Entrevista

"Precisamos flertar cada vez mais com o streaming", diz Cibele Amaral

A brasiliense estava preparada para lançar 'Rir para não chorar', parceria com a Elo Company, nos cinemas, quando a pandemia adiou a estreia do longa-metragem

Adriana Izel
postado em 31/07/2020 08:00
 (crédito: Elo Company/Divulgação)
(crédito: Elo Company/Divulgação)

A cineasta brasiliense Cibele Amaral viu os projetos mudarem de rumo com a chegada da pandemia do novo coronavírus. Neste ano, a expectativa era grande para o lançamento de Rir para não chorar, filme que produziu com apoio do Selo Elas da Elo Company, que ajuda projetos audiovisuais encabeçados por mulheres, além de outras obras: um filme e mais uma série, todos adiados até então.

Em entrevista ao Correio, a diretora relembra a trajetória no cinema, fala sobre os projetos que foram adiados na quarentena e reflete sobre o futuro do audiovisual no aspecto nacional e também local. Confira!

Entrevista // Cibele Amaral

Rir para não chorar foi gravado em 2018 e está finalizado. Você tem perspectiva de lançamento do filme?
Estamos aguardando o mundo voltar um pouco ao normal para prospectar esse lançamento. O filme merece um lançamento bacana. É uma comédia sobre o luto, ousada, diferente, divertida e emocionante. O elenco está maravilhoso, conseguimos juntar Rafael Cortez, Fafy Siqueira, Serjão Loroza, Mariana Xavier, Catarina Abdala e tantos comediantes bacanas que compõem esse time. As pessoas vão gostar.

Você teve trabalhos afetados na quarentena?
Um monte! Estou com dois longas e uma série para filmar e não sabemos quando poderemos fazer isso. Além disso, temos um calendário de participações em Festivais e eventos de mercado audiovisual que não pode ser cumprida por causa da pandemia. Alguns migraram para virtual, isso vai ser uma experiência interessante. Aproveitei para dar uma guinada nos roteiros, que não dependem da presença física, realmente. E também estou estudando como uma louca! Fazendo cursos de roteiro, de fotografia, de poesia! E dando cursos também. Está intenso esse isolamento.

Como tem sido esse período de quarentena?
Tenho sorte de morar numa chácara, no Córrego do Urubu. Tenho muito verde e sossego em volta. Mas é sofrido ver meu filho de 10 anos isolado dos amigos. Outro dia, não aguentamos e fomos ao Drive in encontrar alguns amiguinhos. Ficaram perto, mas com máscaras e sem se encostar. É um período tenso para todos nós. Mas tem um lado interessante, tenho refletido bastante sobre a necessidade que a gente tinha de fazer tantas reuniões e atividades fora de casa, porque algumas funcionam muito bem à distância. Acho que ficará essa lição.

Como enxerga que o cinema possa ter sua retomada em meio à pandemia?
Precisamos flertar cada vez mais com o streaming. Fazer lançamentos casados nas salas e nas plataformas. Criar eventos para os lançamentos on-line que simulem a experiência coletiva e interativa. Temos que nos reinventar.

Como vê o cenário audiovisual em Brasília?
Passamos por uma crise quando houve o anúncio do cancelamento do Festival de Brasília, recentemente, e que foi contornado. Isso foi importante, até simbolicamente. Precisamos continuar existindo. Brasília começou a aparecer para o mercado audiovisual nos últimos anos. Isso não foi à toa, foi graças à política audiovisual que vinha se desenvolvendo de 2013/2014 até 2018. Os recursos do FSA, os Arranjos Regionais, os editais para TVs com cotas para região Centro-Oeste e o FAC proporcionaram uma alavancada de produtoras da região, começamos a dialogar com o mercado. Agora, tudo isso está ameaçado. No âmbito federal por causa de uma crise de administração que tomou conta da Ancine e no DF, pelas incertezas que a pandemia traz. Mas precisamos sensibilizar os governantes, porque a cultura tem papel fundamental para a saúde da população nesse momento. É a cultura que pode trazer esperança, resiliência, força, sentimento de pertencimento, alegria,

Desde o ano passado o cinema vem sofrendo com a suspensão de verbas e, agora, com a pandemia, a tendência é piorar. Que caminho acha que é possível seguir?
Não temos muito como seguir outros caminhos, porque como eu disse, era um bebê que estava começando a andar, mas que não consegue ainda caminhar sozinho. Está quase lá! Precisamos ainda do incentivo do Estado para potencializar nossas empresas e disputar um lugar nesse grande mercado que está cada vez maior e mais próspero, o mercado audiovisual. Claro que estamos conversando com esse mercado e conseguindo emplacar nossos produtos, mas um indutor do governo é muito necessário ainda.

Você foi uma das cineastas aprovada no projeto Selo Elas da Elo Company. O quanto participar desse projeto foi positivo para sua trajetória?
O Selo Elas, até onde eu saiba, foi a primeira ou uma das primeiras iniciativas no Brasil para trazer protagonismo feminino ao audiovisual brasileiro. Entrar para esse grupo de mulheres selecionadas para empreender, junto com a Elo Company, essa tarefa de potencializar a presença das mulheres na geração de conteúdo narrativo para nossas obras, é uma honra. A escolha, por si só, já representa uma aprovação, um reconhecimento do talento que nem sempre vem fácil para as mulheres, e principalmente para as mulheres “distantes” do eixo Rio e São Paulo, como é o meu caso. Fiz a opção de permanecer em Brasília e tocar minha carreira daqui, o que é um grande desafio. Em segundo lugar, o Selo Elas contribuiu para melhorar o projeto como um todo. Num primeiro momento, tive uma consultoria da Sabrina Nudeliman Wagon, sócia e CEO da Elo Company, que ajudou a transformar o filme numa obra muito mais potente. Depois, tive consultoria da Bárbara Sturm e a equipe do Selo Elas na fase de roteiro, filmagem e montagem. Nada invasivo, tudo muito construtivo. Tem sido ótima essa parceria! Estiveram presentes o tempo inteiro, sempre disponíveis para ajudar e pensar em soluções. O Selo também traz oportunidades nos mercados audiovisuais, na mídia especializada, na mídia em geral. E proporciona a troca de experiência entre essas mulheres interessantes que fazem parte do projeto.

Sobre a sua trajetória em Brasília no cinema, como tudo começou?
Uau! Tudo começou, eu acho, aos 10 anos de idade quando fiz minha primeira apresentação teatral. Uma peça que escrevi na escola e que foi apresentada na Livraria Arco Íris, na época. Nunca mais parei de fazer arte. Aos 12 já fazia teatro profissional como atriz, aos 19 fui para Itália estudar teatro, me formei. Foi lá que fiz cinema pela primeira vez com uma pequeníssima participação num filme do Ettore Scola que depois foi cortada na montagem (risos). De volta a Brasília, fiz o primeiro curta do José Eduardo Belmonte, grande parceiro de muitos outros filmes, inclusive como produtor e ator no meu curta Momento trágico, que recebeu prêmios Brasil e mundo afora. Meu primeiro longa, Um assalto de fé, foi quase todo filmado em Brazlândia, com um elenco excepcional de comediantes e atores, atrizes da cidade: André Deca, Chico Sant’ana, Adriana Lodi, Jovane Nunes, Lauro Montana e o Alexandre Carlos, líder da banda Natiruts, que está incrível como protagonista. Agora, trabalho com a 34 Filmes, do produtor e compositor musical Patrick de Jongh, super parceiro de dezenas de projetos. Além do Rir para não chorar, vamos lançar o drama Por que você não chora, protagonizado por Carolina Monterosa e Bárbara Paz, esse filme também está pronto, esperando a pandemia passar. Sou bastante atuante na política audiovisual também, porque é necessário.

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