O substantivo flecha foi escolhido para nomear a exposição do artista plástico brasiliense Renato Rios que está em cartaz até 27 de outubro na Galeria Karla Osório. Ao todo, são cerca de 42 trabalhos, entre pinturas a óleo e desenhos, distribuídos no pavilhão e na sala anexa do espaço.
Do título da mostra aos detalhes das obras, a pungência reverbera nas cores escolhidas pelo artista, na expografia e abre espaço para reflexões e questionamentos pessoais. "Essa é minha grande intenção, fazer frente a esse grande medo", acrescenta Rios citando o sentimento que rodeia a sociedade contemporânea.
A exposição foi planejada, inicialmente, para dezembro do ano passado. Contudo, entre a chegada de Aurora, primeira filha do artista, e a pandemia do novo coronavírus, Flecha se concretizou no final de setembro. "Uma marca bem especial dessa exposição é uma certa espiritualidade, tem um forte apelo para a contemplação. Isso é bem visível nas obras. Elas estão envolvidas em uma atmosfera bem de concentração, de ordem. Talvez essa seja uma boa palavra para o conjunto do trabalho, a ordem, mas é uma ordem das emoções, do intelecto”, explica Rios. Para o artista, a pandemia foi um período que exigiu esse trabalho de olhar interior, um trabalho mental, “de repensar muitas coisas e se recolocar diante da vida e da sociedade”, complementa.
Percorrer a expografia da mostra é também desvendar o processo criativo do artista plástico. Nos trabalhos, Rios parte do desenho para a pintura à óleo. Dos vislumbres que ganham forma nos traços às telas maiores que fazem frente ao espectador e se apresentam como corpos vibrantes. Rodrigo Cruz, que assina a curadoria da exposição, explica que a escolhas das obras e a dinâmica foram propositais, para provocar o espectador com um ritmo de caminhada e de passeio. “É uma orquestração desse corpo que passeio na galeria”, resume.
Além disso, a correspondência com a materialidade e o espaço se dá, nas obras e na exposição, pelo uso das cores. Como o próprio artista plástico explica, a cor, em seus trabalhos, se torna espaço. “Então, acho que eu tenho um cuidado muito grande com as cores que eu crio, vejo algumas chaves de polaridades, o azul e o vermelho como se tivessem em polaridades distintas, o branco e o preto. Essa exposição também traz uma novidade que é o uso do verde que eu não utilizava muito no meu trabalho, mas foi uma decisão muito significativa, tem uma intenção muito forte. Ele entrou nesse momento que a gente está vivendo de necessidade de uma cura do coletivo, tem uma relação por eu ter passado a quarentena com a minha filha recém-nascida, vendo essa vidinha florescendo, nascendo. Foi uma cor que se manifestou como um novo aspecto da interioridade que eu vivo”, esclarece.
Para o curador, era esse olhar místico e espiritual com a pintura, bastante introspectivo do artista, que a exposição precisava trazer. “É um trabalho que tenta alimentar a subjetividade. A mostra dialoga com essas instâncias e tenta proporcionar isso ao espectador”, comenta Cruz.
Guerreiro
Na sintaxe visual que Renato Rios cria, o artista também adiciona questões simbólicas ligadas aos arquétipos do mestre, do visionário, do curandeiro e do guerreiro. “São como estruturas do nosso ser que uma hora se manifestam mais ou menos. O grande veneno que existe na vida é o medo. Então, neste momento da pandemia, me revesti no arquétipo do guerreiro para manter a firmeza dentro da minha casa e trazer isso para os meus”, detalha.
O curador vê essa construção simbólica de Rios como uma espécie de atravessamento de imagens, de tempo, de culturas diferentes. “Está no próprio nome da exposição e é o que esperamos fazer neste momento, passar por tudo de uma forma ativa e com a menor perda possível e com a maior sagacidade possível. Politicamente é tudo muito complicado o que estamos vivendo. A exposição oferece como resposta a tudo isso uma experiencia solene, de beleza, de se deixar levar pela pintura, pela luz, pelas coisas que estão na percepção primária. É um despertar”.
Reabertura
Flecha marca também a retomada oficial da Galeria Karla Osório após a reabertura de alguns museus e equipamentos culturais da cidade. É a primeira exposição presencial que a galeria realiza. O espaço já funcionava com visita com hora marcada. Contudo, agora, é possível fazer o agendamento por um formulário disponível on-line.
Até 14 de novembro, o público poderá conferir ainda a mostra Acervo – Entre pinturas e desenhos, com obras de 13 artistas brasileiros contemporâneos na Referência Galeria de Arte, na Asa Norte. Depois de mais de seis meses de portas fechadas, com atividades virtuais, a galeria reabre para uma exposição presencial na qual reúne trabalhos de Alex Cerveny, Carlos Vergara, Clarice Gonçalves, Diô Viana, Fernando Lucchesi, José Roberto Bassul, Patricia Furlong, Paulo Whitaker, Pedro Gandra, Raquel Nava, Veridiana Leite e Walter Goldfarb. As obras também estão expostas em ambiente digital, Facebook e Instagram, com informações técnicas e valores.
Serviço
- Flecha
Do artista plástico Renato Rios com curadoria de Rodrigo Cruz. Na Galeria Karla Osório, no Lago Sul. Até 27 de outubro. Agendamento de visitas pelo formulário on-line. - Acervo – Entre pinturas e desenhos
Mostra coletiva com obras de Alex Cerveny, Carlos Vergara, Clarice Gonçalves, Diô Viana, Fernando Lucchesi, José Roberto Bassul, Patricia Furlong, Paulo Whitaker, Pedro Gandra, Raquel Nava, Veridiana Leite e Walter Goldfarb.
Na Referência Galeria de Arte, no CLN 202 Bloco B Loja 11, no subsolo. Até 14 de novembro, de segunda a sexta, das 10h às 18h e sábado, das 10h às 14h.
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