Artes cênicas

Espetáculos do Cena Contemporânea questionam a vida e a memória histórica

Também recebe, hoje (27/8), o espetáculo argentino Seré, de Lautaro Delgado Tymruk e Sofia Brito

É como um pequeno estudo filosófico, cênico e com poucas palavras que Georgette Fadel define o espetáculo Afinação 2: Falso Solo, em cartaz hoje e amanhã na Caixa Cultural como parte da programação do Cena Contemporânea. Dançando sequências de movimentos organizadas de forma muito imagética, a atriz e diretora pretende guiar o espectador por um conjunto de gestos e intenções que refletem sobre a vida de maneira geral, aquela que acontece dentro de casa, na rua, no boteco, no banho ou na boate, do nascimento à morte. 

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A peça, ela explica, começa com um nascimento, um bebê entoando um choro de desespero como se soubesse que, ali, já começa a fenecer. "É um espetáculo com uma linguagem bem diferente do que tenho feito, porque sou uma atriz que mexe muito com a palavra, gosta muito da palavra. Não que o espetáculo não tenha a palavra, mas está apoiado nela. E estou colocando na roda também um pouco da experiência de minhas práticas corporais", avisa Georgette, que também investiu em uma cenografia com lâmpadas, uma metáfora da luz que, ao longo da vida, se transforma. "Estou muito curiosa para ver o quanto vai comunicar, porque tenho a sensação de ter criado um pequeno tarozinho sem nenhuma pretensão", diz.

O Falso solo do título vem da ideia cultivada por Georgette de que estar sozinha é uma ilusão. "A gente não está, a cada respiração a gente se comunica com muita vida que existe na atmosfera. E cada célula nossa é uma pequena entidade viva. Então a ideia de eu já é um falso solo. Todo solo é falso", acredita. 

O Cena Contemporânea também recebe, hoje, o espetáculo argentino Seré, de Lautaro Delgado Tymruk e Sofia Brito (Argentina). A peça reconta um episódio de fuga de guerrilheiros de uma mansão na qual foram torturados durante a ditadura argentina. Delgado conheceu um dos sobreviventes, Guillermo Fernández, há mais de 10 anos, durante as filmagens de Crônica de uma fuga, dirigido por Adrián Caetano. O filme, no qual Delgado vive um dos militantes, narra a fuga épica dos quatro sequestrados. Para o palco, o ator se baseou no depoimento de Guillermo durante o julgamento  da junta militar que governou a Argentina entre 1976 e 1983. "Naquele momento, tive uma experiência de divisão do eu estranhíssima e, como resultado dessa experiência, nasce este projeto", conta o ator. "Tive a sensação de estar literalmente dividido. Foi um momento esquizofrênico e perturbador, se pensado a partir de uma perspectiva psicanalítica, ou um momento mágico, se pensado com um olhar xamânico", conta.

Para Sofía Brito, que também assina a direção de Seré, trabalhar com a voz de um dos sequestrados é extremamente importante do ponto de vista da memória, mas também da contemporaneidade. "A voz real é um documento. No meu país, retrocedemos mil anos e volta-se a colocar em dúvida se ocorreu o terrorismo de Estado, e este é um documento real da declaração de um sobrevivente da ditadura cívico-militar no Julgamento das Juntas Militares. Não estamos contando algo em que acreditamos, é o documento. Lautaro teve a sorte, depois de muitas idas e vindas, de encontrar esse documento porque Guillermo Fernández é um ser excepcional, brilhante em seu relato, em suas formas e em suas respostas", explica Sofía. Seré está em cartaz hoje, no Teatro Galpão Hugo Rodas (Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul).


Seré Com Lautaro Delgado. Hoje, às 20h30, no Teatro Galpão Hugo Rodas (Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul

Afinação 2: Falso Solo

Com Georgette Fadel. Hoje e amanhã, às 20h, na Caixa Cultural

https://www.correiobraziliense.com.br/webstories/2025/04/7121170-canal-do-correio-braziliense-no-whatsapp.html 

 

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