Música

Em entrevista, guitarrista do Autoramas fala sobre a produção do novo álbum

A banda Autoramas, liderada pelo guitarrista e vocalista brasiliense Gabriel Thomas, lança o álbum Autointitulado, em que toca na situação dramática na qual o Brasil está mergulhado

Irlam Rocha Lima
postado em 07/03/2022 06:00 / atualizado em 07/03/2022 06:23
 (crédito:  Jadson Brasil/Divulgação)
(crédito: Jadson Brasil/Divulgação)

A crise pandêmica foi o principal empecilho para a Autoramas manter-se em atividade nos últimos dois anos. A banda liderada pelo guitarrista e vocalista brasiliense Gabriel Thomaz tinha projeto de gravar um disco — o nono da carreira — há dois anos. Mas, por conta da covid-19, precisou ser adiado. Já com músicas compostas, os músicos, observando os protocolos determinados pelas autoridades sanitárias, voltaram a se reunir em 2021, num estúdio montado na casa do baixista Jairo Fajerstain, em Itatiba, no interior de São Paulo, para fazer o registro do trabalho.

O álbum recebeu o nome de Autointitulado e acaba de chegar às plataformas digitais. Antes, houve o lançamento de um single com a música A cara do Brasil, parceria com Rodrigo Lima, do grupo capixaba Dead Fish, que ganhou videoclipe, de forma irônica e reflete o momento vivido pelo país. O verso inicial da letra diz: "Tem chacina/Não tem vacina/ Cloroquina/ Ivermectina/ Tá tocando na piscina/ Ciência não!/ Ele não! Essa não..."

No repertório, A cara do Brasil se junta a Estupefaciante, No dope, Nóias normais, Dia da marmota, Sem tempo e Eu tive uma visão. "Esse é um disco de sobrevivência: no tempo, no lugar e nas condições que estamos vivendo. Passamos dramaticamente pela crise, pela covid, nos adaptamos a tudo sem nunca parar de produzir, sempre pensando no trabalho, na música e no que o Autoramas significa", ressalta Gabriel Thomaz. Ele tem como como companheiros de banda Érica Martins (voz, miniguitarra, órgão, órgão e theremon óptico), Dábio Lima (bateria) e Jairo Fajersztain (baixo).

Para Thomaz, com Autointitulado, que tem projeto gráfico de Gustavo Cruzeiro, a Autoramas busca manter sua assinatura e sempre pensando em cair na estrada, que considera o "habitat natural". O CD saiu no Brasil pelo selo Maxilar, com distribuição da Ditto Music Brasil; e, na Europa, pelo Soundflat Records. A pré-venda da versão em vinil teve início pelo Clube da Vinil Brasil.


Autointitulado

Álbum da banda Autoramas, com sete faixas. Lançamento do selo Maxilar nas plataformas digitais.

Entrevista / Gabriel Thomaz

Há quanto tempo a banda estava sem lançar disco?

O último de inéditas foi Libido, de 2018, então escolhido como álbum do ano por diversas publicações por todo o mundo. E, depois disso, em 2020 e 2021, lançamos dois álbuns de B-Sides & Extras, tudo disponível nas plataformas digitais.

De que forma o Autoramas ocupou o tempo durante a longa quarentena determinada pela pandemia covid 19?

Fizemos muita coisa: a mais trabalhosa foi organizar toda nossa extensa discografia nas plataformas digitais, depois de quase dois anos ainda não está completa. Não tínhamos tempo de fazer isso enquanto nossa agenda estava normal. Começamos a gravar esse novo álbum em 2020, duas músicas gravadas em 2020 (antes da pandemia) entraram no álbum e com mais outras duas lançamos um EP em vinil 7 polegadas, que só saiu na Europa e esgotou rapidamente. Em março de 2021, eu e Érika contraímos o coronavírus e fiquei 22 dias internado e mais um tempão me recuperando. Nesse tempo, de casa, desenvolvi meu selo — Maxilar — e, em 2021, lançamos 22 artistas, além de produzir a nona edição do Prêmio Gabriel Thomaz de Música Brasileira, que passou até na tevê, no canal Music Box Brasil. Érika e eu também fizemos muitas lives tocando e discotecando. Quando o protocolo de distanciamento flexibilizou um pouco, voltamos a ensaiar e gravar o restante das músicas. E o novo álbum saiu agora.

As músicas do novo trabalho foram compostas nesse período?

Sim. Quase todas antes da minha internação.

Nas gravações, os tais equipamentos vintage se juntaram a instrumentos, digamos, modernos?

Sim, gravamos tudo no moderníssimo Estúdio Vegetal, que pertence ao nosso baixista Jairo Fajer, com os melhores e mais modernos recursos.

Os tempos vividos no país atualmente são refletidos intencionalmente em A cara do Brasil, a música lançada como primeiro single?

Sim, fizemos esta parceria com nosso amigo Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish e lançamos antes como single digital, com videoclipe no mesmo teor. Muitos amigos me mandaram prints com minha masculinidade sendo questionada nos mais tenebrosos grupos de whatsapp.

Há a preocupação nas outras faixas de colocar em relevo as mazelas com as quais setores da vida nacional — inclusive o da cultura — são obrigadas a conviver no momento?

A cara do Brasil com certeza é a menos sutil. Em outras letras, como as de Dia da marmota, Estupefaciante e Eu tive Uma visão, abordamos mais temas relativos à pandemia.

Como avalia a trajetória de quase 25 anos da banda?

A banda foi formada em 1998, completaremos 24 anos em 2022. Estamos no nosso nono álbum. sempre produzindo, fazendo muitos shows e lançamentos, turnês pelo mundo todo. Vejo muitos colegas reclamando do mundo da música. No nosso caso, não temos muito do que reclamar, fazemos o que gostamos com tranquilidade e produtividade sempre estável, e um público muito fiel. Já tocamos em todos os estados do Brasil, completamos o álbum, além de shows, festivais, lançamentos de discos e turnês por 23 diferentes países.

É possível sobreviver sem fazer parte do mainstream do rock nacional?

O Autoramas e outros artistas estão aí para comprovar isso... Acredito que não exista mais mainstream do rock nacional. O mainstream hoje é formado pelo sertanejo e uma ou outra cantora de funk. Nunca o mercado foi tão fechado, apesar de o Brasil ser talvez o país mais musical do mundo, com centenas de gêneros populares. Até desenvolvi um bordão: o Brasil sempre foi um supermercado musical, mas hoje só o açougue tem vitrine.

O som da banda é segmentado ou é bem absorvido por roqueiros diversos?

Nosso show é um verdadeiro junta tribo, e uma coisa da qual me orgulho é que vai gente de todas as idades — criançada, por exemplo, adora. Os pais levam, acho sensacional.

Que tipo de acolhida vocês têm na Europa e no Japão, onde costumam se apresentar?

Sempre excelente. Tocamos muito também na América Latina, meu país preferido é o México.

No som que o Autoramas faz agora, há algum elemento que remete ao brasiliense Little Quail, sua banda seminal em Brasília?

Bom...o principal compositor é o mesmo hehehehe...Até tentamos enfiar alguma coisa do Little Quail nos shows do Autoramas...1,2,3,4  é uma que não pode faltar. Little Quail foi minha escola, tenho muito orgulho desta história. E pude evoluir muito e me tornar músico profissional com o Autoramas.

Quando forem botar o pé na estrada, com a turnê do novo álbum, Brasília estará na rota?

Claro! Tocar em Brasília sempre foi um grande prazer e estamos loucos pra voltar.

 

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