No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, um duo chamado Os Mulheres Negras movimentava a cena independente da música brasileira com músicas cheias de referências, um tom cômico, shows que pareciam espetáculos teatrais e até um pequeno jornal enviado para casas dos fãs. Maurício Pereira e André Abujamra estão na gênese da cena indie do Brasil, mas se separaram em 1991.
Ainda na urgência por novidade, mas sem a necessidade da espetacularização de tempos passados Maurício Pereira chega ao oitavo disco solo nesta terça (19/7). Ele aposta no simples e pequeno com o título Micro. Mais uma vez em duo, dessa vez com o guitarrista Tonho Penhasco, ele faz releituras de canções de toda carreira em arranjos mais despojados com apenas voz e guitarra e pequenas adições de sax soprano. "Eu estou cantando músicas aqui que eu escrevi há 40 anos", conta Maurício Pereira em entrevista ao Correio.
A ideia do disco surgiu em turnê. Maurício e Tonho fizeram um esquema para conseguirem fazer shows mais baratos sem perder qualidade, aumentando a produtividade dos músicos na estrada. "A gente que está no mundo independente sabe que muita produção é na guerrilha", aponta o cantor e compositor. As apresentações deram certo não só com o público, mas mudaram a forma como os músicos viam as canções. "Chegou um momento em que as músicas foram ganhando um espírito diferente. O que, primeiramente, era só show business, começou a virar arte. O Micro ganhou inesperadamente um corpo e uma alma com a gente na estrada", lembra.
Dessa ideia saiu um disco que Maurício chama de "sem querer querendo". No Micro estão os vários lados do artista. Desde canções mais conhecidas como Pan y leche, Imbarueri e Um dia útil, como algumas mais "lado B" como Um teco-teco amarelo em chamas e Não me incommodity. "Inconscientemente a ideia de ter trabalhos pequenos em formato, porém grandes em poesia sempre andou na minha cabeça", reflete o compositor. "É como se hoje eu cantasse minhas músicas de dentro para fora. No Micro isso se exacerba", completa.
Extravasando
Maurício Pereira tem a música como uma válvula de escape para os sentimentos e angústias. "Quando era bem jovenzinho, eu ia na psicóloga, mas saí e brigado, não queria mais fazer aquilo. Um dia ela viu uma foto minha no jornal quando eu já era músico e decidiu me telefonar. Disse: 'Estou aliviada porque você encontrou um escape para sua angústia e a sua neurose'", lembra.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.