Escrita em 1952 por Eugène Ionesco, a peça As cadeiras é protagonizada por um casal de idosos que aguarda a chegada de convidados. Enquanto conversam, o homem explica que tem uma mensagem para a humanidade e a mulher reflete sobre o que eles poderiam ter sido. Os convidados, nunca vistos pelo público, o que os torna imaginários ou inexistentes, chegam. Uma suposta conversa é desencadeada e, ao final, o homem e a mulher pulam pela janela. É uma peça típica do teatro do absurdo de Ionesco e incrivelmente atual para uma humanidade, que acabou de passar por pandemia, isolamento e muitas perdas. Quando Marco Nanini, Camilla Amado e o diretor Fernando Libonati decidiram encenar o clássico, corria a pandemia e o isolamento dela decorrente. Com teatros fechados e aglomerações proibidas, o trio decidiu montar a peça e gravá-la para mais tarde, quando fosse possível, realizar o espetáculo ao vivo.
Camilla Amado morreu em 2021 e a dupla nunca pôde realizar uma turnê, mas o registro ficou e será exibido amanhã e sábado no Cine Brasília, com direito a uma sessão de autógrafos de Marco Nanini para a biografia O avesso do bordado, escrita por Mariana Filgueiras. "A peça foi feita para ser híbrida, o Libonati fez uma adaptação que pudesse ser apresentada nos dois veículos e foi isso que nós fizemos", conta Nanini. "Não é exatamente teatro on-line, é um trabalho fechado, um audiovisual, teatro na tela mesmo, uma peça adaptada híbrida, apresentada no teatro e no cinema. Acontece que a Camilla faleceu logo após a filmagem, então não deu para fazer no teatro."
Enclausurados
A peça foi gravada em janeiro de 2021 e, na adaptação, o casal mora em um farol de uma ilha isolada, localização simbólica para o momento vivido pela humanidade. "É uma peça atemporal porque fala do ser humano, tem a ver com a solidão, com os sentimentos. Agora, nessa época que estamos vivendo, tivemos a solidão e ficamos enclausurados com a pandemia, faz bastante sentido", reflete Nanini. Foram 10 dias de filmagem com uma equipe orientada por profissionais de saúde para evitar contaminação.
Nanini conta que, claro, preferia atuar no teatro, com o público presente, mas não chegou a se sentir impactado pela ausência de plateia e teatro. "Não teve impacto porque sou acostumado a fazer cinema, então era dentro de um estúdio e o público ficou sendo os técnicos. Depois, fui ver as apresentações e o público reagia", conta. "Essa peça pode ser feita por qualquer tipo de ator, de qualquer idade. Pode ser representada por atores de várias idades, tanto jovens como mais velhos. A gente fez mais dramaticamente e foi ótimo, confortável."
Libonati e Nanini são sócios há mais de 30 anos na produtora Pequena Central, mas essa foi a primeira vez que Fernando assumiu a direção. Foram 10 dias de filmagem em estúdio, com sequências sem corte captadas na íntegra por duas câmeras em 360 graus. A concepção visual ficou por conta de Gringo Cardia e a direção de movimento é assinada por Deborah Colker. Encenar As cadeiras ao lado de Camilla Amado era um sonho para Nanini. "Foi muito triste para mim a morte dela. Sou amigo da Camilla há muito tempo, desde a década de 1970, ela falava muito sobre As cadeiras e tínhamos a ideia de fazermos juntos essa peça de Ionesco. E a possibilidade apareceu durante a pandemia. Foi muito bom, ela é uma atriz ótima", diz.
Pesquisa
Antes da sessão de amanhã, às 17h, Nanini vai autografar a biografia O avesso do bordado, fruto de dezenas de entrevistas e de uma extensa pesquisa da jornalista Mariana Filgueiras. O livro nasceu de um convite da própria editora, a Companhia das Letras. Nanini não conhecia Mariana, mas aceitou embarcar nas longas sessões de entrevistas e na apuração da jornalista, que faz parte da equipe do Greg News. "Foi muita sorte porque ela é muito talentosa, culta, instruída, tem habilidades literárias. Fez uma biografia que me agradou muito, na qual não estou presente em todas as páginas, mas o assunto é em volta da minha pessoa, e isso prende o leitor porque não fico falando só sobre mim, falo das cidades, ambientes da época. Isso dá uma leitura mais corrida", garante o ator.
Mariana conta que, para fazer o livro, fez entrevistas semanais com Nanini, mas também o acompanhou em gravações e ao teatro, como espectador. "Queria vê-lo em ação, mais do que narrando a vida dele para mim. No primeiro ano fiquei muito no ator Nanini, como estudava os textos, como criava o personagem. Durante a pandemia, mergulhei mais numa pesquisa de documento. A vida dele é muito documentada. Então fui conversar com amigos, diretores, colegas de trabalho e, em 2021, sentei para escrever", conta Mariana. No total, foram quatro anos mergulhada no processo de pesquisa e escrita de O avesso do bordado.
A biografia é dividida em três partes. Na primeira, a autora se concentra na infância do ator, filho de um gerente de hotel que rodou o Brasil graças ao trabalho. Os primeiros contatos com o teatro, a vida de saltimbanco e a facilidade de circular pelos mais diferentes ambientes ajudaram a moldar o talento para a atuação. Na segunda parte, entraram os primeiros anos da vida profissional e o desenvolvimento da sensibilidade estética do artista, com narrativa concentrada, principalmente, na década de 1970. A terceira parte, dos anos 1980 até recentemente, traz o reconhecimento e o sucesso de Nanini como um dos maiores atores do teatro, da televisão e do cinema no Brasil.
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