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Encontro de breaking promete agitar os jovens de Ceilândia

Neste fim de semana, o evento Quando as ruas chamam pretende tirar o Brasil para dançar e mostrar que o quadrado no meio do mapa brasileiro vai muito além do cruzamento de dois eixos

Pedro Almeida*
postado em 17/06/2022 06:00 / atualizado em 17/06/2022 09:28
 (crédito: URBANPHOTOSDF)
(crédito: URBANPHOTOSDF)

Ceilândia se afirma como celeiro de talentos da dança de rua e da cultura hip-hop com a sexta edição do evento Quando as Ruas Chamam. De hoje (17/6) a domingo (19/6), sempre às 14h, o tablado montado no Sesc de Ceilândia reunirá dançarinos de breaking de todo o país em um campeonato com clima de festa. A entrada do público é gratuita.

Ceilândia é, por excelência, berço de luta e resistência cultural. Como uma versão brasiliense do Bronx, a cidade viu nascer, de suas entranhas, um movimento espelhado ao gestado no bairro nova-iorquino. O hip-hop pulsa e se abastece da recusa da cidade em viver à sombra periférica de Brasília. A dança, um dos pilares do movimento, não teve dificuldade em se situar por ali. Neste fim de semana, o evento Quando as ruas chamam pretende tirar o Brasil para dançar e mostrar que o quadrado no meio do mapa brasileiro vai muito além do cruzamento de dois eixos.

Alan Jhone, idealizador do evento, é um dançarino nascido e criado em Ceilândia. O amor pela dança surgiu da observação do crescimento da cultura hip-hop local, que alcançou os pátios da escola em que estudava: "Na época, tinha uns meninos mais velhos, alunos do mesmo colégio, que praticavam dança no horário do intervalo. Minhas primeiras motivações vieram dali". Fora da escola, o prazer em praticar saltos mortais e passos de dança foi cultivado e, aos poucos, deixou de ser apenas um passatempo. Vieram as competições locais, seguidas das nacionais e, em voo alto, Alan alcançou o patamar mundial: "Em 2007, eu tive a oportunidade de ir para o meu primeiro evento internacional, na Alemanha. Voltando de lá, fui para Suíça disputar outro evento mundial. Dali, o departamento de Estado americano me convidou para participar de um programa de jovens focado em cultura de minorias".

O convite, aceito pelo dançarino, abriu os olhos de Alan para novas possibilidades: "Nos Estados Unidos, pude estudar e conhecer um pouco dos projetos relacionados à cultura hip-hop e à dança. Quando voltei, cheguei com a cabeça focada em dar visibilidade para a nossa galera. Aqui na Ceilândia, temos muitos jovens artistas brilhantes".

Munido do desejo de colocar Ceilândia no mapa dos dançarinos de breaking, Alan Jhone criou, em 2012, o evento Quando as ruas chamam. Neste ano, a sexta edição confirma o escopo nacional do campeonato. As avaliações, que ocorreram on-line e nos estados do Pará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal, garantiram ao evento a multiculturalidade de um país continental. Jurados gabaritados dos mais diversos estados foram escalados para julgar os dançarinos em sete categorias, algumas delas voltadas para dançarinos com deficiências e para o público, que está convidado a subir o tablado e passar pelo olhar do júri.

Em 2024, o breaking debuta como esporte olímpico nas Olimpíadas da França. Alan vê com entusiasmo a novidade: "A tendência agora é só crescer, dar mais visibilidade para os competidores, mais oportunidades de trabalho; seja praticando para participar da modalidade como esporte, mas também como cultura". Contudo, Jhone enfatiza o valor cultural da dança: "A gente não pode esquecer das nossas raízes. Nasceu como arte, como cultura e deve continuar assim".

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco


Quando as ruas chamam

Dos dias 17 a 19 de junho, sempre a partir das 14h, no Sesc de Ceilândia - QNN 27 Área Especial Lote B, Ceilândia Norte. Entrada gratuita. Classificação livre.  

 


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