Crítica

Remexida em vespeiro: novo filme de Ethan Coen cutuca fiéis e republicanos

Estrelado por Margot Qualley, Honey, não! tem violência, sarcasmo e algum tom crítico que circunda elementos religiosos

Crítica // Honey, não! ★★★


Há ebulição e um colorido forte, há corpos esbagaçados e há ironia rasgada contra onda conservadora republicana nos Estados Unidos: sim, tudo conspira para que, em cinema, se trate de mais um filme dos irmãos Coen, mas a realidade é que a parceria dos parentes está algo posta de lado, nos cinemas, depois de A balada de Buster Scruggs (2018). A emulsão de violência, crimes de agressão sexual e raros fetiches vêm, agora, desde o longa Garotas em fuga (2024), derivada da ligação entre o diretor Ethan Coen, a roteirista Tricia Cooke (esposa dele) e a atriz de A substância, Margaret Qualley

No filme, Margaret Qualley é a detetive Honey O'Donahue que, na retrógrada Bakersfield, vive às breves turras com o colega Marty (um especialista em homicídios feito por Charlie Day, o expressivo ator de Quero matar o meu chefe). Muito conspira para que Honey se misture às maracutaias do reverendo e líder do Templo dos Quatro Caminhos, Drew Devlin (Chris Evans, muito em forma, mas algo fora do tom).

Nem todas pontas de crimes virão amarradas no enredo que, naturalmente, embute excesso de coincidências (ao estilo Coen). Autoconfiante, severa e ética, Honey notará o elo entre a decadência pessoal dos que a cercam e a busca deles por promessas libertadoras da Igreja. A mordacidade brota no filme à medida que mulheres agem e partem para episódios de justiçamento.

Um jeito bizarro de se relacionar socialmente habita muitos dos personagens, como demonstra a mãe, orgulhosa de não estar na parcela "dos que pegam ônibus". Ressurgimentos de personagens, inesperadas sentenças de mortes e fogosos encontros públicos (em bares —, por exemplo, o flerte que envolve croché e tricô é hilário).

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Com uma personagem pouco delineada, Aubrey Plaza sofre para dar vida a MG Falcone, que morde a isca dos encantos da protagonista. Ainda que o filme ganhe, com momentos hilários como o que mostra a tese do reverendo de que "submissão (de fiéis) não é passiva", há carga forçosa de eventos que costuram intimidação doméstica que envolve a personagem de Talia Ryder, Corinne. Entre momentos de humor cortante e de ação explosiva, três coadjuvantes se destacam: Billy Eichner, na pele do gay traído, reticente em sentar numa cadeira, já que "a covid-19 ainda está no ar", a dupla de divergentes Shuggie (Josh Pafchek) e o esquentado e afetuoso latino Hector (Jacnier).

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