Produtores musicais focam em estratégia e planejamento para emplacar hits

O Correio ouviu alguns dos principais nomes da atualidade responsáveis pelo sucesso das músicas mais ouvidas no Brasil

» Pedro Ibarra*
» Fernanda Gouveia*
postado em 02/07/2021 06:00
Produtor Marcelo Portuga ao lado de dois artistas que descobriu, Jottape e Kevinho -  (crédito: Suburbano/Divulgação)
Produtor Marcelo Portuga ao lado de dois artistas que descobriu, Jottape e Kevinho - (crédito: Suburbano/Divulgação)

As histórias de artistas que com talento e um smartphone conseguem o sucesso musical do momento são conhecidas do público. No entanto, a cultura dos hits que viralizam nas redes sociais não aposentou o trabalho dos grandes produtores musicais. Ao contrário, a fama gerada, por mais espontânea que seja, até pode ser repentina, mas para permanecer no topo, quase sempre é necessário muito trabalho e estratégias que podem fazer a diferença entre o estrelato e o esquecimento.

No Brasil, algumas produtoras dominam esse mercado e possuem suas assinaturas em importantes conquistas da música nacional.“Sem planejamento e estratégia, você perde o foco ao longo do caminho”, afirma Marcelo Portuga, criador da produtora Portuga Records e cofundador da Kondzilla Records, além de ser o caça-talentos responsável pela descoberta de nomes do funk como Kevinho, Jottape e Kekel. “Reunir uma equipe competente, cada um respondendo por sua área, é fundamental para o resultado final ter êxito. É como um time de futebol comandado por um bom treinador, vence o campeonato quem tiver talento, treino e estratégia”, revela Portuga sobre o processo de bastidores da música.

A produtora Kondzilla ficou conhecida pelo canal do YouTube homônimo. Com mais de 60 milhões de inscritos e um acervo que reúne sucessos como Bum bum tam tam, que chegou a mais de 1,5 bilhão de views, a empresa agencia a carreira de artistas funk de todo Brasil. “Somos um time que deu certo. Em 2017 fundamos a Kondzilla Records, que hoje é referência no mercado e até hoje nosso elenco não para de crescer e “fazer hit”. Mesmo na pandemia, não paramos de trabalhar. Geramos conteúdo o tempo todo. Podemos dizer que o sucesso da Kondzilla Records é resultado de uma gestão inteligente e estratégica”, resume.

Estratégia que permitiu à empresa migrar do funk para o pop. Dessa forma, a marca passou a tocar em todos os lugares. Uma receita que foi seguida por outra importante produtora brasileira, a Hitmaker. “Uma coisa que eu acho que prejudica muito a interpretação do que é o pop é a galera entender que é apenas um gênero musical. A gente não interpreta o pop como gênero e sim como cultura”, avalia Pedro Breder, fundador da produtora, juntamente com André Vieira e Wallace Vianna.

Estratégia de marketing

“A gente percebeu que o funk era a cultura do Brasil, só que muito marginalizado, até por ser de periferia e ser oriundo de classes mais baixas, então vimos o potencial de transformar isso em pop”, explica André. Ele e os sócios mudaram melodicamente o funk para que o gênero chegasse a mais pessoas. O resultado foram sucessos nacionais como Beijinho no ombro, de Valeska Popozuda, Favela chegou, de Ludmilla, e Combatchy, colaboração de Lexa, Anitta, Luísa Sonza e Mc Rebecca. “Acabou se tornando uma estratégia de marketing, não só nossa, mas do funk como um todo, de se renovar e conseguir chegar para a massa de uma forma diferente”, complementa Wallace.

Outro segmento que está nos ouvidos dos brasileiros, o chamado sertanejo universitário, contou com o trabalho do produtor Dudu Borges, o homem por trás de hits como Chora me liga, de João Bosco & Vinícius, Ai se eu te pego, de Michel Teló, Escreve aí, de Luan Santana e Os anjos cantam, da dupla Jorge & Mateus. Ele confessa que antes de iniciar um projeto, procura mapear: “o que as pessoas esperam desse artista? Qual é a mensagem que ele vai passar? Em que momento da vida está?”. Todas essas informações não constam apenas em uma música, mas são trabalhados no álbum inteiro, com uma identidade visual e com a maneira de se comportar do artista. “Trabalhei com muitos nomes que têm um planejamento de carreira intenso. Então, a gente tem que pensar muito antes de dar qualquer passo, por isso, planejar é muito importante”, explica.

Ele acredita que o trabalho de produtor é muito importante e lúcido, até para reconhecer os talentos com que escolhe trabalhar. Além de produtor, Dudu Borges é músico, empresário, compositor, arranjador e multi-instrumentista. Atualmente, os vídeos oficiais das músicas produzidas por ele somam mais de 10 bilhões de visualizações no YouTube, além de colecionar prêmios como o Grammy e o Billboard Music Awards.

Música para o povo

Para muitos empresários, os grandes nomes da música atual ganham notoriedade por estarem próximos de quem os ouve. “O público é o que tem de mais importante, e a gente sabe que quando a gente parar de agradá-lo, ele rapidinho vai embora, ainda mais quando você não é um artista específico e sim uma produtora”, afirma Paulo Alvarez, criador da Pineapple Storm. Paulo criou a empresa como uma marca de roupas de moda urbana, mas aos poucos foi se empenhando em projetos que envolviam música, principalmente rap. “O intuito nunca foi ganhar dinheiro, sempre foi trabalhar com rap, trabalhar com o que eu gostava e viver o sonho”, lembra.

Porém foi por meio desse sonho que o álbum Poesia Acústica, um projeto que reúne diversos artistas do gênero, chega à sua 11ª edição. Além disso, o canal da produtora já atingiu nove milhões de inscritos no YouTube e mais de quatro milhões de ouvintes mensais no Spotify. Tudo isso Paulo atribui ao público “orgânico e natural” que conseguiram. “Surfamos em uma onda, quando não tinha nada. A gente trabalhou sem parar, e calhou de ser na hora certa e do jeito certo”, conta Paulo.

O futuro no streaming

Além do senso de oportunidade e do olhar estratégico, o uso das plataformas de streaming é item obrigatório para o sucesso atual. É essa forma de consumo que permite que os hits tenham vida prolongada para o público. “A tecnologia vem transformando tudo ao nosso redor, no nosso dia a dia e eu acredito que essa pandemia acelerou todo esse processo. A distribuição de conteúdo, o poder de escolha do público e o compartilhamento das músicas, tudo vem mudando numa velocidade acima do esperado”, analisa Marcelo Portuga.

Para Pedro Breder, o Brasil é um gigante no setor. Ele acredita que quando a economia do país melhorar, o mercado de produção musical viverá um momento ainda melhor. “A gente vai se tornar uma das maiores potências musicais do mundo, o Brasil vai ser um polo mundial de streaming”, reflete Pedro Breder.

*Estagiários sob a supervisão de Juliana Oliveira

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