
Pouco afeito a entrevistas, Luis Fernando Veríssimo ao longo de sua vida sempre foi mais lacônico do que loquaz. Diante dos holofotes se retraía, mas duas paixões ele nunca escondeu: o vinho e a gastronomia. Além de seu Inter, é claro.
Por isso, compartilhei algumas poucas vezes a mesa com ele. Como na quarta colheita simbólica no Vinhedo do Mundo, uma coleção de castas provenientes de todos os continentes cultivadas em Faria Lemos, distrito de Bento Gonçalves, considerada a capital do vinho brasileiro. Convidado pelos irmãos Rinaldo e Antonio Dal Pizzol, donos das vinhas, o escritor e cronista gaúcho não se furtou de enfrentar o inclemente Sol do final do verão de 2014 para se agachar no solo terroso e colher um vistoso cacho de Shiraz do Irã.
Acompanhando cada gesto do meu famoso conterrâneo não poderia, na qualidade de colunista de gastronomia deste jornal, ficar sem umas aspas, como se diz no jargão jornalístico, e pedi ajuda a sua mulher Lucia. Três perguntas apenas e ele concordou. "Comecei a beber bons vinhos quanto tive condições de pagá-los, mas desde a adolescência aprecio a bebida", respondeu o genial escritor. Em seguida eu quis saber quais eram os vinhos preferidos? "Os tintos franceses produzidos em Bordeaux e também alguns italianos", afirmou.
Sobre o vinho brasileiro, o convidado ilustre da Vinícola Dal Pizzol, na ocasião, respondeu que "tem melhorado muito. A vocação do Rio Grande do Sul é produzir espumantes, mas aqui também há bons vinhos". Quando emendei mais uma, Veríssimo prontamente abortou: "Já foram três".
Em outras oportunidades, encontrei o casal Lucia e Luis Fernando jantando no Le Bateau Ivre, o restaurante francês que o chef Gerard Durand transferiu da QI 23 do Lago Sul para Porto Alegre para ficar perto dos filhos, que estavam morando com a mãe na capital gaúcha. Foi o próprio chef que me contou: "Eles vêm aqui todas as semanas".
Em uma das vezes, estava à mesa com o casal uma senhora simpática e falante que eu imaginei quem poderia ser. Rompi a discrição e me aproximei do ouvido da Lucia para perguntar quem era. Simplesmente Clarissa!
Não resisti a dar um abraço na irmã de Luis Fernando, primogênita de Érico Veríssimo, homônima do primeiro romance escrito pelo pai, ícone da literatura brasileira. A personagem Clarissa apareceria, ainda, em mais três romances Caminhos cruzados, Música ao longe e Um lugar ao sol. Tenho todos, alguns autografados pelo autor, o primeiro em uma das mais amadas famílias gaúchas, que nos enche de orgulha e deixa saudade!
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