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Das notícias às novelas: jornalista do DF é coautor de "Três Graças", da Globo

Coautor de "Três Graças" ao lado de Aguinaldo Silva e Zé Dassilva, que estreia nesta segunda-feira (19/10) no horário nobre, Vírgilio Silva é um brasiliense de coração que passou por grandes redações da capital antes de integrar o time de roteiristas da tevê

 Virgílio Silva, coautor de
Virgílio Silva, coautor de "Três Graças" - (crédito: Globo/ Estevam Avellar)

O roteirista Virgílio Silva lembra com um sorriso irônico o caminho que o trouxe de uma pequena cidade mineira sem sinal de tevê para o principal time de autores da televisão brasileira. "Eu era um 'mentiroso'", brinca, referindo-se à sua infância em Campo Azul (MG), onde a imaginação era o principal canal de entretenimento. Essa "mentira" inventiva, que o fazia criar histórias desde criança, hoje se transformou em profissão: em 2025, o filho adotivo do Distrito Federal é um dos nomes por trás da novela Três Graças, que estreia nesta segunda-feira (20/10), na TV Globo, assinando a coautoria ao lado de Aguinaldo Silva e Zé Dassilva.

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A trajetória de Virgílio é um testemunho de como as paixões da infância, quando nutridas, podem desenhar o futuro. O mineiro se mudou para Brasília ainda pré-adolescente, formou-se em jornalismo e alimentava o desejo de trabalhar em um jornal impresso. O destino, no entanto, o levou para a televisão. Iniciou como repórter no DFTV, da Globo Brasília, em 2008, e depois tornou-se editor-chefe no SBT. Foi nas redações, sob a pressão do tempo e a responsabilidade da informação, que ele forjou a disciplina que carrega até hoje.

"Para mim, o jornalismo foi e ainda é uma espécie de janela aberta para o mundo", reflete. Ele relembra coberturas marcantes, como a do acidente do voo Gol 1907, em 2006. Essa escola, segundo ele, foi fundamental para sua transição para a ficção. "Isso me deu disciplina, mas também me ensinou a escutar. A escutar a verdade num contexto muito mais amplo: os silêncios, os detalhes, os gestos. Sem que eu percebesse, era uma preparação riquíssima para minha futura experiência na dramaturgia."

Um apaixonado por novelas

A paixão pelas novelas sempre foi uma constante. "Vi desde pequeno, nunca me chamou a atenção como ator. Era fissurado, não perdia um capítulo", conta, citando obras como Grande Sertão: Veredas e Roque Santeiro como marcos de um regionalismo que sempre o atraiu. Na faculdade, já flertava com a ficção, escrevendo roteiros para curtas-metragens. "Novela era uma coisa que eu talvez tivesse o desejo, mas achava muito distante."

O ponto de virada foi uma oficina com o autor Aguinaldo Silva, da qual gerou um DVD que ele próprio concebeu e editou. "Ficamos juntos a partir disso e nunca mais parou", diz. Sua estreia na TV Globo foi em 2014, como pesquisador e colaborador na novela Império, que conquistou o Emmy Internacional. Dali em diante, a parceria se solidificou: foi corroteirista de O sétimo guardião (2018) e do filme Crô em família (2018).

Além desses trabalhos ao lado de Aguinaldo, uma curiosidade: em 2017, a pedido de um produtor mexicano que adquiriu os direitos do romance Tieta, de Jorge Amado, para transformar a obra original em uma nova novela — assim como a que o atual parceiro de trabalho fez com êxito em 1989 — para ser exibida na televisão mexicana, Virgílio se uniu com Vitor de Oliveira e Rodrigo Ribeiro para escrever 190 capítulos. A produção, entretanto, ainda não saiu do papel. "Recebemos direitinho pelo trabalho feito, e ele está lá, escrito", ele conta, com uma pontinha de orgulho e esperança no ar.

Aguinaldo Silva, entre Zé Dassilva e Virgilio Silva
Aguinaldo Silva, entre Zé Dassilva e Virgilio Silva (foto: Globo/ Estevam Avellar)

Toque pessoal

Questionado sobre qual a sua marca pessoal nos textos, Virgílio aponta para o humor. "Um pouco do humor meio sarcástico, ácido, também nos personagens com carga dramática", explica. Ele cita como exemplo cenas densas e tensas entre personagens como Arminda e Josefa, que, mesmo em momentos críticos, têm uma fala que "arranca um sorrisinho" do público.

É uma característica que ele admira nas vilãs clássicas de Aguinaldo Silva. "Elas têm humor, mas cometem atrocidades tão atrozes que o público entende como inaceitáveis. É um cuidado para que o público nunca concorde com a imoralidade."

Quem é de Brasília pode esperar ver a cidade refletida em seu trabalho. "O público do quadradinho pode esperar referência", adianta. Ele menciona que a Papuda é citada pelos vilões, explorando temas como poder e corrupção, assim como suas memórias de Minas Gerais também ecoam em suas criações, mas nada impede que sua vivência no Distrito Federal seja pincelado ao longo das centenas de laudas escritas para virarem cenas que durarão meses.

Virgílio é um brasiliense de coração. Morou na Asa Norte, Águas Claras e Vicente Pires — para onde nunca deixa de retornar. Frequentou a cultura local, de lugares como o clássico Beirute, o lendário Gates Pub e o atual Teta Bar (302 Norte). "Conheci tudo, não troco por outro lugar. Segurança, qualidade de vida", declara Virgílio, que, da redação cheia de urgência aos sets de novela, carrega a essência de um contador de histórias. E, agora, em Três Graças, ele tem mais um capítulo dessa investigação para compartilhar com o Brasil.

 


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postado em 19/10/2025 09:04
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