A história se parece com muitas vividas por todo habitante de metrópoles: uma área verde vai ser destruída para a construção de um shopping. Foi no meio ambiente e na facilidade com a qual o ser humano destrói a floresta que o poeta e escritor Vicente Sá pensou quando idealizou o musical O bicho papinha, que começa temporada, neste sábado (10/9), no Teatro Mapati.
Inteiramente pensado para as crianças, o espetáculo leva para o palco uma história comovente de proteção à natureza, mas também das diferenças. O meio ambiente é o tema principal, mas a causa LGBTQIA também entrou para o repertório de temas tratados no espetáculo. Na narrativa criada por Vicente, seis animais vivem uma vida saudável e tranquila em um bosque quando aparece um menino com uma notícia que vai desestabilizar o cenário.
Bicho Papinha é filho do Bicho Papão e anuncia aos bichos do bosque que o pai está pronto para devastar o santuário em prol da especulação imobiliária. O personagem, no entanto, quer evitar o desastre e, por isso, decide avisar os animais. No total, nove músicas com letras criadas por Vicente e melodias de músicos de Brasília são a base para a narrativa. Uma ciranda de Rênio Quintas introduz a história, um reggae de Renato Matos traz os dramas do jacaré. Luli, Gadelha Neto, Zelito Passos, Túlio Borges e Aloísio Brandão completam a lista de compositores, todos parceiros antigos de Vicente.
São 55 minutos de muita poesia a serviço da bicharada. "Meio ambiente é uma questão essencial. Tudo que a gente vem falando há 20 anos está acontecendo, as mudanças climáticas, as chuvas e as secas. Essas mudanças estão acontecendo, é urgente colocar isso na pauta diária", diz o autor. "Estamos destruindo nossa casa. Envolvendo as crianças e alertando para isso é mais tranquilo, porque elas vão crescer com outros comportamentos." O poeta lembra que, em sua infância, desmatamento era sinal de progresso e ninguém se preocupava muito com as consequências da destruição das florestas.
O respeito à diversidade também é um dos temas de O Bicho Papinha. "Cada bicho é diferente, eles se respeitam, eles têm essa coisa de conviver com o diferente, que é muito importante", garante Vicente. Militante da causa LGBTQIA e dos direitos humanos, Tereza Padilha dirige o musical com um olho no meio ambiente e outro no respeito às diferenças. Ao final do espetáculo, uma surpresa envolve o público na reflexão sobre liberdade e identidade. "O espetáculo também fala sobre a importância do gostar, do amar", avisa Tereza. "Cada um tem que ser o que quiser ser, essa é a mensagem."
Sete atores dividem o palco em um cenário inteiramente artesanal, cheio de folhas confeccionadas à mão. Na dramaturgia, Tereza fez uma mistura de linguagens num mosaico com elementos do circo, do clown e dos bufões. "Brinquei muito com o cômico, coloquei os bufões. Tem muito trabalho corporal, trabalho circense", avisa. Vicente conta que ficou encantado com a montagem de Tereza. "Eles fizeram os bichinhos como eu tinha sonhado, ficou muito parecido com o que eu tinha imaginado", diz.
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