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'Negros podem escrever sobre qualquer tema', dizem autoras de Encantado´s

Mentes por trás do sucesso de "Encantado's", Renata Andrade e Thais Pontes celebram a representatividade

Há mais de 25 anos, Renata Andrade e Thais Pontes constroem juntas uma parceria que hoje brilha em Encantado's, série da Globo que celebra os 60 anos da emissora com sua terceira temporada, repleta de personagens icônicos da dramaturgia. Conhecidas por crônicas divertidas nas redes sociais, as roteiristas se consolidaram na televisão após participarem da oficina de humor para profissionais negros da Globo, em 2018.

Para elas, o sucesso da série vem da identificação do público com os personagens, mesclando humor, relações familiares e o caos de um supermercado carnavalesco. O trabalho em equipe — com Antonio Prata, Chico Mattoso e Hela Santana na roteirização, além da direção de Henrique Sauer e Naína de Paula — também foi essencial. "A identificação é um dos grandes trunfos e chaves do humor, e a gente bebe dessa fonte na série. Colocamos tintas fortes em tipos que todo mundo conhece ou se reconhece. Encantado's é uma loucura, mistura em um ambiente só dois universos muito distintos (carnaval e supermercado), mas tem uma base muito forte nas relações tanto familiares como de trabalho. Tudo com muito humor, claro", explicam.

A nova temporada traz participações especiais, como Evandro Mesquita (Paulão da Regulagem, de A grande família) e Dira Paes (Solineuza, de A diarista). "Foi uma honra reviver esses personagens", contam, destacando a importância de celebrar a história da Globo. "O pedido para que nós homenageássemos personagens clássicos foi uma grande alegria para nós cinco da sala de roteiro. Fizemos uma lista de personagens e, durante o processo, fomos batendo com a empresa e a produção a disponibilidade de datas." 

Representatividade no audiovisual

Para Renata e Thaís, é fundamental ter representatividade em todos os campos do audiovisual. "Isso amplia o olhar, traz novos caminhos e, principalmente, dá a dimensão de novas perspectivas para as histórias. No Encantado's, há pessoas negras em todas as etapas do processo e eu tenho certeza absoluta de que isso fez toda a diferença no resultado final." As roteiristas enfatizam a diversidade não só em produções que tenham a raça como tema. "Pessoas negras podem escrever sobre qualquer tema", afirmam, celebrando como Encantado's retrata a vida negra além dos estereótipos, focando no cotidiano e na alegria.

Elas também assinam — ao lado de Lívia Leite — o roteiro de Coisa de novela, filme que homenageia a teledramaturgia, com Susana Vieira como uma fã que invade os estúdios da Globo. "Susana é um holofote — trouxe carisma e humor únicos", elogiam. "Novelas e séries unem o país, refletem e transformam a sociedade", destacam, lembrando o papel cultural dessas narrativas.

Para as roteiristas, a teledramaturgia é uma das expressões mais potentes da cultura nacional. "Ela não apenas reflete o Brasil, com toda sua complexidade, beleza e contradições, como também forma, influencia e provoca. A novela, por exemplo, é um dos poucos produtos que consegue unir o país em torno de uma mesma história. É um espelho da sociedade, mas também uma lente. Através de séries, novelas, personagens, conseguimos discutir temas que muitas vezes são difíceis de tratar no cotidiano. É muito importante e forte pensar que a teledramaturgia é capaz de construir narrativas que não apenas entretêm, mas que têm o poder de transformar e gerar conversa nas ruas, nas redes sociais, nas mesas de jantar. Isso é muito impressionante. É onde a ficção encontra o Brasil real e, às vezes, até o antecipa."

Com uma amizade fortalecida por anos de desafios, elas planejam novos projetos — quem sabe uma novela? Por enquanto, seguem celebrando o sucesso de Encantado's e a representatividade que ajudam a construir.

 

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