COMÉRCIO

Brasil ainda não fez importação relevante de arroz com tarifa zerada

Arroz externo, isento de tarifa, só deve chegar no fim do mês de outubro ou no início de novembro. Por isso, alimento segue em alta

Marina Barbosa
postado em 01/10/2020 21:15 / atualizado em 01/10/2020 21:17

A decisão do governo federal de zerar a tarifa de importação do arroz para tentar aumentar a oferta e reduzir o preço do produto ainda não surtiu efeito. Dados apresentados nesta quinta-feira (1º/10) pelo Ministério da Economia revelam que, em setembro, não houve importações significativas de arroz. Por isso, o produto segue em alta nos mercados brasileiros.

De acordo com os dados da balança comercial de setembro, o Brasil importou 51,2 mil toneladas de arroz com casca e 73,8 mil toneladas de arroz sem casca. Porém, a maior parte do produto veio do Paraguai, de onde o Brasil já consegue importar sem a cobrança de tarifas. Ou seja, não é fruto da isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) — medida anunciada em 9 de setembro, em meio à escalada de preços do arroz, com o intuito de permitir a importação de até 400 mil toneladas do produto sem a cobrança de tarifas até o fim do ano.

"Ainda não observamos uma operação de importação em volumes significativos decorrentes da cota", admitiu o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Herlon Brandão.

Diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva contou que essa importação do Paraguai já havia sido negociada antes mesmo da isenção da TEC, mas garantiu que já há mais arroz a caminho do Brasil e sem tarifa. "Depois da isenção da TEC, foram negociadas 200 mil toneladas com a Índia, os Estados Unidos e a Guiana. O primeiro embarque deve chegar na segunda quinzena deste mês de outubro ou na primeira quinzena de novembro", afirmou.

Ela admitiu, contudo, que, até a chegada desse arroz, o produto pode continuar em alta nos mercados. "O preço do produtor para a indústria dobrou, resultado da recuperação do preço, que era defasado. E muitos mercados ainda não fizeram todo o repasse desses preços, porque estavam trabalhando com os estoques", explicou Andressa.

Prova disso é que o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou, também nesta quinta-feira, que o arroz ficou 8,01% mais caro nos últimos 30 dias. Em agosto, o produto já havia subido 19,25%, segundo a inflação oficial do país, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A diretora da Abiarroz garantiu, por sua vez, que os preços se estabilizaram no mercado doméstico nas últimas semanas. "Chegamos a receber sacas de 50 quilos do produtor por R$ 115. Há mais de uma semana, está estável em R$ 104. Por isso, o preço do quilo do arroz deve ficar entre R$ 5 e R$ 7 nos mercados", calculou.

Andressa avisou, contudo, que esse preço não deve cair muito depois que o arroz do exterior chegar ao Brasil. Afinal, o produto também se valorizou no mercado externo e ainda tem um aumento extra aqui no Brasil, por conta da alta do dólar. "O arroz que está vindo é bem oneroso, vai chegar com um preço muito próximo ao que já está no mercado. Entre R$ 104 e R$ 110 a saca, dependendo do dólar. Então, a vinda do arroz não vai reduzir o preço, vai estabilizar, criar um teto e evitar que o preço continue subindo", alertou.

"Não existe sobreoferta de arroz no mundo, porque há demanda por commodities agrícolas no mundo inteiro. Então, o arroz não vai chegar barato e o câmbio também não favorece", confirmou o estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral. Ele concluiu que, na prática, o que a isenção anunciada pelo governo pode oferecer é a redução da especulação dos preços do arroz.

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