
Crítica // Enterre seus mortos ★★★
Em refilão, há partes do mais novo filme de Marco Dutra que fazem lembrar Bacurau e O agente secreto: corpos deixados ao léu e fortalezas, numa enganosa atmosfera bucólica, tomam conta de parte do enredo. Depois de brilhar no terrível suspense de As boas maneiras, a fotografia de Rui Poças volta a impressionar no novo longa que alinha o caos sorrateiro da pequena Abalurdes às pencas de perturbações internas que tomam conta de personagens centrais, como Nete (Marjorie Estiano) e Edgar Wilson (Selton Mello), amantes, além de colegas de esdrúxulo trabalho. Ela anuncia, via rádio, focos de animais mortos, em estradas, para que ele promova a coleta. A complacência, em cenários de acidente de trânsito nas vias, sempre pende para os animais.
Baseado em texto de Ana Paula Maia, lembrada pela série Desalma e pelo longa Deserto (que integrou seleção do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro), Enterre seus mortos, por vezes, mostra-se confuso, dados os surtos e rompantes brotados de personagens que parecem destinados ao apocalipse. A dado ponto, ressona um conclame: "acordai" (certamente, pela repetição, à la São Paulo S/A, é algo que toca o público). O protagonista, que flerta o demoníaco, pelas camadas de traumas e multiplicidade de caráter, presencia, sem muita aflição, o desequilíbrio entre bons e maus, ao redor dele.
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A relação doentia de Edgar com o ex-padre Tomás (Danilo Grangheia, de O sequestro do voo 375) rende bons momentos. Enamorada de uma misteriosa religião, Nete convive bem com a tia meio pancada (papel de Betty Faria), enquanto transita algo ilesa entre apavorantes elementos do filme, que avoluma paralelos de rebanhos de ovelhas (mortas), raios, sangue e cadáveres moídos. Nesse conto sobre solidão, há boas performances de Gilda Nomacce (que virou meme, por causa da produção) e de Vittoria Seixas, na pele da angelical Mariana.
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