
Crítica // Guarde o coração na palma da mão e caminhe ★★★★
Muito além da sororidade, tão em voga, a diretora do documentário Guarde o coração, a iraniana Sapideh Farsi, comunga da opressão envolvente em relação à figura central de seu longa-metragem, a jovem, bela e radiante palestina Fatma Hassona. Num retrato de uma Gaza (a Gaza de Fatma, como a todo momento ela reclama) inóspita e refratária, o filme premiado em Chicago, Atenas e Montreal, acusa uma falta de qualidade de imagem (dado o uso de uma rede de internet deficitária); mas, acima disso, acusa o valor do comprometimento tanto com a realidade quanto com o uso da poesia (em temas densos) que une Sapideh e Fatma.
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A atualidade do longa está no registro cotidiano de horrores presentes com as ações israelenses em Gaza, e que alcançam até um fatídico dia de abril de 2025. Zelosa das tradições do povo palestino e da integridade da família, Fatma desaparecerá fisicamente. Permanecerão, contudo, suas imagens como fotógrafa (que revela até mesmo a crueza da carne humana em bombardeios), sua denúncia serena e penosa (que atravessa dias indescritíveis) e a esperança de falar ao mundo, estando presente ao Festival de Cannes (em que não esteve, por estar morta). Um choque em forma de filme.

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