
Em um país onde a maternidade está sendo cada vez mais adiada, planejar deixou de ser sinônimo de ansiedade e passou a representar controle e tranquilidade. Para muitos casais, pensar em como engravidar em 2026 é também uma forma de transformar o fim de ano em ponto de partida. Entre brindes e resoluções, talvez essa seja uma das metas mais importantes — e mais cuidadosas — para o futuro próximo.
Dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítistica (IBGE) em junho deste ano, mostram que as brasileiras estão tendo menos filhos e adiando a maternidade. A taxa de fecundidade caiu para 1,55 filho por mulher — bem abaixo do nível de reposição — e a idade média para engravidar subiu de 26,3 anos, em 2000, para 28,1 anos em 2022, tendência observada em todas as regiões do país. No Distrito Federal, os índices estão entre os menores do Brasil.
Para quem mira 2026, o consenso entre especialistas é que o preparo começa agora. “O planejamento pré-concepcional não é apenas uma consulta; é o primeiro ato de amor e cuidado com o seu futuro bebê”, afirma a ginecologista e obstetra Lucila Nagata. A lógica é simples, mas exige disciplina. Embora o corpo feminino possa responder rapidamente às tentativas de gestação, mudanças metabólicas profundas não acontecem da noite para o dia.
Segundo a médica, o intervalo ideal de preparo varia de seis meses a um ano. Lucila ressalta que esse é o tempo necessário para tratar doenças silenciosas, ajustar o funcionamento hormonal, reduzir processos inflamatórios e otimizar níveis de vitaminas e minerais essenciais para a gravidez. “Não basta estar dentro da média do laboratório, precisamos de níveis realmente adequados para uma gestação saudável”, explica Lucila
Nesse novo planejamento, até detalhes antes considerados secundários ganham protagonismo. Um deles é a suplementação da vitamina B9, fundamental para a formação do sistema nervoso do bebê nas primeiras semanas de gestação, muitas vezes antes mesmo de a mulher saber que está grávida. O tradicional ácido fólico, forma sintética da vitamina, começa a ser substituído pelo metilfolato, versão ativa e pronta para absorção pelo organismo. De acordo com a médica, a mudança se explica por fatores genéticos: uma parcela significativa das mulheres tem dificuldade de converter o ácido fólico em sua forma utilizável. Para essas pacientes, o metilfolato surge como alternativa mais eficaz. Segundo a ginecologista trata-se de uma “escolha de excelência” para quem quer engravidar com mais segurança.
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O adiamento da maternidade, tendência confirmada pelos números do IBGE, traz desafios adicionais para mulheres acima dos 40 anos. Nessa faixa etária, conforme explicou Lucila, o relógio biológico se torna mais rigoroso. Se a gravidez não acontece após seis meses de tentativas, a recomendação da médica é buscar ajuda especializada sem demora. Exames como o Hormônio Antimülleriano (AMH), que avalia a reserva ovariana, ajudam a definir estratégias mais precisas. O uso de antioxidantes, como a coenzima Q10, também aparece como aliado para melhorar a qualidade dos óvulos e aumentar as chances de uma gestação segura.
Outro ponto que entra no radar de quem planeja 2026 é o método contraceptivo utilizado no presente. Para quem faz uso método contraceptivo, Lucila orienta a interromper o método com antecedência, utilizar preservativos por alguns meses e observar o ciclo natural antes de iniciar as tentativas efetivas de gravidez. A médica ainda esclarece que o retorno da fertilidade após a interrupção do uso método contraceptivo varia conforme o método. "Se você usa pílula, anel ou DIU, a recomendação é interromper o uso alguns meses antes de começar as tentativas. Para métodos hormonais orais, a fertilidade costuma retornar no ciclo seguinte. No entanto, para quem usa injetáveis trimestrais, o corpo pode levar até um ano para restabelecer a ovulação regular", explica.
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O planejamento, no entanto, não se restringe ao corpo feminino. A ginecologista ressalta que o estilo de vida do casal também pesa — e muito — nas chances de uma gestação bem-sucedida. Cigarros, inclusive os eletrônicos, e bebidas alcoólicas estão na lista de hábitos que devem ser abandonados. Eles afetam tanto a qualidade dos óvulos quanto a dos espermatozoides. “A saúde do espermatozoide é influenciada diretamente pelo estilo de vida dele nos três meses anteriores à concepção”, reforça Lucila, lembrando que a produção dos gametas masculinos é contínua e sensível a fatores como estresse, alimentação e consumo de substâncias tóxicas. A mensagem é direta: o parceiro não é coadjuvante, mas parte essencial do processo.

Ciência e Saúde
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