
Por Alexandre Knopfholz* — Uma família que descansava tranquilamente é surpreendida com o barulho de gritos e tiros. Sua casa é invadida. São violentamente sequestrados. Pouco tempo depois, mãe e filhos (de quatro anos e nove meses, respectivamente) são assassinados, com requintes de crueldade.
Depois de mais de um ano, após uma troca de reféns por presos, o pai é libertado e os filhos e sua esposa são devolvidos em caixões, após repugnante cerimônia de entrega, em um indescritível show de horrores. Não bastasse tudo isso, um dos corpos entregues não é de um dos membros da família. Não é de qualquer refém.
Após tal descoberta, o sequestrador admite tal fato, justificando que o corpo faltante teria sido "perdido" em razão de um bombardeio. Essa é a história da família Bibas. Sequestrada, torturada e assassinada pelo Hamas, que queimou bebês em fornos de microondas. Que estuprou mulheres na frente de seus pais. Que disparou tiros na cabeça de idosos que dormiam em suas camas.
Surreal. Escárnio. Abominável. Animalesco. Desumano. Faltam adjetivos.
Estive na casa dos Bibas no ano passado. Do que mais me lembro é o balanço vazio, embalado pelo vento que soprava no Kibutz Nir Oz, no sul de Israel.
Há quem justifique isso. Afinal, "se trata da resistência palestina contra um país colonizador" (o que colonizou, se todo o seu entorno é de países árabes?).
É uma luta contra o "genocídio" israelense (questiona-se: Israel estava em Gaza quando do ataque do grupo terrorista em 2023?).
Comentaristas de plantão — que nada sabem da história da região —, pessoas ideologicamente comprometidas e antissemitas bradam: "E as crianças palestinas?"
Suas mortes são igualmente deploráveis. A dor de seus pais é a mesma dos pais israelenses. Dói igual. Pouco importa que não se enxergue que a população palestina é tão vítima do Hamas que Israel. Que mulheres e crianças funcionem como "escudos humanos". Que o grupo terrorista não repasse à população verbas destinadas à sua sobrevivência. Que hospitais se transformem em quartéis-generais. Não é esse o ponto.
O ponto é: por que aqueles que criticam a política de Israel nada falam da família Bibas ou de tantas outras famílias vítimas da barbárie terrorista?
Por que defender os "atos de resistência" e silenciar diante de atrocidades do Hamas? Por que não se vê, nas redes sociais, o mesmo sentimento de indignação que se tem por qualquer "ato" do governo israelense? Por que os poderes constituídos usam dois pesos e duas medidas? Por quê?
Não se espera racionalidade daqueles que já perderam a humanidade faz tempo. Não surpreende a atitude do Hamas na entrega dos corpos da família Bibas. Surpreende, sim, o silêncio do mundo. O silêncio ensurdecedor. A omissão. Não só aquela deliberada, cega pela ideologia e pelo poder do discurso. Também a omissão da indiferença. Daqueles que acham que o problema não é deles.
Fica, no íntimo de cada judeu, uma inevitável sensação de déjà vu.
*Advogado e presidente da Federação Israelita do Paraná