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"Tudo muito injusto quando se é mulher", diz Nanda Marques, de "Beleza fatal"

Após viver Rebeca Paixão em "Beleza fatal", sucesso da Max, Nanda Marques entra em "Vale tudo" para uma participação especial e reflete sobre a pressão da sociedade sobre o sexo feminino. "A sociedade sempre dita regras que não são justas", desabafa

Fernanda Marques, atriz -  (crédito: Gustavo Lima/Divulgação)
Fernanda Marques, atriz - (crédito: Gustavo Lima/Divulgação)

A atriz Nanda Marques vive um momento de consagração na carreira. Aos 30 anos, ela está no elenco das duas principais produções do audiovisual brasileiro: Beleza fatal, a primeira novela da plataforma Max, e o aguardado remake de Vale tudo, da TV Globo. Com uma trajetória marcada por escolhas ousadas e personagens densos, ela cativa o público com sensibilidade e entrega.

Na pele de Rebeca Paixão, uma jovem sonhadora que morre tragicamente após uma cirurgia plástica clandestina, a atriz — que também assina Fernanda Marques — emocionou o Brasil. "Minha felicidade é do tamanho do sucesso dessa obra", celebra ela, que atuou nos primeiros capítulos da trama escrita por Raphael Montes, mas marcou toda a narrativa. "Além de ser esse produto que entretém, diverte e cativa tenho o maior orgulho de fazer parte, esse é um dos tipos de projeto que sempre quis fazer desses que ganham o coração do público e entra na casa, invade e vira cultura pop, tenho certeza que Beleza fatal entrou para a história, um marco na teledramaturgia brasileira, só tenho a agradecer toda equipe que fez isso possível."

A estética que mata

Apesar de sua breve participação, Rebeca é peça-chave na trama de vingança de Beleza fatal. Nanda destaca que a ingenuidade da personagem foi fundamental para gerar empatia com o público. "Ela é uma sonhadora, e isso ativa um carisma com o qual as pessoas se identificam e criam laços", argumenta a paulistana. Desde a estreia, ela tem sentido o impacto da personagem nas ruas e nas redes. "O tempo inteiro alguém grita 'Rebeca Paixão', 'Justiça por Rebeca'", diverte-se. "Gosto de trocar ideias com o público, sempre surgem relatos emocionantes e aprendizados valiosos."

Sobre a crítica embutida na história da filha do casal Elvira (Giovanna Antonelli) e Linovaldo (Augusto Madeira), Nanda é enfática: "Acho uma doença na sociedade essa busca desenfreada pela estética perfeita. As telas reforçam padrões irreais, criados por um patriarcado excludente. Precisamos consumir mais arte e menos filtros", defende a atriz, que estreou em novelas em Um lugar ao sol (2021), onde fez Cecília, uma jovem vítima de abuso sexual e que era filha de Andréa Beltrão — uma ex-modelo que lutava contra o etarismo.

Fernanda também compartilha como lida com a vaidade de maneira saudável. "É sempre um desafio, acho que ainda maior quando se é mulher. A sociedade sempre nos coloca em caixas e ditam regras que não são justas. É tudo muito injusto quando se é mulher. Para cuidar disso e outros temas da vida, faço terapia, vou muito ao teatro, museus e sou uma cinéfila assumida. Também tenho muito gosto pela escrita, acredito que isso me dá perspectivas diferentes, treina meu olhar e minha mente para fugir do óbvio", defende a taurina.

Novos desafios

No remake de Vale tudo, Nanda encara um papel completamente diferente: Vera é uma jovem ambiciosa contratada para seduzir Tiago (Pedro Waddington), o filho sensível e virgem de Helena (Paolla Oliveira) e Marco Aurélio (Alexandre Nero). "É uma delícia estar em uma trama que marcou gerações", comenta. "Gravamos em Paraty, foi um sonho! Quis guardar cada momento na cabeça e no coração", comemora ela, que tem o hábito de fazer diário da personagem e playlist, por exemplo. "São diversas ferramentas que acionam meus sentimentos, sentidos e me deixam presente no agora", explica. 

Após a rápida participação na novela que está sendo reescrita por Manuela Dias, Nanda tem uma agenda cheia para 2025. Como Netlovers, uma comédia romântica com direção de Daniel Caselli, em que a moça divide a cena com o ator Leonardo Bittencourt, e o retorno como Elisa, protagonista da série Colônia, derivada do filme Ninguém sai vivo daqui, sucesso em festivais internacionais. 

Além disso, a atriz está ensaiando uma peça e prestes a rodar um novo longa-metragem. "Tem sido uma sequência boa de bons trabalhos, e estou muito feliz", finaliza.

 

Fernanda Marques, atriz
Fernanda Marques, atriz (foto: Gustavo Lima/Divulgação)

Entrevista | Nanda Marques

O que representa para você estar em uma obra que teve uma repercussão tão imensa, como Beleza fatal?

Minha felicidade é do tamanho do sucesso dessa obra. É muito gratificante fazer o que a gente ama e ter essa repercussão torna tudo mais especial porque acredito no poder transformador da arte, onde as pessoas se identificam, questionam e formam opinião a partir de tudo que sentiram, esses debates são enriquecedores pra sociedade e pra caminhar pra um mundo melhor, pessoas pensantes e apaixonadas pela vida, pessoas empáticas, gerando mudanças de ideias enfim, acredito muito nisso nessa força que o audiovisual tem de mudança e inspiração na vida das pessoas. Além de ser esse produto que entretem, diverte e cativa tenho o maior orgulho de fazer parte, esse é um dos tipos de projeto que sempre quis fazer desses que ganham o coração do público e entra na casa, invade e vira cultura pop, tenho certeza que Beleza fatal entrou para  história, um marco na teledramaturgia brasileira, só tenho a agradecer toda equipe que fez isso possível.

Sua personagem, Rebeca, desencadeia grande parte da teia de vingança da trama. Como se preparou para viver esta personagem em uma participação tão especial, mas com a missão de puxar essa empatia do público?

O projeto tinha preparadora de elenco e de intimidade, preparadores ajudam os atores a achar possibilidades pros personagens através de dinâmicas, conversas e e exercícios, preparadores de intimidade tem a função de te fazer segura e confiante, para que nenhum tipo de constrangimento ou assédio aconteçam. Ensaiam e coreografam tudo. Isso ajudou bastante. Fora isso eu já faço um acompanhamento de trabalho com a Thaís Mansano que tem um método de atuação inspirado no Lee Stransberg e essa galera do Actor Studios, que nos ajuda a encontrar nossos personagens de uma maneira mais orgânica e verdadeira. Exercidos sensoriais de criação da realidade da personagem. Também faço diário da personagem e playlist, diversas ferramentas que acionam meus sentimentos, sentidos e me deixa presente no agora. Tive muita troca com os atores e diretores, entendi que ela precisava gerar empatia e o fato de ser uma sonhadora ativa esse lugar, e isso gera um certo carisma que as pessoas se identificam e criam laços, imagino eu ou espero que tenha sido pelo menos.

O que você pensa sobre a busca desenfreada pela estética perfeita?

Eu acho um doença na sociedade, acho que todos nós estamos um pouco doentes com essa pressão estética, as telas não ajudam em nada, reforçam padrões de “perfeição” (o patriarcado criou um “ser bonito” que exclui tudo e todos) além disso gera em nós uma comparação desmedida, quando na verdade cada um é bonito a sua maneira, e são nossas diferenças e diferenciais que nos tornam únicos. Acredito que consumir arte de modo geral ajuda o ser humano a entender a beleza de um jeito diferente, nos ajuda também a formar um senso crítico mais humano. Para isso, também não abro mão da terapia que me puxa pra sanidade em todos sentidos, seria um sonho se todo mundo pudesse ter acesso.

E você, como trabalha a sua vaidade de forma saudável?

É sempre um desafio, acho que ainda maior quando se é mulher. A sociedade sempre nos coloca em caixas e ditam regras que não são justas. É tudo muito injusto quando se é mulher. Para cuidar disso e de outros temas da vida, faço terapia, vou muito ao teatro, museus e sou uma cinéfila assumida, também tenho muito gosto pela escrita, acredito que isso me dá perspectivas diferentes, treina meu olhar e mente pra fugir do óbvio. Debato muito esses assuntos com minhas amigas e estamos entre nós ajudando a não cair nesses lugares, a forca da união entre mulheres é muito importante nos tornamos mais fortes juntas quando recusamos e reivindicamos outros lugares. Também tento evitar o consumo exagerado de telas, além dessa comparação que gera também aciona em nós muita ansiedade que é outro mal dos dias de hoje.

As pessoas vieram falar com você sobre o drama da sua personagem?

O tempo inteiro alguém grita “Rebeca Paixão”, “Justiça por Rebeca” (risos). Eu acho uma delícia receber esse carinho e trocar impressões sobre a trama e personagem, acabo sempre trazendo questionamentos como esse que falamos aqui, e sempre ouço algum relato similar ou relacionado a isso, eu adoro papear ainda mais quando o assunto gera tanta coisa bacana pra ambos os lados então sempre rende e saio com mais informações, conhecimento, empatia e satisfação.

E como está sendo fazer parte do remake de uma obra tão icônica como Vale tudo?

Estou muito feliz de fazer parte de uma trama que tem tanto amor do público já, porque é uma novela que marcou gerações então além da parte boa tem também essa responsabilidade de honrar essa história, eu faço uma participação de alguns episódios e foi uma delícia, procurei me divertir nas gravações além dos estudos claro. Queria guardar todos os momentos o melhor possível na cabeça e coração, foi bonito viver esse processo com esse elenco de peso e direção, pra completar no paraíso de Paraty, ficamos um pouco mais de duas semanas gravando por lá, foi incrível poder vivenciar isso tudo.

Pode falar um pouco mais sobre seus novos projetos?

Eu tenho três projetos para serem lançados este ano. Um deles é Netlovers, uma comédia romântica atual com direção do Daniel Caselli com produção da Movioca, onde eu e Leonardo Bittencourt fazemos os protagonistas, dois opostos que se atraem em determinado momento. O filme vai para o cinema primeiro e, depois, para o streaming, mas ainda não posso divulgar o nome. Também tem a segunda temporada de Colônia, com direção do André Ristum e grande time, que será lançada no Canal Brasil/Globoplay — um projeto que tenho um amor imenso, pois a série derivou do filme Ninguém sai vivo daqui, que concorreu diversos festivais no mundo. Também tem uma peça que estou ensaiando, e um filme pra rodar mas também é segredo por enquanto. Estou muito feliz e realizada. Tem sido uma sequencia boa de bons trabalhos.

 

postado em 13/04/2025 08:00
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