BANCO CENTRAL

Para Campos Neto, aumento do investimento dependerá da confiança na área fiscal

"O governo precisa mostrar um caminho para a política fiscal para (ele) ter mais credibilidade", afirma o presidente do BC, que prevê queda de 47,8% na entrada de investimento direto no país em 2020

Marina Barbosa
Rosana Hessel
postado em 17/12/2020 16:06 / atualizado em 17/12/2020 16:07
 (crédito: Raphael Ribeiro/BCB)
(crédito: Raphael Ribeiro/BCB)

Ao reconhecer que a forte queda na entrada de investimento estrangeiro direto no país é reflexo do aumento da desconfiança no país, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, destacou que evitar um descontrole fiscal será crucial para a volta dos investidores de longo prazo ao país. E nesse sentido, o ministro reforçou a necessidade de mais investimentos para uma vacinação contra a covid-19 em vez de uma prorrogação do auxílio emergencial.

“O governo precisa mostrar um caminho para a política fiscal para (ele) ter mais credibilidade”, defendeu Campos Neto, nesta quinta-feira (17/12), durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), ao comentar os dados sobre os dados da entrada de investimento estrangeiro no país. No documento, o BC passou a prever a entrada de US$ 36 bilhões de Investimento Direto no País (IDP) neste ano, praticamente a metade dos US$ 69 bilhões computados em 2019, queda de 47,8%.

Ao comentar esse dado, Campos Neto reconheceu que é preciso recuperar a confiança do investidor de longo prazo. O ministro também avaliou que a crise atual provocada pela pandemia é profunda e que isso fez com que o BC mudasse o cenário várias vezes.

No Relatório de Inflação de dezembro, a autoridade monetária revisou de 5% para 4,4% a previsão de retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020. No começo do ano, o BC previa a entrada de US$ 60 bilhões, e vem reduzindo a projeção desde junho. Em setembro, a estimativa era de US$ 50 bilhões. Logo, a nova estimativa está 28% abaixo da anterior.

O IDP mede os investidos produtivos de longo prazo e são um termômetro importante da confiança no país. A queda é um sinal disso, apesar de a fuga de capital do país ter dado uma arrefecida em novembro, com a entrada de aplicadores no mercado de ações devido à melhora no cenário externo, que vem beneficiando países emergentes. Contudo, o Brasil não vem sendo o principal destino da maior parte do excesso de recursos do mercado internacional, que vem aumentando a liquidez após a eleição do democrata Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos.

“Para voltar a registrar aumento no IDP e a volta do investidor de longo prazo, o Brasil tem que recuperar a credibilidade na questão fiscal”, frisou Campos Neto, em resposta a um questionamento do Correio, sem confirmar se o Brasil está perdendo esse novo bonde da história. Segundo ele, o investidor de curto prazo é o que volta mais rápido diante desse excesso de liquidez no mercado externo que vem ajudando a desvalorizar o dólar nas economias em desenvolvimento. No mês passado foram cerca de R$ 30 bilhões de capital estrangeiro na Bolsa, por exemplo. “Essa volta do capital estrangeiro em portfólio, no mês de novembro, é importante para mostrar que estamos convivendo com três componentes: alguns problemas fiscais, o avanço da vacinação e o excesso de liquidez”, afirmou.

"Solução definitiva"

“A vacinação tem custo menor do que a extensão do benefício”, reforçou o ministro. Segundo ele, "é importante entender que uma solução definitiva sempre vai ser mais eficiente que uma solução temporária", garantindo que vê o governo de Jair Bolsonaro trabalhando nesse sentido. "O mercado deixou de seguir os anúncios fiscais e passou a seguir os anúncios de perspectiva de vacina, logística etc. O mercado deixou de olhar uma solução temporária e passou a olhar uma solução definitiva. Até porque é mais eficiente gerar condições de emprego para que as pessoas possam trabalhar do que ajudar as pessoas que não podem sair de casa, não podem trabalhar", afirmou Campos Neto.

Nesta semana, o chefe da autoridade monetária disse que era mais barato investir na vacina contra a covid-19 que prorrogar o auxílio emergencial novamente. Por isso, ressaltou nesta quinta-feira que as projeções do BC não consideram o pagamento do auxílio emergencial em 2021. O BC também não trabalha com uma segunda onda pandemia, mas alertou que novas medidas de isolamento social podem frear a atividade econômica no primeiro trimestre do próximo ano, como já vem ocorrendo em países da Europa que voltaram ao lockdown.

"Se houver restrição de mobilidade, pode ter um impacto no curto prazo. Mas avançamos muito no desenvolvimento das vacinas", frisou Campos Neto. Para o BC, a vacina traz uma perspectiva de recuperação positiva no médio e longo prazo, mesmo se ocorrer uma desaceleração no curto prazo. "A ressurgência da pandemia deve afetar a atividade no curto prazo [no cenário externo], mas no médio prazo a impressão é que os resultados promissores dos testes de vacina tendem a trazer melhoria da confiança, da demanda e normalização da atividade. É um pouco pior no curto prazo, mas melhor no médio prazo", explicou o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk.

Campos Neto ressaltou ainda que o governo vem trabalhando na vacinação, tanto que o presidente Bolsonaro assinou nesta quinta-feira a medida provisória que garante R$ 20 bilhões para o imunizante e, na quarta, o Ministério da Saúde detalhou o plano nacional de imunização.

"Se houver um atraso que implique em uma mobilidade menor, vai ter um impacto. Mas, hoje, nada indica que vai acontecer", declarou. Ele admitiu, contudo, que "tem que esperar um pouco para ver o resultado do que está sendo feito e a reação da população uma vez que a vacinação esteja em curso”. 

 

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