Visão do Direito

Crescimento da IA e demanda por energia: a expansão dos data centers

"Em um mundo atento e empenhado na descarbonização da economia, a disponibilidade de energia proveniente de fontes renováveis e de baixo custo também se mostra crucial para a operação eficiente e sustentável dos centros de processamento de dados"

"Se, por um lado, a demanda criada pelos data centers impõe desafios relativos à expansão e à confiabilidade da rede, por outro, o crescimento desse novo nicho revela uma excelente oportunidade para agentes do setor de energia" - (crédito: Pixabay)

Por Luiza Sato, Ligia Schlittler e Danilo Sousa* — O impulsionamento da inteligência artificial (IA) transformou todos os setores da economia, estimulando inovações que redefinem processos e serviços. Mas essa revolução tecnológica tem um custo oculto: o aumento exponencial na demanda por energia pelos data centers — estruturas essenciais para processar e armazenar informações em escala global que operam ininterruptamente.

Segundo white paper publicado em dezembro pela consultoria Thymos Energia, o consumo de energia elétrica global dos data centers em 2022 foi estimado entre 240 e 340 TWh, representando de 1% a 1,3% do consumo total, podendo alcançar 2% (460 TWh) acrescentando-se as atividades de mineração de criptomoedas e de rede de dados.

Historicamente, esses centros foram instalados em países frios, como a Finlândia, onde o clima ajuda a reduzir os custos de refrigeração. No entanto, essa solução geográfica não resolve completamente o problema ambiental, pois a origem da energia utilizada ainda é um fator crucial para limitar emissões de carbono.

Dessa forma, em um mundo atento e empenhado na descarbonização da economia, a disponibilidade de energia proveniente de fontes renováveis e de baixo custo também se mostra crucial para a operação eficiente e sustentável dos centros de processamento de dados.

O Brasil desponta como alternativa promissora para a instalação de data centers sustentáveis, graças à sua matriz energética renovável. Segundo Balanço Energético Nacional de 2022, divulgado pela EPE, 88% da energia elétrica gerada no Brasil veio de fontes limpas, o que coloca o país na posição estratégica para abrigar centros de processamento de IA, reduzindo o impacto climático.

Espera-se que o setor de data centers no Brasil movimente mais de R$ 60 bilhões até 2030, evidenciando um mercado em franca expansão. Isso reflete o interesse global em fontes energéticas mais limpas e a necessidade de infraestrutura tecnológica robusta e sustentável.

A recente aprovação do projeto de lei sobre a regulamentação da IA pelo Senado reforça a importância de considerar não apenas os aspectos éticos e jurídicos, mas também os impactos ambientais associados à tecnologia. Paralelamente, iniciativas voltadas para práticas mais eficientes, como sistemas de refrigeração avançados e geração própria de energia renovável, estão se tornando diferenciais competitivos. Nesse cenário, o Brasil oferece oportunidades de negócios significativas para empresas tecnológicas.

Se, por um lado, a demanda criada pelos data centers impõe desafios relativos à expansão e à confiabilidade da rede, por outro, o crescimento desse novo nicho revela uma excelente oportunidade para agentes do setor de energia. Apesar disso, é relevante que os potenciais impactos ambientais associados aos data centers sejam adequadamente avaliados e, conforme o caso, mitigados, à luz da legislação ambiental aplicável. O uso de geradores e o armazenamento de combustíveis, de recursos hídricos e o gerenciamento de resíduos sólidos são temas que merecem atenção.

*Sócios de TozziniFreire Advogados, das áreas de Tecnologia, Energia e Ambiental, respectivamente

 


Opinião
postado em 06/03/2025 04:00
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