MÚSICA

O regente da periferia, Hungria lança duas faixas do novo álbum 'Atmosfera'

O rapper brasiliense Hungria lança álbum em parceria com o DJ Alok e o maestro João Carlos Martins, que mescla o rap e uma orquestra

Hungria com o maestro João Carlos Martins
 -  (crédito:  M.Coutinho/Divulgação)
Hungria com o maestro João Carlos Martins - (crédito: M.Coutinho/Divulgação)
postado em 27/09/2023 18:05 / atualizado em 27/09/2023 18:05

Segundo o rapper Hungria, nada é impossível, tudo é invisível a quem só olha para si. De fato, para o cantor não existem barreiras quando se fala em inovação musical. O cantor brasiliense, autor da canção Amor e fé, é um dos principais nomes da cena do rap no país. De forma majestosa, Hungria pensou em cada detalhe na novidade que contará com um álbum visual e shows inéditos. Como esquenta de lançamento do projeto, a primeira faixa, Preta, foi disponibilizada em 28 de julho, e a segunda Atmosfera, divulgada em 8 de setembro, ambas em áudio e vídeo. Confira as músicas abaixo.

Clipe oficial de Atmosfera

Clipe oficial de Preta

Atualmente, o cantor lidera o ranking de artista do segmento com o maior número de inscritos no YouTube Brasil. São mais de 13 milhões de inscritos e mais de 4.6 bilhões de visualizações na conta oficial. Mas o destaque do cantor vai muito além dos números nas plataformas, pois Hungria não se limita quando o assunto é música. O rapper acumula uma bagagem de parcerias de peso como Claudia Leite, Alok, Lucas Lucco, Gusttavo Lima, Pixote e Marcelo Falcão. Essa transição e mistura de estilos musicais ao longo da carreira o levou até a idealização do novo álbum, Atmosfera, considerado o mais importante do cantor.

O álbum contará com um total de nove canções, cinco faixas inéditas, sendo elas Seu pai falou, Melhor lugar, Atmosfera, Amarula com participação do DJ Alok, e Preta, regida pelo  renomado maestro João Carlos Martins, canção que dá início aos lançamentos e ao projeto considerado um dos mais inovadores do mercado audiovisual.

A parceria entre o cantor e o maestro é algo completamente inusitado, visto que a junção de uma orquestra com um cantor de urban music brasileira quebra diversas barreiras e preconceitos da música. 

Entrevista//Hungria

De onde surgiu a ideia de iniciar esse projeto inédito com uma orquestra sinfônica? Como você imagina a aceitação do público com essa mistura do rap e o erudito?
Na real eu sou muito pirado em sentimento, em instrumentos que mexem com a alma. É muito irado quando a gente escuta o som e sem ouvir a letra inicial, aquela atmosfera já fez o nosso coração bater de uma maneira diferente. Então, desde Um pedido, música com instrumental de harpa chinesa me tocou muito. Eu aprendi musicalidade com a minha mãe, ela costuma dizer que a música não é para ser ouvida e sim ser sentida e esse é objetivo deste projeto. Há um tempo eu tive essa ideia, apesar de muito vaga, o Bortotti, que é o meu produtor e responsável pela parte musical, conseguiu fazer ela se tornar palpável. Minha prioridade é fazer música com a verdade, quando a gente age com a verdade não tem como dar errado. Quando eu escuto minha música, me coloco em terceira pessoa e fico pensando o que as pessoas sentiriam ao escutar as letras e todas as canções que eu solto me tocam e eu acredito que existem milhares e milhões de pessoas que se parecem comigo. Quando eu faço esse trâmite todo, tenho certeza que vai atingir o coração dessa rapaziada.

Qual a sua relação com a música clássica? Em algum momento da sua vida você passou a consumir esse gênero?
Eu nunca fui de escutar música clássica, sou fã de instrumentos, seja de corda ou de sopro, eles mexem muito comigo. Acredito que a força e o sentimento presente na música clássica poderiam agregar muito na minha música. Eu tinha total noção que se eu conseguisse fazer essa junção de uma maneira legal, o sentimento seria transmitido de forma superior, do que se tivesse somente a batida. Um ponto muito importante é que quando eu comecei a fazer esse projeto existiam 2 significados pra mim. O primeiro, o lado cultural muito forte, porque a partir do momento que eu lanço um projeto, estou levando a orquestra periferia, que é carente dessa musicalidade. É difícil ver um moleque periférico que se você perguntar o que é uma orquestra ele te diga com clareza o que é. A minha intenção é que quando a molecada for pro show do Hungria, elas tenham consciência do que uma orquestra. É muito importante para mim levar a orquestra pro meu lado periférico. Segundo, é a valorização desses músicos que estudam a vida toda e de fato, não são valorizados da maneira que merecem.

O que significa esse trabalho pra você que mescla a orquestra, um clássico erudito e o rap, um clássico das periferias?

Uma quebra de barreira muito grande, na real, pode botar em caixa alta, que foi um presente de Deus na minha vida. Porque toda vez que eu imagino os meus limites se aproximando, Deus mostra uma longa caminhada para minha vida. Para mim, essa nossa levada do rap é o único gênero que se encaixa em qualquer tipo de música e quando é encaixada com um contexto desse, com a orquestra ou com com algo tão grandioso quanto o nosso rap vai para outro patamar. A gente está mostrando mais uma vez que o rap se encaixa em qualquer gênero e também o poder que a musicalidade tem. Nosso Brasil é vasto de musicalidade e às vezes a gente não aproveita nem 10% do que temos aqui. Acho que toda música que eu faço se colocar no liquidificador vai falar de amor, fé e superação. Eu tenho responsabilidade muito grande com a minha música porque eu me preocupo onde essa música vai chegar, seja na casa de uma família ou se uma criança vai escutar.

Qual o significado de RA’s como a Ceilândia para a cena do Rap e Hip Hop no Distrito Federal, e o que esses gêneros representam para elas?

O rap me abraçou e foi paixão de verdade à primeira vista. Eu comecei com 13 anos, estou com 32, e sempre percebi que na periferia, o rap sempre tocou de uma maneira muito excessiva. Ele era muito grande na periferia e eu não entendia porque ainda não fazia parte da mídia televisiva, radialista, e hoje entendo que existia um preconceito. Então a importância da Ceilândia ou de qualquer satélite de Brasília é que pra mim foi uma escola. Por mais que a gente mora em Brasília, fecha 10 portas de colégio, abre 1000 portas para um crime. Então quando a gente entra na música, faz a diferença e mostra pra aquela molecada que podemos dar certo também. Estamos nadando contra a maré, mas é aproveitar as ondas e surfar da melhor maneira possível.

Você enxerga o rap e o hip hop como formas dos jovens garotos e garotas ascenderem das periferias?

O rap gera novas oportunidades, não só musical, mas quando você escuta o rap, se você cria uma força se a intenção da pessoa é passar no concurso ou se tornar um delegado. Então, o rap te dá força para inúmeras possibilidades, não só para a cena do rap. O rap te puxa para dentro dele, você se vê dentro daquela situação, porque aquela música está falando da realidade e da vida cotidiana. Então é uma musicalidade que a gente da periferia se sente mais incluído dentro daquela realidade contada. O rap é um tipo de porta-voz e ele sempre foi isso.

Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

  • Hungria lança álbum com o maestro João Carlos Martins
    Hungria lança álbum com o maestro João Carlos Martins Foto: M.Coutinho/Divulgação
  • Hungria lança álbum com o maestro João Carlos Martins
    Hungria lança álbum com o maestro João Carlos Martins Foto: M.Coutinho/Divulgação
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação