Juliana Lama começou a fazer trabalhos na rua embalada pelo movimento social relacionado à mobilidade urbana. Filha de um manauara, a artista de 36 anos, nascida no Distrito Federal, traz do Norte muitas de suas inspirações. "Eu andei muito pelas terras de meu pai e fui muito influenciada pelas histórias que ele contava, que nos transportavam para Manaus e seus arredores mesmo morando aqui, com bichos falantes pela floresta, rios e igarapés. Certamente, essas narrativas que guardam muitos segredos me influenciaram bastante", conta.
A rua, ela explica, é um território muito atrativo e a condição de ser um espaço de passagem inspira histórias e imagens. "Fazer um trabalho na rua me salva, faço porque é uma maneira de respirar melhor, garante a artista, que venceu o Prêmio Transborda em 2018 e teve trabalhos expostos Museu de Arte Moderna de Salvador (MAM), no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) e no Museu de Arte de Belém (Mabe). "Trabalhar com arte nesse espaço envolve trocas inesperadas e uma comunicação que invade o cotidiano das pessoas, eu gosto disso."
Pensar trabalhos para a galeria também tem seu encanto e faz parte da produção de Juliana. "A imersão que a galeria propõe é interessante para alguns trabalhos, a rua tem a sua espontaneidade. Gosto de ocupar os dois espaços com narrativas diferentes, que dialogam, se alimentam", diz.
A pintura é a base da produção de Juliana, que também transita pela exploração de processos alternativos e fotografia e aplicações de lambes. Entre os trabalhos que ela mais gostou de fazer está Sono sonho bom, sobre a relação do descanso com a vida cultural, especialmente a música ao vivo que, segundo a artista, tem sofrido perseguições pela cidade. "Música é uma tecnologia antiga para se viver melhor neste mundo, assim como o sonho, num sono de qualidade que a correria do cotidiano várias vezes sequestra. Um respiro, um delírio digno", explica.
Ultimamente, Juliana tem trabalhado com os "olhos de guaraná", lenda indígena amazônia na qual o fruto do guaraná teria nascido dos olhos de um menino. "Tenho trabalhado com os olhos de guaraná como um olhar latino, da floresta, originário, atento e enérgico. Um 'tô de olho' que nega engrenagens coloniais, se abre para outros mundos", conta a artista.
Sobre o festival
De 11 a 24 de agosto, Brasília receberá o Festival Vulica Brasil, primeiro encontro internacional de arte urbana na cidade. Com murais de artistas de diferentes países, o evento gratuito é o primeiro após cinco edições em Minsk (Bielorússia), entre 2014 e 2019. A 6ª edição da iniciativa presta tributo à capital modernista com intervenções que se concentram no prédio do Conic e avançam pelo Setor Comercial Sul (SCS).
O Vulica traz dois nomes brasileiros que passaram pelos festivais em Belarus, como L7Matrix (SP) e Zéh Palito (SP). Jumu (Alemanha/Peru), Ledania (Colômbia), Rowan Bathurst (EUA), Hanna Lucatelli (SP) e Juliana Lama (BSB) são mulheres que fazem da edição a maior em presença feminina. Completam os artistas selecionados o coletivo Bicicleta Sem Freio (GYN), Toys Daniel (BSB), Enivo (SP) e Rafael Sliks (SP).
O público também pode participar de oficinas, rodas de conversa, visitas guiadas, pinturas ao vivo e do encerramento, no SESI Lab, parceiro do evento, em 24 de agosto. O projeto foi aprovado na Seleção Petrobras Cultural e viabilizado por meio da Lei Rouanet.
Veja a programação
Do dia 12 à 14, a programação é diversa. Confira:
- 12, 13 e 14/8: 9h-18h: Pintura de murais no Conic e no Setor Comercial Sul
- 14/8: 9h-12h: Oficina de desenho com Igor Baldez “Olhar de Dentro: Autorretrato Intuitivo” - Turma especial em parceria com ACNUR. Onde: Sesi Lab
14h-17h: Oficina de desenho com Igor Baldez “Olhar de Dentro: Autorretrato Intuitivo” - Turma aberta ao público. Onde: Sesi Lab.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
