
Crítica // Wicked: Parte II ★★★
Entre dueto e duelo, numa trama de intenso aprendizado, as atrizes Ariana Grande e Cynthia Erivo são o chamariz explosivo da continuação do musical lançado, há um ano, pelo diretor Jon M. Chu. Quem estranhou a cantora Ariana colocada como coadjuvante, num musical de sucesso que invadiu a cerimônia do Oscar e fez estardalhaço de bilheteria, dessa vez, não terá do que reclamar: nos "caminhos que se cruzam" da Bruxa Boa, Glinda (Ariana), e da Bruxa Má do Oeste (Cynthia), Elphaba, é a vez de equiparação, na trama entrelaçada aos eventos do clássico O Mágico de Oz (1939).
Há muito a ser desenvolvido no roteiro de Stephen Schwartz (criador do musical), Winnie Holzman e Dana Fox. E, nisso a concentração da montagem de Myron Kerstein (de Em um bairro de Nova York) faz toda a diferença, ao tornar tudo claro e movimentado. "O Mágico mente", tenta alertar (num recado estampado no céu) a exilada Elphaba, no filme que tem narrativa potente em denunciar silenciamento e ainda em reproduzir riscos e temores com a carga de restrições aos moldes de governos totalitários (com instrumentos eficientes de propaganda).
Na pele do Mágico de Oz, Jeff Goldblum é irretocável (ao lado das protagonistas), no número musical Wonderful. Alianças, pactos e a tentativa de se cooptar tipos bem determinados, junto com um passa e repassa do Grimmerier (o livro definitivo das mágicas), dinamizam situações que ganham solução abrupta.
Confronto com tragédias (em que o ciclone, que reconecta Wicked ao filme clássico de 1939, parece fichinha), perseguições e injustiças (que originam as existências do medroso Leão, do empedernido Homem de Lata e do pouco confiante Espantalho) deixam o filme mais emocionante em relação à primeira parte. A nostalgia se ilumina com o presenciar da construção da estrada dos tijolos amarelos com a narrativa de aquisição e com o sumiço dos famosos sapatos de rubi. O que segue não funcionando são as enjoativas e toscas músicas que exigem participação coletiva da população de Oz.
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Cythia Erivo agarra com ferocidade todas as cenas com oportunidades de redenção para a Bruxa Má. Ainda que se reconheça limitada, e bem cumpra a missão de "sorrir e acenar", no papel da virtual oponente de Elphaba, Glinda traz um encanto que serve à perfeição para Ariana Grande. Frágil, ela abraça a função de elevar o astral geral (e entoa Couldn´t be happier), enquanto se conforta com a fútil tarefa de enganar, pelas inofensivas mentiras associadas à varinha de condão e as fraude e bravatas propagadas desde a infância. Uma das melhores cenas traz o desafio cômico entre Glinda e Elphaba, ambas enamoradas do capitão Fiyero (Jonathan Bailey), surpreso por um casamento à vista. É Fiyero quem puxa o mote central e decisivo do longa: a possibilidade de vermos, constantemente, as coisas de uma outra maneira. Depois do filme do ano passado, é muito bom assistir a este, com outros olhos.

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