Crítica // Silvio Santos vem aí ★★★
Poste, mulher grávida e bambu — a simples citação destes três elementos demonstra o nível de popularidade de Silvio Santos, esquadrinhado, de vários ângulos pelo filme estrelado por Leandro Hassum (perfeito, no papel) e dirigido por Cris D'Amato. O homem do baú é sinônimo de infindáveis coisas, desde piada ruim até comoção nacional. Viúvo, de ascendência judaica, vaidoso e confiante são algumas das formas como ele se vê apresentado no filme, em que, acertadamente, o roteirista Paulo Cursino tira a monotonia a cinebiografia, realocando situações da vida de Senor Abravanel, todas dispostas em quadros que comunicam com a popularidade dele, esbanjada ao longo de incontáveis domingos de uma carreira superior a 60 anos.
Visto por alguns como um "camelô oportunista" e ciente das "calúnias e difamações" a serem enfrentadas, o personagem tem o foco posicionado, quando da pré-candidatura, em 1989, à presidência da República. A pequenez da política fica para trás quando o protagonista deixa transbordar as "boas intenções" junto a desconhecidos, afastado dos ringues associados à democracia de candidatos destemperados. O medo (do filme degringolar) vem quando se endossa discurso vinculando "família, mulher e Deus"; mas é susto passageiro. O frutífero romance com a esposa Íris (Regiane Alves) vem bem representado. Outra personagem feminina que se impõe na trama é a publicitária Marília (Manu Gavassi), que esmiúça a candidatura do apresentador.
A devassa na vida pessoal dele é anunciada. A questão de ser "autêntico demais" pesa, mas apenas aos olhos de terceiros. Sem se aprofundar na polêmica, o roteiro vende a ideia de que "o sistema" quer o Collor presidente. Com o adendo de expôr uma leve mácula no âmbito doméstico do apresentador, relacionado à companheira Cida, o filme segue a cartilha de um candidato idealista e que acredita na capacidade de se "vender sozinho", sem parafernália de agência de comunicação.
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O imediatismo da identidade junto a personagens que são "lendas" na trajetória de Silvio é bem colocado no filme, com Roque, o assistente de palco, tratando da diferença entre "vontade" e "necessidade" na vida das pessoas; Lombardi, hilário, ao sabotar todas as cenas em que se revelaria (quanto "menos mostro", "mais apareço", defende) e Pablo (João Ricken), afoito e vaidoso, pelos bastidores de gravação do programa do SBT. Com estes afunilamentos, o tema da candidatura, por sorte, se dilui. Dinâmico, e fugindo do esquema de ilustração do "bando de livros" escritos sobre o comunicador, o filme diverte e ainda acha espaço para listar peculiaridades do gosto duvidoso do ex-presidente Collor e companhia.
