O carioca Hélio Oiticica acreditava que a arte é um modo de vida, não pode ser separada da própria existência humana e está presente em todos os momentos e experiências. Por isso gostava de perambular pelas ruas do Rio de Janeiro ou de qualquer metrópole sem muito destino, à mercê do que o acaso pudesse lhe oferecer. Fazia isso sozinho ou acompanhado. A também artista plástica Lygia Pape gostava da ideia e, volta e meia, se debandava em direção ao fortuito acompanhada de Oiticica. Por isso o curador Moacir dos Anjos escolheu uma expressão do próprio artista carioca para dar título à exposição Hélio Oiticica – Delirium Ambulatorium, que chega ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com um conjunto de mais de 80 obras do artista, um dos nomes mais importantes da arte brasileira dos anos 1960 e 1970.
A intenção de Moacir era revisitar praticamente todas as fases da trajetória de Oiticica, por isso, estão lá, nas três galerias, desde os primeiros trabalhos até os últimos, produzidos já perto da morte do artista, em 1980. "Hélio Oiticica é um dos artistas mais importantes da arte brasileira do século 20 e do mundo, e acho que sempre cabem outras leituras de forma a aprender melhor o conjunto do trabalho", explica o curador. "A ideia da exposição foi rever e reapresentar a obra a partir de uma ideia que ficou cada vez mais presente no trabalho dele ao final da vida."
A expressão delirium ambulatorium, que dá nome à exposição, foi criada por Oiticica para explicar um modo de estar no mundo. Por meio de longas e descompromissadas caminhadas, o artista carioca se permitia encontros fortuitos que se tornavam obras de arte. "Ele achava que esse caminhar na rua, essa andança, o deambular desinteressado fazia você se descondicionar das amarras sociais formais, pessoais e encontrar um espaço de criação", explica Moacir dos Anjos.
A exposição apresenta o percurso de Oiticica desde os primeiros passos, quando ainda pintava e criava quadros como os Metaesquemas nos anos 1950, década em que também morou em Nova York, até os Magic Square, em que propõe transformar o próprio espaço em obra, passando pelos Bólides, Núcleos, Penetráveis e Parangolés, que exigem a participação do espectador seja no movimento, seja no manipular ou no ato de se vestir. Há também projetos, escritos e pinturas, além de filmes como Apocalipopótese e Agrippina é Roma-Manhattan, registros de performances.
Na Galeria 1, o curador abrigou obras emblemáticas do neoconcretismo, movimento que Oiticica ajudou a consolidar e que valorizava a interação com o público, a abstração e a capacidade de cada um construir seus próprios sentidos para a arte. Obras como Bilaterais, Relevos Espaciais e Núcleos, volumes cujas características principais eram a de estarem suspensos, são exibidas nesse espaço, que recebe também os famosos Penetráveis, as cabines feitas para abrigar o público, os Parangolés, capas para vestir, e os Bólides, objetos criados para receber outros materiais, como areia e terra. Os Metaesquemas também entram nessa seção e são importantes para perceber o caminho percorrido por Oiticica da pintura à arte conceitual.
Na Galeria 2 está o que Moacir chama de experiências poético-urbanas, com obras que nascem da relação do artista com a cidade e com as ruas. Nesse módulo entraram trabalhos como Devolver a Terra à Terra, concebido em 1979 para integrar a exposição Kleemania, uma homenagem ao centenário de nascimento de Paul Klee, uma das maiores referências de Oiticica."Já no fim da vida ele faz essas proposições poéticos urbanas, que não são mais obras, só proposições para as pessoas fazerem algo. A obra dele vai se desmanchando na rua. Se dissolvendo. Vai saindo da parede até desaparecer, até não ter mais nada concreto, só ideias, proposições dirigidas a qualquer um que queira fazer parte desse exercício de criação onde tudo está misturado, sem separação entre fazer artístico e cotidiano", explica o curador.
A essa mistura de criação e lazer, Oiticica dava o nome de crelazer, conceito que, segundo o artista, deveria ser levado para a vida. É exemplo dessa ideia os Magic Square montados nos jardins do CCBB, mas também o Grande Núcleo, que ocupa a Galeria 3 com suas placas de madeira pintadas em tons amarelos que convidam o visitante a se perder na experiência cromática tridimensional. Se perder e se fundir com obras e paisagem é, aliás, uma das ideias que dá sentido à produção do artista, que pode ser vista de forma bastante completa em Delirium Ambulatorium.
Saiba Mais
- Diversão e Arte Participante do Masterchef morre aos 40 anos
- Diversão e Arte Preta Gil tranquiliza fãs após mal-estar que a levou ao hospital
- Diversão e Arte Estilo Barbie: biquíni rosa já é sucesso entre as famosas para o verão
- Diversão e Arte Grupo de amigos viraliza ao usar terno rosa para assistir ao filme "Barbie"