O músico e compositor Preto Cosmo lançou, no último domingo (30/8), o videoclipe da música Manifesto, que dá o pontapé para a carreira solo do artista. Ao longo dos 25 anos de vida, o artista de rua vagou por muitas cidades e projetos culturais do Distrito Federal antes de se fixar, há pouco mais de um ano e meio, no bairro Santa Lúcia, de Águas Lindas de Goiás (GO), com a companheira, Danúbia Mendes, e a filha de quatro anos.
Preto é fundador do coletivo musical Cosmologia Preta e acompanhou as artistas Nãnan Matos e Rosa Luz antes de, entre 2017 e 2018, começar os trabalhos que dariam origem a essa nova etapa da carreira.
Manifesto surgiu da ideia de uma colaboração entre Preto, como cantor e letrista, com o músico, fotógrafo e produtor audiovisual Ian Oliveira e o beatmaker Beats by Velhot. Num primeiro momento, o som foi liberado no YouTube ilustrado por uma foto de Ian, que começou a fazer um mestrado e não pode continuar no projeto. No ano passado, Preto convidou o músico e produtor audiovisual Tiago Oliveira para dar seguimento ao clipe.
Tiago é guitarrista da banda de Hardcore SBxDF, integrante do Cosmologia Preta e, agora, guitarrista de Preto Cosmo na nova empreitada, além de assinar a edição do clipe com a Bronca Produções. O trabalho conta com imagens da Batalha da Conquista, realizada pelo Project Sagaz na Praça da Conquista, no Santa Lúcia, feitas por Davi Félix; do Acampamento Terra Livre, registradas em 2019 por Webert da Cruz; e do cantor, captadas por Tiago na ocupação conhecida como Green Ville, em São Sebastião, e na Praça Zumbi dos Palmares, no Conic.
A letra enaltece a resistência do povo preto ao longo dos séculos e conclama a população negra ao combate, trazendo isso no primeiro verso: “Unificai-vos, povos autóctones e pan-africanistas!”. Frase dita, para variar, com a voz profunda, melódica e ancestral do artista, característica marcante do trabalho. Já nos versos “E quando a resposta chegar/ Se pá, o opressor não entenderá, como pode se libertar/ Da hipnose, lugar de esquecimento/ Uma voz disse: Corra! (Get out!)”, o compositor cita o filme Corra!, do diretor Jodan Peele.
Próximos projetos
Outros trabalhos estão no prelo, com predominância de diversos outros estilos além do rap apresentado em Manifesto. O próximo videoclipe, da música Caboclo guerreiro, contará com participações de William Costa, ator da Samambaia que vem despontando em produções da Globo e da HBO, como Segunda chamada e Pico da Neblina, além de Brunna Valverde e Yalodê Silva, estudantes de artes cênicas da Faculdade Dulcina de Moraes, e dos dançarinos Sano, Barber Silva, Ronald da Silva e Douglas Nascimento.
Um feat afrofuturista com a cantora Garnet e uma música em inglês, ambos com os primeiros beats produzidos pelo próprio Preto, também estão na lista de lançamentos dos próximos meses. A ideia é trabalhar uma série de singles e depois trabalhar em um álbum.
Trajetória
Preto já morou em tanta casa que nem se lembra mais. Frase dita por ele, sem qualquer alusão ao verso de Renato Russo. “(Até então) Nunca consegui me firmar. Sempre colei com todo mundo de várias quebras, e em várias quebras. Mas nunca morei no Plano, nem pelas beiradas”, conta o músico, que nasceu no Plano Piloto e teve que perguntar para a mãe para saber que, logo depois que ele nasceu, a primeira cidade em que moraram foi Taguatinga.
Começou a caminhada na igreja cantando música gospel, mas depois aderiu à cena hardcore e, em 2011, se tornou vocalista da banda punk Antifarda. Em 2013, o grupo se desmanchou e, em setembro do mesmo ano, Preto subiu ao palco pela primeira vez para tocar reggae e MPB ao violão, no evento Domingo no Parque, em São Sebastião. A partir dessa época começou a desenvolver as próprias composições.
Em 2014, uniu-se a alunos e frequentadores do entorno da Faculdade Dulcina de Moraes no coletivo Ruarte, que oferecia poemas aos transeuntes e aceitava colaborações em dinheiro. Com o colega de coletivo Tarcísio Reis começou a desenvolver um trabalho musical dentro dos ônibus, como músicos de rua, e, de cidade em cidade, chegaram em São Luís, no Maranhão, trocando arte por comida, hospedagem e dinheiro para as passagens.
Em 2017, fundou o coletivo musical Cosmologia Preta, e trocou o nome de Preto X -- pois já havia um artista de São Paulo que usava o mesmo nome -- para Preto Cosmo. No mesmo ano, começou a fazer backing vocals para a rapper e multiartista Rosa Luz, com quem se apresentou em grandes festivais daquele ano, como o Favela Sounds e o Latinidades, e no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. Também participou de uma Cypher (música feita coletivamente por rappers) no primeiro EP da artista.
Em 2018, iniciou uma parceira com Nãnan Matos, com quem se apresentou pela primeira vez no Clube do Choro, e, depois, na Caixa Cultural. No carnaval de 2020, acompanhou a artista no bloco É de Nãnan, no Setor Carnavalesco Sul, e na Praça dos Prazeres.
Como os colegas de Cosmologia Preta, que ainda está na ativa, mas em outro ritmo por causa da pandemia, Preto está mais concentrado em desenvolver o trabalho individual, e afirma que deixou os dias de nomadismo para trás. “Não tem muito a ver com o Preto de hoje. Tem mais a ver com o Preto do passado, que deu altos rolês e pegou BR. Agora estou em um momento mais de construir e firmar o meu pé”, explica o artista, que está esperando o segundo rebento e construindo casa em um terreno próprio, tanto na vida quanto na música.
*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel
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