Correio Talks

Recuperação econômica será mais lenta no Brasil, acredita Solange Srour

Economista-chefe do Credit Suisse participa do debate "Desafios para o Brasil pós-pandemia" no Correio Talks desta terça-feira (23/3)

Marina Barbosa
postado em 23/03/2021 18:28 / atualizado em 23/03/2021 19:46
 (crédito: Reprodução/YouTube)
(crédito: Reprodução/YouTube)

O Brasil vai se recuperar da crise econômica causada pela pandemia da covid-19 em ritmo mais lento que o de outros países. Afinal, ainda não conseguiu conter a disseminação do novo coronavírus e vai precisar se endividar novamente para conseguir amparar os brasileiros e as empresas que foram afetados pela segunda onda da pandemia, elevando as incertezas fiscais que rondam o país. A avaliação é da economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour, que participa do debate sobre os "Desafios para o Brasil pós-pandemia" no seminário on-line Correio Talks realizado, nesta terça-feira (23/3), pelo Correio em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

"O cenário hoje para o Brasil é de uma recuperação muito aquém da de outros países", alertou Solange Srour. "Tem um carregamento estatístico de 3,6% do PIB. Qualquer crescimento abaixo disso mostra que o Brasil na verdade decaiu em relação a dezembro do ano passado. É muito aquém do que a gente está vendo em países da América do Norte, da Ásia e da Europa", acrescentou.

Solange Srour lembrou que países como a China e os Estados Unidos podem crescer cerca de 7% neste ano. Já para o Brasil, o mercado projeta um PIB de 3,22% em 2021, segundo o último Boletim Focus. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), no entanto, já fala de um PIB de 3%, por conta do impacto da segunda onda da pandemia de covid-19 na economia brasileira. "A crise sanitária tem implicações importantes na economia no curto prazo. Isso está afetando a atividade e vai afetar bastante a economia no primeiro semestre", reforçou a economista-chefe do Credit Suisse.

Ela destacou, ainda, que este não é o único desafio do Brasil neste momento. E disse que o país precisa atacar, sobretudo, o risco fiscal, já que as incertezas sobre os rumos das contas públicas têm mantido o dólar nas alturas, o que pressiona a inflação e tem feito o Banco Central (BC) elevar os juros neste momento de economia ainda fraca. O Credit Suisse, por exemplo, acredita que o BC vai elevar a taxa básica de juros (Selic) até 6,5% por conta da alta da inflação.

"Como a gente vai lidar com a crise sanitária e como a gente vai lidar com as pressão por mais gasto? Porque é inevitável que a gente auxilie não só os informais, mas também precisemos fazer a reedição de outros tipos de programas, como a sustentação dos trabalhadores formais e das empresas que estão impedidas de funcionar nesse período. E ainda por cima em um ambiente de inflação elevada, que está fazendo com que a política monetária já comece a sair de um nível extremamente estimulativo. Este é o grande nó no momento e vai determinar como vamos sair da crise e como será o desenvolvimento da economia no ano que vem", declarou Solange.

PEC Emergencial

A economista lembrou que ainda há muita incerteza no mercado sobre o rumo fiscal do país já que a PEC Emergencial, que permitiu a retomada do estado de calamidade pública e do auxílio emergencial, foi desidratada e, por isso, trouxe gatilhos de ajuste fiscal mais frouxos do que esperado. Ela disse que essa desidratração pode dar um "cheque em branco" para o governo caso o agravamento da pandemia exija, mas lembrou que o país vai precisar pagar a conta de tudo o que for gasto neste momento. Por isso, pediu responsabilidade fiscal.

"É preciso respirar fundo nesses meses, tentar manter a responsabilidade fiscal e resolver a crise sanitária, tornando o ano de 2022 menos turbulento do que é todo ano eleitoral, para que o Brasil não perca mais um ano de crescimento global forte por conta dos problemas domésticos", afirmou Solange.

Ela garantiu, ainda, que é possível manter a responsabilidade fiscal sem deixar de combater a pandemia e ajudar os mais vulneráveis. E disse que uma saída nessa sentido seria a aprovação de medidas de corte de gastos ao mesmo tempo em que o governo retoma os programas de auxílio emergencial necessários neste momento. Porém, mostrou-se descrente em relação à aprovação de grandes reformas fiscais neste ano, por conta dos sinais já dados pelo governo e pelo Congresso na votação da PEC Emergencial.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE