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Sala Martins Pena, do Teatro Nacional, será reinaugurada em fevereiro

Comunidade cultural brasiliense faz reivindicações para a política de programação do teatro recém-reformado

Entrada da sala Martins Pena -  (crédito: Júnior Aragão/Divulgação)
Entrada da sala Martins Pena - (crédito: Júnior Aragão/Divulgação)

Depois de 10 anos de espera, foi dado o primeiro passo para a reabertura completa do Teatro Nacional Cláudio Santoro: a reinauguração da sala Martins Pena. Um dos espaços mais bem estruturados e equipados do DF está disponível para o público e para a comunidade artística da cidade. Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), a sala já estará aberta para programação em fevereiro. 

O marco é muito importante para a produção cultural do Distrito Federal. Agora que o espaço volta ao circuito da cidade, outras preocupações atingem os agentes culturais a respeito dos próximos passos da sala. Artistas e produtores culturais responsáveis pela manutenção da cena artística brasiliense reivindicam uma política de ocupação democrática da Martins Pena, que seja resultado do diálogo com a comunidade cultural local.

Segundo o subsecretário do Patrimônio Cultural do DF, Felipe Ramón, além de uma construção de curadoria feita pela Secec, serão abertas as pautas espontâneas, em que artistas, produtores, companhias de teatro e de dança poderão, por intermédio de e-mail, propor ocupações para a sala. "Estamos construindo uma programação cheia, com uma frequência que a cidade merece, mas também com um nível de qualidade alta", afirma.

Construída no formato de teatro elisabetano, a sala Martins Pena possibilita uma maior proximidade do artista com o público. É pensando em respeitar a história e o projeto original do teatro, que certas linguagens artísticas serão prioridade, como o teatro, o balé, a dança contemporânea e a música de concerto. "É  claro que todas as manifestações vão ser apreciadas, ou seja, a gente vai se debruçar sobre as propostas, mas é nosso interesse, assim como os outros espaços culturais,  preservar a vocação", ressalta Ramón. 

Outros espaços

Para Sérgio Bacellar, produtor do Festival do Teatro Brasileiro e do Movimento Internacional de Dança, é necessário, também, que a linha de curadoria da sala Martins Pena seja alinhada com os outros espaços culturais do DF. Segundo ele, é através de um olhar panorâmico sobre todos os equipamentos culturais que a cidade poderá ser contemplada e atendida como um todo.

"A sala Martins Pena  precisa ser considerada tendo como perspectiva o conjunto de salas, o conjunto de equipamentos culturais que a gente tem no GDF. É necessário que todos os espaços estejam em funcionamento, em harmonia de linha curatorial, com um conselho dessa curadoria de todos os espaços", reivindica Sérgio. 

"A gente precisa olhar para esse corpo, não podemos ter umas estruturas que são monumentos, que são só o cimento. Precisamos de um organismo vivo teatral", completa a atriz da Agrupação Teatral Amacaca, Dani Neri. "Temos muitos espaços que estão abandonados. Então, a gente precisa olhar também para o Teatro Nacional como uma força para potencializar o teatro como um todo no DF, que é muito carente em todos os âmbitos."

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Segundo Dani Neri, o cenário atual do DF é de carência de espaços físicos destinados à cultura  e de escassez de manutenção dos que já existem. Por isso, apesar da reabertura da sala Martins Pena representar um passo grande para uma cena artística mais ativa, a comunidade cultural reivindica o restante do Teatro Nacional. 

O edital de licitação para a segunda fase da obra do teatro já foi divulgado em dezembro de 2024 e, segundo Felipe Ramón, estima-se que o restante do teatro seja reinaugurado entre dois e três anos. "Esperamos que, agora já com a expertise da primeira etapa que foi muito detalhada, a gente consiga estrear para a segunda etapa, que é a etapa final", ressalta o subsecretário do Patrimônio Cultural do DF.  

Produções locais

De volta à cena artística, o Teatro Nacional se configura como um importante impulsionador da formação de público das artes cênicas de Brasília. "Era uma demanda reprimida gigantesca que havia da comunidade cultural  por uma sala de tamanho médio com possibilidade de execução de peças com cenários complexos, grandes produções e castings", afirma Felipe Ramón. 

"As inúmeras apresentações que tanto a Villa Lobos como a Martins Pena receberam com temporadas populares e programações gratuitas, tudo isso foi interrompido com o fechamento do Teatro Nacional. Então, é o momento também de pensar nessa retomada de formação de público", completa o produtor Sérgio Bacellar. 

A gestora cultural Maria Carmem de Souza defende a possibilidade da sala Martins Pena abrigar temporadas mais longas de espetáculos, diferentemente da maioria dos espaços da cidade que atendem entre um a três dias. "É a única condição para formar público, fazer só um ou dois dias é o mesmo público que vai sempre e o espetáculo não amadurece", observa. 

Outra reivindicação da comunidade cultural do DF é que a Martins Pena seja ocupada por produções e artistas locais. "A gente tem uma classe teatral muito potente, muito capacitada, mas muito marginalizada, muito detonada. Então, a gente tem uma pauta realmente muito ampla e que precisa caminhar, que precisa estar em desenvolvimento", destaca a atriz Dani Neri.

De acordo com Felipe Ramón, a Secec vai procurar atender os segmentos da cidade, sem deixar de fora produções de fora da cidade. "O objetivo é um teatro nacional, porque o Teatro Nacional Cláudio Santoro tem uma vocação de receber espetáculos de nível nacional e internacional, isso não significa que sejam artistas de fora do DF, porque as manifestações aqui têm um nível até mesmo internacional", enfatiza.

Questões técnicas

Para atender as altas demandas da cidade, a sala Martins Pena dispõe de uma estrutura de alta qualidade e eficiência, com mesa de luz, mesa de som, uma iluminação totalmente nova, palco com novas varas, novos equipamentos de coxia e elevador de palco. De acordo com Felipe Ramón, a manipulação dos equipamentos será de responsabilidade do espetáculo que estiver apresentando. "A responsabilidade continua sendo do proponente, já que ele está utilizando um espaço público sem nenhum custo", destaca. 

Porém, segundo Guilherme Reis, é necessário equipe técnica especializada para a manipulação dessas estruturas. "É um equipamento complexo, tem que pensar em tecnologia, em sustentabilidade", ressalta o gestor cultural. "Se a gente for atribuir a cada produtora, a cada produtor, a cada espetáculo que chegar ali para  mexer nos equipamentos, o nosso patrimônio não vai ser bem cuidado."

De acordo com ele, é o caso de se propor  instrumentos de parceria com a sociedade para uma gestão independente. Para a atriz Dani Neri, a comunidade artística está aberta para diálogos com a Secretaria. "Eu acho que os grupos de Brasília estão aptos a construir uma política de desenvolvimento cultural", observa. "Torço para que a gente consiga construir um caminho junto com a Secec."

A atriz afirma que é necessário uma gerência que tenha um olhar atento para as necessidades do teatro. Por enquanto, a Secretaria ainda não tem previsão de abertura de chamamento público para contratação de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) para assumir a gerência da sala Martins Pena, como é o caso de outros espaços culturais do DF. 

"Eu acho que é esse lugar de compor uma pauta com as companhias da cidade, esse lugar de olhar para os teatro de grupo, para os diferentes formatos de teatro, dimensionar essas possibilidades de contratação", adiciona Dani Neri. "O teatro precisa de vida, de repertório e de grupos teatrais."

 Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco*

 

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Tainá Hurtado*
postado em 28/01/2025 06:01
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