MÚSICA

Novo álbum de Marcelo D2 explora momento político e ancestralidade

Segundo o músico, ‘Assim tocam os meus tambores volume 2’ canta um Brasil diferente do que se apresenta nestes últimos anos. Processo de gravação do novo álbum foi mostrado em lives

Pedro Ibarra*
postado em 26/05/2021 06:00 / atualizado em 26/05/2021 10:10
 (crédito: Wilmore Oliveira/Pupila Dilatada/Divulgação)
(crédito: Wilmore Oliveira/Pupila Dilatada/Divulgação)

“O Brasil é muito legal, não é isso daí que nós estamos vendo”, a partir dessa frase, Marcelo D2 conceituou Assim tocam os meus tambores volume 2, o novo álbum que o rapper está trabalhando. O artista terminou, no último domingo, uma série de 10 dias de lives na plataforma Twitch, em que mostrou ao vivo o processo de gravação do novo disco.

Marcelo D2 fez um longo estudo para criação da ideia do que seria o sucessor do Assim tocam os meus tambores, lançado em 2020. Nele, passou pela própria ancestralidade, espiritualidade, até chegar em uma ideia final que misturasse isso tudo em um disco que, segundo o compositor, tem a intenção de mostrar o Brasil do jeito que o próprio rapper conheceu.

“O meu país é o Brasil de quando eu era criança, ainda é o país da rabada, do futebol de rua, do samba, da brasilidade, não esses patriotas que levantam bandeira de Israel e Estados Unidos”, explica Marcelo, em entrevista ao Correio. “O país em que as pessoas amam as percussões, o povo, os mais velhos e respeitam o que veio antes. Eu me agarro nisso, e é isso que estou tentando mostrar nesse disco”, completa.

O músico disse que passou por um tempo de muita desilusão com o país e que é necessário sair desse lugar de incertezas. “A gente tem um povo feliz, resiliente”, destaca. “Quero mostrar esse país legal de gente legal, de gente que batuca, que faz comida, que se reúne nas festas populares”, diz sobre o álbum, com lançamento previsto ainda neste primeiro semestre.

Soma-se a essa visão do país, os estudos de Marcelo sobre ancestralidade. “A primeira coisa que eu entendi é que antiguidade e ancestralidade são coisas diferentes. Ancestralidade está aqui e agora, está presente na gente”, conta. Ele passou pela perda da mãe, há aproximadamente dois meses, e também por isso decidiu que o álbum falaria da própria ancestralidade e do tempo passado. “Além de tudo, o disco é um projeto pessoal, de me conhecer, de entender o meu passado, da onde eu vim, estudar minha família”, complementa.

A partir dos estudos e dos conceitos levantados, o projeto Assim tocam meus tambores passou a ser visto por D2 como uma trilogia. “Como no primeiro falei do tempo presente, resolvi falar do tempo passado no volume 2 e do tempo futuro no volume 3”, comenta o rapper, adiantando que espera lançar o terceiro volume ainda em 2021. Ele conta que trabalhar nesse projeto o tirou de um lugar muito difícil. “Pandemia, política, economia, parece que está tudo errado, que desalinhou tudo”, avalia.

Críticas ao governo

O artista é um crítico do atual governo brasileiro, que classificou como “importado do Rio de Janeiro”, cidade em que D2 nasceu e foi criado. “O Brasil virou um grande Rio de Janeiro”, reflete o músico. “O governo do Brasil não está nem aí para quase meio milhão de mortes, assim como o do Rio não estava nem aí para as mais de 20 mortes que aconteceram uns dias atrás”, pontua Marcelo, fazendo um paralelo entre a covid-19 e os mortos no Jacarezinho.

“Chamam todo mundo de vagabundo, exatamente como a milícia faz”, afirma o músico. “A melhor saída para isso tudo é a gente não perder a sanidade. Porque parece que esses caras querem levar a gente para esse lugar sombrio, puxar a gente para escuridão e nós precisamos nos agarrar às coisas boas”, analisa o músico.

O fato de as gravações do disco terem sido transmitidas em lives de aproximadamente oito horas durante 10 dias, deu um outro caráter ao disco, pois aproximou o músico dos fãs. Ao todo, foram 71 horas de live com um total de 1 milhão e 700 mil espectadores não simultâneos em todo esse tempo. “Nada melhor que essa conexão com o público. Foi incrível, me senti abraçado demais”, conta D2.

Segundo o músico, fazer todo processo ao vivo é muito diferente, pois é uma exposição que os músicos não estão acostumados a ter no estúdio. “O que transparece nessas lives é que, apesar de no final o artista estar com o disco pronto, o estúdio é um lugar de muitas decepções. Você tenta muito até acertar. Fazer isso ao vivo é difícil e desafiador”, avalia. Contudo a situação tem o seu contraponto. “Tem toda a exposição, os erros e a fragilidade, mas do outro lado da balança tem o acolhimento, o amor, o carinho” agradece Marcelo.

Esta é a segunda vez que D2 grava o disco dessa forma. Da mesma maneira, o rapper construiu o primeiro volume. No entanto, ele acredita que agora está tudo diferente. “No primeiro, aceitei mais as coisas que estavam vindo. Eu não conduzi, fui conduzido”, lembra. “Esse não, esse eu conduzi”, complementa.

Para fazer tudo acontecer, ele, a esposa, o filho e rapper, Sain, e mais seis amigos, e profissionais da área da música, criaram uma bolha em uma casa na região serrana do Rio de Janeiro. O intuito foi transformar essas lives em um grande festival cultural on-line, com conversas com convidados como o historiador Luiz Antônio Simas, o jornalista e curador Leonel Kaz, a empresária Nicole Balestro, os artistas plásticos Bárbara Quintino e Diego Mouro, a cientista da computação Nina da Hora e os designers Pedro Andrade e Cocker Shoes. Além de setlists de Djs e os próprios momentos de gravação.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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