Cinema

Filme póstumo de Andrade Junior mostra o ator em forma visceral

Longe do eterno jeito bonachão, Andrade Junior promete surpreender, no filme pernambucano 'King Kong en Asunción' que disputará troféus no Festival de Gramado

Ricardo Daehn
postado em 29/08/2020 06:00
 (crédito: Aurora Cinema/Divulgação)
(crédito: Aurora Cinema/Divulgação)

Um dos longas-metragens selecionados pelo Festival de Cinema de Gramado, marcado para fins de setembro, King Kong en Asunción vem embebido, entre as diversas pronúncias latinas empregadas no road movie (rodado com equipe de cinco países), com um sotaque candango eternizado pelo ator Andrade Junior, que, morto em 2019, estará nas telas de streaming e do Canal Brasil (exibidor dos filmes, na grade de programação). “Tem significado especial, o Andrade brilhar nas telas, com toda a força de uma interpretação magistral. Ele irradiava, esbanjava afeto. Sem ele, se perde coragem, e se perde uma voz que bradava forte em torno da arte”, demarca o diretor do filme, o pernambucano Camilo Cavalcante.

O ator, na ótica do diretor Camilo, apresenta o que está em muitos artistas de países integrados à produção, entre os quais Bolívia, Paraguai, Colômbia e Argentina. “No filme, ele carrega um papel profundo, dramático como talvez nunca tenha feito no cinema com tanta intensidade. Em certa medida, Andrade amplifica a resistência da cultura e do cinema, num momento em que a arte no Brasil está sendo jogada às traças”, desabafa Cavalcante. O novo filme é dramático, com metáforas sobre as relações humanas e políticas na sociedade.

King Kong en Asunción conta a história de um matador envelhecido, em crise existencial profunda, e que não vendo lógica no cotidiano violento, sai à caça do paradeiro de desconhecida filha. Há metamorfose, no caminho: “Ele quer deixar a casca de maldade, quer se tornar um homem bom”, esclarece Camilo Cavalcante. Narrado pela morte, em guarani, o longa aposta um tanto em carga literária, conta com momentos mais leves, mas o humor é ácido, duro e sarcástico. “Foi feito para pensar e sentir. O Andrade fala em portunhol. Mas, muito mais, com o corpo, com o olhar e com a performance”, adianta o cineasta.

“Com o humor impregnando os intervalos do filme, Andrade foi a energia, o sol do filme. Com toda a simplicidade e disponibilidade dele”, aponta Cavalcante. Filmado em 2017, com o candango — “que na origem, traz o DNA do Ceará e do Nordeste”, nas palavras de Cavalcante —, King Kong en Asunción traz promessa de respiro futuro do cinema. “No Festival de Gramado, Andrade reviverá nas telas em todo o Brasil, em sessão única e inaugural. Depois, quero vê-lo renascer nas telas do cinema, quando eles voltarem a funcionar”, conclui.

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