O brutalismo foi um movimento arquitetônico popular entre os anos 1950 e 1970 que teve início com o pós-guerra na Europa. As características desse tipo de arquitetura são o concreto quase na forma pura, sem adornos. A estrutura é entendida como uma parte estética das obras. É uma arquitetura da durabilidade e voltada para as funções práticas, mas que não perde em beleza. Porém, também é uma resposta estética a um período de tristeza, luto e falta de esperança. Essa essência está no longa O brutalista, estreia da semana no Brasil.
Dirigito por Brady Corbet, o longa, com mais de três horas de duração, acompanha o arquiteto hungaro fictício Laszlo Toth, um profissional renomado na Hungria que precisa fugir da Europa, por ser judeu em um período do avanço das ideias nazistas. Ele chega aos Estados Unidos sem perspectivas e precisa trabalhar para conseguir colocar comida na mesa.
Dessa forma, o próprio filme, vencedor do Globo de Ouro e com 10 indicações para o Oscar, é um retrato do pensamento e do sentimento brutalista. O movimento arquitetônico está impregnado na história desse imigrante. Porém, não se trata apenas do luto e da melancolia do que foi deixado para trás, o longa é sobre a tristeza do deslocamento e da falsidade no chamado sonho americano.
Como um arquiteto formado na Bauhaus, Laszlo precisa trabalhar como carvoeiro no país das oportunidades? A produção apresenta que a vida do imigrante não depende de talento, seja lá o que ele fizer ou souber, eles sempre serão considerados menores e menos importantes. Um filme que conta uma história das décadas de 1940, 1950 e 1960, mas que levanta uma discussão sobre a atualidade. Afinal, escancara ainda mais a xenofobia norte-americana que o atual presidente do país, Donald trump, não faz a menor questão de esconder.
Esteticamente, o filme passa pelas cores e escolhas, desde a fotografia até dos créditos, a mesma sensação que a história propõe. É um longa cru e que se alicerça como uma obra arquitetônica nos grandes atores Adrien Brody, Felicity Jones e Guy Pearce, em interpretações inspiradas. Porém, como qualquer monumento brutalista, tem cada detalhe pensado para funcionar perfeitamente enquanto entrega, e muito, em beleza.
Duração e intervalo
Um dos pontos mais comentados do filme é a duração. A narrativa se desenvolve em 3 horas e 36 minutos. No entanto, o longo tempo na sala do cinema não incomoda. A história precisa desse ritmo para se desenvolver. A escolha dos cinemas por fazer um intervalo de 15 minutos no meio da película é justa, uma vez que traz um efeito psicológico, pois faz a passagem do tempo ser menos percebida.
Trazer uma discussão geracional, ou social, da escolha desse intervalo ser feita por causa da falta de atenção do público atual é inválida. Longas como E o vento levou (1939) e Lawrence da Arábia (1962) também tiveram uma pausa na exibição, devido à longa duração, e as redes sociais.
Mais perto do que se imagina
O brutalismo é um movimento dentro do modernismo. Brasília é toda pautada no pensamento arquitetônico moderno. Portanto, é possível ver obras brutalistas na capital. Apenas na UnB, as colunas do ICC e o prédio da reitoria são obras que tem traços do movimento brutalista. Não é preciso ir para Europa para contemplar uma bonita arquitetura.
