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Da rua de terra ao tapete vermelho: conheça jornada de Ricardo Teodoro

Nascido no interiorzão de Minas Gerais, Ricardo Teodoro, 36 anos, foi premiado como Ator Revelação no Festival de Cannes, na França pelo papel em "Baby" e conquistou papel de destaque no remake de "Vale tudo", aposta da TV Globo para o horário nobre

Ricardo Teodoro, ator premiado -  (crédito: Jorge Bispo)
Ricardo Teodoro, ator premiado - (crédito: Jorge Bispo)

Aos 36 anos, Ricardo Teodoro vive o melhor momento de sua carreira. Nascido em 17 de junho de 1988, um mês após a estreia da icônica novela Vale tudo, ele agora interpreta Olavo, personagem imortalizado por Paulo Reis — que, curiosamente, tinha a mesma idade do atual intérprete quando viveu o papel pela primeira vez. A estreia com papel fixo em uma novela vem após uma trajetória de 17 anos de muita batalha artística coroada pelo êxito recente: o mineiro foi premiado, em 2024, como Ator Revelação no Festival de Cannes, na França, pela atuação em Baby

No longa de Marcelo Caetano, Ricardo teve desempenho marcante como Ronaldo, um garoto de programa quarentão que divide o protagonismo com o jovem João Pedro Mariano. A parceria com o diretor começou na série Notícias Populares, gravada em 2021 e lançada no ano seguinte pelo Canal Brasil, onde interpretou um gari bissexual. "Na época, já rolava o projeto do longa. Em 2023, o Marcelo falou que ia rodar Baby. Fiz o teste enquanto encenava uma peça em São Paulo", contou o ator.

Apesar do sucesso recente, Baby não foi sua estreia no cinema. Ricardo participou de Ciclone, de Flávia Castro, ainda inédito. Também acumula passagens rápidas por novelas — e veio daí o escopo para estar onde chegou hoje.  "Existe um desafio quando se é um corpo novo nesse espaço. Muitas vezes, o desconhecimento pesa, mesmo depois de anos de trabalho", explicou o geminiano.

 Ricardo Teodoro na festa de lançamento da novela Vale Tudo      Caption
Ricardo Teodoro na festa de lançamento da novela Vale Tudo Caption (foto: Globo/Divulgação)

Ocupar espaços

Natural de São José da Safira, cidade mineira com cerca de 4 mil habitantes, Ricardo Teodoro cresceu entre o garimpo e os jogos de bola na rua. "Era natural que os moradores de uma cidade pequena passassem pela experiência de ser garimpeiro. Eu só tinha 14 anos, queria um dinheirinho, fui com meus amigos viver isso. Era ralação, mas não tinha o peso da urgência de se tirar o sustento. Então, foi muito legal." 

A pouca idade deixava o clima mais ameno, mas o olhar curioso de menino se transformou em ferramenta de pesquisa para a atuação. "O ator tem a função de humanizar. A gente observa tudo, trabalha para retratar o brasileiro", explicou Ricardo, que trabalhou em shopping, financeira, banco, startup e bilheteiro do teatro, entre outras atividades. "Vou sempre retratar o trabalhador brasileiro. Isso está no meu físico, e também na minha história. Hoje, reencontro amigos e fico interessado em ouvir suas vivências, afinal, cada um seguiu para um caminho profissional."  

Ricardo estudou na CAL, no Rio, para onde se mudou após morar dois anos em Curitiba, a convite da irmã mais velha. Na faculdade, a disciplina de História da Televisão o aproximou ainda mais da novela Vale tudo, uma vez que o professor explicava o contexto da novela, "o que ela tinha de tão especial". Quando foi chamado para os testes da nova versão, porém, resistiu a assistir demais ao clássico: "Vi até o episódio 10, Olavo entra no 60, eu adiantei alguns capítulos para vê-lo, mas parei, para não repetir. São corpos diferentes, eu entrei no capítulo 5, então tinha que nascer uma nova vida. E estou feliz de trazer Olavo para o contexto atual, com a urgência da vida real, não somente da ascensão social, mas da ocupação de espaços diferentes."

Para Ricardo, ocupar espaços no audiovisual é um ato político. "O teatro me deu outras possibilidades, mas, no cinema e na tevê, sempre fui o policial, o bandido. Isso está grudado no meu corpo, na minha forma física. É muito recente ver homens como eu em papéis centrais em filmes, novelas e séries. Vale tudo era um Brasil que se via sem se ver. Hoje, as coisas mudaram, e a criança preta pode olhar para a tela e se reconhecer", comemorou.

Ricardo Teodoro (D), em Baby
Ricardo Teodoro (D), em Baby (foto: Primeiro Plano/ Divulgação)

Do palco ao mundo

Em 2018, o ator formado chegou a São Paulo e nunca parou. "Todo ano eu fazia uma peça, recebendo ou não pelo trabalho. Se eu parasse de atuar, não voltaria. A vida vai te tomando as coisas", argumentou ele. A transição para o audiovisual começou em 2020 com projetos independentes, até chegar a Baby.

Receber o prêmio em Cannes foi como viver um eclipse, define. "Tudo se alinha para dar certo naquele momento. A gente sentia que o filme era bem-quisto. Quando ouvi meu nome, foi um filme na cabeça. Um sonho", finalizou o menino de São José da Safira, que, aos poucos, vai conquistando o país e o mundo.

 


postado em 18/04/2025 07:00
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