Crítica

Confira crítica sobre o longa do festival que traz feminismo e libertação

Retrato de um delicado resgate da liberdade está desenvolvido na trama do longa Quatro meninas

Crítica // Quatro meninas ★★★

Ainda que haja a informalidade dos diálogos e a presença acentuada de sotaques, estes dados nem soam tão incômodos, dada a exuberância do cinema alcançado pelas estreantes em longa Karen Suzane (diretora) e Clara Ferrer (roteirista). Com alicerce firme na precisão de proposta e elevado refinamento, o longa é ambientado três anos antes da morte da icônica Louisa May Alcott (autora de Little women) ocorrida em 1888.

A revisão do período, com pontuais desvios na lógica histórica, calça o enredo para se reassentar temas limitantes para as mulheres como o abjeto preconceito racial (e os horrores na sociedade escravocrata), a falta de perspectivas nos estudos, limitações religiosas e os casamentos forjados. No filme, um quarteto de escravizadas — em comoventes performances de Ágatha Marinho, Alana Cabral, Dhara Lopes e Maria Ibraim — desafia, com graciosidade e força, a condição de se verem "propriedade" de abastadas moças metidas num internato.

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Um deslocamento de espaço (ocupado pelas personagens) rende pesadas transformações sociais, num filme com alto brilho na direção de arte (Ananias De Caldas), na fotografia (Thais Faria) e na bem colocada trilha de Fernando Aranha e Guga Bruno. Os rompimentos com a obediência antes operante avizinha o longa de obras como Uma vida em segredo (de Suzana Amaral) e a de Helena Solberg Vida de menina, mas com viés de problemática racial. Com qualidades plásticas rigorosamente empolgantes, o filme traz coesão e originalidade, no retrato da emancipação das personagens negras, mesmo com desfecho aquém dos convincentes princípio e desenvolvimento.

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