Quantas vezes somos surpreendidos pelos horrores do mundo, dia após dia? É essa a reflexão que Ubuntu, ubun... ele, ubun... nós! propõe, ao convidar o leitor a pensar sobre as diferentes mazelas e disparidades que nos assolam. Tudo sob o olhar dos protagonistas Laurinha e Ayo, duas crianças que se deparam com um mundo tomado por conflitos, desigualdades e preconceitos. O autor, Daniel Balaban, é diretor do Centro de Excelência contra a Fome, que, por sua vez, faz parte do Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ubuntu é uma palavra de origem africana, mais especificamente oriunda dos povos bantu, localizados na porção da África Subsaariana. Ela significa "eu sou porque nós somos". Esse termo é o que dá sentido à narrativa dos personagens da história, que passam a perceber o mundo onde vivem de maneira mais crítica e questionadora durante o intervalo entre aulas de uma escola, explica Daniel. "Significa que ninguém está sozinho no planeta, que nós dependemos uns dos outros e que nós temos que aprender a voltar a nos respeitarmos. A gente tem que se preocupar com a felicidade dos nossos colegas, daqueles com quem a gente convive no dia a dia", reforça o autor.
Ayo, um dos protagonistas da obra, é, inclusive, refugiado de um país africano. Como integrante de uma instituição com atividades internacionais, sobretudo em países africanos, Daniel Balaban reafirma por meio da história dos dois estudantes o compromisso humanitário da carreira que escolheu, uma vez que realiza constantes viagens ao continente na tentativa de estudar formas de melhorar o cotidiano de uma população tão atacada e explorada ao longo da história. "Eu quis chamar a atenção para o continente africano porque nós temos um preconceito com ele. São povos e tribos muito mais antigas do que as sociedades europeia e americana, por exemplo", argumenta Daniel.
Segundo dados do relatório de 2023 feito por agências da ONU, Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, 70,3 milhões de brasileiros se encontram em estado de insegurança alimentar - o que caracteriza cerca de um terço de toda a população do país. Sobre a necessidade de educar crianças e adolescentes sobre esse problema, o autor destaca a importância de formar cidadãos íntegros e responsáveis socialmente. "Quando a criança passa a receber influência da sociedade, ela começa a se afastar e ganha contornos cada vez mais individualistas. Criamos novos gladiadores em vez de criarmos seres humanos para amar e respeitar o próximo", afirma Balaban.
Mas, para além das discussões propostas pela história contada por Laurinha e Ayo, o autor ressalta que o processo de escrever um livro para jovens se deu de maneira natural, mesmo que estivesse acostumado a escrever apenas textos formais, restritos à linguagem e jargões acadêmicos. "Foi muito interessante, porque já escrevi coisas acadêmicas, e é totalmente diferente para você conseguir falar em uma linguagem que seja acessível aos estudantes que estão começando. Não pode ser uma coisa maçante, uma coisa difícil, não é? Tem que ser uma abordagem que eles entendam e que seja de acordo com a vivência deles", observa Daniel, que decidiu escrever um livro para o público infantojuvenil após apresentar uma palestra para adolescentes em uma escola do DF.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
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