
Crítica // Dreams ★★★★
Não está longe das linhas da autora gaúcha Lya Luft o tipo de escrita cinematográfica assinalada pelo diretor norueguês Dag Johan Haugerud que, com o longa Dreams (o derradeiro da trilogia formatada ainda por Sex e Love), venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Com trabalhos ressaltados as atrizes merecem muita distinção: Ane Dahl Torp (uma jovial matriarca), Ella Overbye (a protagonista Johanne, uma adolescente madura), Selome Emnetu (que assume a personagem Johanna) e a veterana Anne Marit Jacobsen, na pele da avó Karin
A avó da trama, uma delicada autora de livros, que vive a citar clássicos, servirá como porto seguro para a neta Johanne, dona das linhas tortas em espécie de diário (a ser aberto com o testemunho do espectador). Resistência ao amor e alívio por meio de palavras fazem parte da trajetória da virginal Johanne, confusa na paixão sentida por uma professora.
O relato de falsa proximidade, da ruptura de ingenuidade e a linguagem (com introspectivo tom de correspondência) única estabelecem o cinema de Haugerud atento ao frescor do romance de estreia da personagem central. "A paixão se alimenta do egoísmo" e "só existo através do olhar dela" são algumas das frases marcantes do roteiro.
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Vulnerável, Johanne parece saída da trama dos veteranos François Truffaut ou Eric Rohmer, num cinema com pontuação de crônica. Alegria, culpa e responsabilidade emocional se fazem presentes no diferenciado filme, que traz mulheres complexas e interessantes. As irmãs Brontë, a tradição do tricô (nos países nórdicos) e pequenas obsessões ganham ainda maior interesse, com a trama que, em pontos, tangencia certa humilhação de viver um amor.
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