de 41 mil pílulas adicionais vendidas naquele ano apenas nesse curto intervalo.
Outros feriados também apresentaram elevação na procura por contracepção de emergência, embora em menor escala. O Dia dos Namorados registrou um aumento de 0,31 unidade por mil mulheres — cerca de metade do observado no ano-novo. Datas como Dia das Mães, Dia dos Pais e Páscoa, por outro lado, não mostraram variações significativas nas vendas.
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Segundo os autores, a virada de ano reúne uma combinação de fatores que ajuda a explicar esse pico: celebrações marcadas por maior consumo de álcool, aumento da atividade sexual, menor uso de métodos de proteção, além de acesso limitado a clínicas, consultórios médicos e lojas devido aos horários reduzidos durante o feriado. O período também é associado a taxas mais elevadas de violência sexual, o que reforça a vulnerabilidade reprodutiva nesse contexto.

Ciência e Saúde
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