MÚSICA

Três anos após o lançamento do disco de estreia, Xamã é o fenômeno do rap

Aumento da visibilidade nas plataformas digitais turbinou a carreira do artista que é reconhecido como um dos músicos mais relevantes da cena pop

Isabela Berrogain*
postado em 29/10/2021 06:00 / atualizado em 29/10/2021 09:55
O Rapper Xamã é destaque no cenário pop -  (crédito: Guilherme Oliveira Falcão)
O Rapper Xamã é destaque no cenário pop - (crédito: Guilherme Oliveira Falcão)

Com letras que valorizam as origens nas batalhas de rima, o carioca Xamã é um dos maiores fenômenos do rap nacional atual. Com apenas três álbuns na discografia, o primeiro lançado em 2018, o músico é um dos rappers brasileiros mais ouvidos no Spotify, com quase 5 milhões de ouvintes mensais. O sucesso pode parecer repentino, mas a carreira de Xamã começou muito antes do disco de estreia, quando se apresentava nas batalhas de rima.

"A primeira batalha que ganhei, teve um impacto muito grande na minha cabeça", revela Xamã em entrevista ao Correio. "Eu ganhei um porquinho com uma grana, que foi meu primeiro dinheiro com o rap. Nem era tanto assim, mas eu pensei: 'Nossa, acho que eu posso viver disso'. Logo em seguida, eu abandonei meu trabalho e consegui convencer meus amigos que estavam comigo a fazerem o mesmo", relembra.

As batalhas de rima foram, essencialmente, um local de aprendizado para Xamã. "A batalha dá picos de adrenalina que te ajudam para o resto da carreira. Além disso, tem o fator do improviso. Às vezes, o show, a apresentação ou o programa ao vivo dá algo errado, mas você tem aquela coisa de 'eu já fiz uma batalha, sei o que fazer aqui'. Você tem um manual de instruções na sua mente, se tudo der errado, você tem um plano B. A galera que canta comigo no palco é do mesmo ciclo de batalhas que eu, e eles também agem assim. Então, a gente já se fala pelo olhar. A batalha que ensinou isso para gente", conta o rapper. Uma batalha é quando um rapper fica improvisando frente a frente com outro e, quando o adversário perde a rima, também perde a batalha. Foram essas cenas periféricas que ensinaram o carioca a ter presença de palco, usar o microfone e interagir com o público.

O aumento da visibilidade nas plataformas digitais durante a pandemia turbinou a carreira de Xamã. "Não só eu, como muitos outros artistas, tiveram um salto gigante", pontua. Em 2020, o músico lançou o terceiro álbum da carreira, Zodíaco, que conta com a participação de grandes artistas, como Marília Mendonça, Luisa Sonza, Gloria Groove e Agnes Nunes. Em apenas cinco dias de lançamento, o disco ultrapassou 35 milhões de reproduções, ficando entre os 10 álbuns mais ouvidos do Spotify global. No trabalho, o rapper pôde mostrar a facilidade que tem em transitar por diferentes gêneros, explorando o lado pop, roqueiro e funkeiro, além do rap.

Este ano, Xamã colheu os frutos do projeto realizando uma turnê de 10 datas pelos Estados Unidos. Com a viagem, nasceu o Acústico Cancun, trabalho mais recente do rapper. Ao longo de seis faixas, o EP revisita, por meio de releituras, as principais etapas da carreira do músico, além de contar com a inédita Quinta cínica. Apesar de já colecionar diversas parcerias internacionais, Xamã pretende continuar investindo na carreira, se dedicando a aprender inglês e espanhol. "Eu acho que o mundo fala dois idiomas: o amor e a música. Tem o dinheiro também, que está no meio desses dois, mas se eu chegar com suingue e amor, as pessoas vão me entender. Se você escrever com um bom suingue e uma linguagem popular, as pessoas se identificam", destaca.

Recentemente,o rapper foi o único brasileiro a ser indicado à premiação norte-americana BET Hip Hop Awards, concorrendo na categoria de Melhor flow internacional. "Quando você trabalha com o que ama, você colhe os frutos, independentemente de ser na música ou em qualquer outra área", afirma.

"A gente ama tanto o que a gente faz, que, às vezes, nem presta atenção na nossa ascensão. Quando percebemos, já estávamos fazendo discos com parcerias gigantescas no Brasil inteiro, tocando no Rock in Rio", conta o carioca. Xamã passou pelos palcos do festival de música em 2019, recepcionado calorosamente pelo público. A apresentação contou com diversos destaques, como uma batalha de rap entre fãs, homenagem ao músico Chorão e demonstrações de apoio à comunidade LGBTQIA . "O Rock in Rio é um evento gigantesco, eu assistia desde criança. Eu nunca imaginei que fosse tocar em um festival tão grande", admite.

Futuro

Apesar dos lançamentos recentes, do rapper dá os primeiros passos em direção ao próximo capítulo da carreira. "Meu projeto é o Malvadão 3, que é o primeiro single do meu novo disco", explica Xamã. Parte de uma série iniciada em 2017, as cenas do novo trabalho foram gravadas pelas cidades de Los Angeles e Las Vegas, nos Estados Unidos.

Com novos projetos e planos mais ambiciosos, Xamã vê a popularização do rap nacional tornando-se cada vez maior nos próximos anos. "Hoje em dia, você coloca sua música na internet, abre sua gravadora com seus amigos da sua rua, abre um selo e vira o maior do Brasil. O rap é um gênero mais acessível, você não precisa tocar uma guitarra, um violão, uma bateria, seu instrumento é sua voz e seu cérebro", aponta. "Eu acho que, nessa década, o rap vai conseguir, no Brasil, mais espaço ainda, assim como conseguiu no resto do mundo", finaliza.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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