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'Todo o esforço tem que estar na vacinação', diz Campos Neto

Para o presidente do Banco Central, a vacinação vai permitir a reabertura econômica no segundo semestre deste ano

A economia brasileira será afetada negativamente pela segunda onda da pandemia da covid-19 até maio, mas poderá voltar a se recuperar no segundo semestre deste ano em razão da vacinação. A avaliação é do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que, por isso, defendeu que todos os esforços do país sejam concentrados na imunização contra o novo coronavírus.

"O que precisamos fazer é ter mais vacina e vacinar o mais rápido que podemos. Vacinando um milhão de pessoas por dia, o impacto na economia é enorme. As simulações mostram isso. Então, todo o esforço tem que estar nessa direção", disse Roberto Campos Neto, nesta terça-feira (6/4), durante evento virtual promovido pelo Itaú Unibanco.

O presidente do BC lembrou que, por conta dos estímulos fiscais anunciados pelo governo no ano passado, a economia brasileira se recuperou de forma rápida do baque sofrido no início da pandemia, e estava quase atingindo o nível pré-pandemia quando se deparou com a segunda onda de infecções. Porém, calculou que a segunda onda vai impactar negativamente a atividade econômica somente nos meses de março, abril e maio deste ano.

"As projeções para 2021 estão caindo pelos efeitos da segunda onda", comentou Campos Neto. Há 10 dias, o Banco Central reduziu de 3,8% para 3,6% a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021, por conta do agravamento da pandemia, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Campos Neto disse, ainda, que o impacto econômico da pandemia será menor neste ano. Ele explicou que a adesão às medidas de isolamento social tem sido pequena em cidades como São Paulo e que, "de certa forma, a economia aprendeu a viver no mundo pandêmico". Além disso, destacou o impacto positivo da vacinação contra a covid-19 na atividade econômica.

Apesar de admitir que o Brasil teve "alguns atrasos" no recebimento das vacinas, o presidente do BC trabalha com o cenário de que os brasileiros que pertencem ao grupo de risco estarão vacinados até julho. Ele explicou que a meta do país é acelerar a imunização e vacinar 1 milhão de pessoas por dia.

O BC acredita, então, que a vacinação vai reduzir o número de mortes decorrentes do novo coronavírus e trazer "boas notícias" para a economia no segundo semestre. Para Campos Neto, a imunização vai permitir a reabertura e a recuperação da economia brasileira no segundo semestre. Acredita, também, que o movimento pode ajudar a normalizar o fluxo de capital estrangeiro para o país, o que pode contribuir com a redução da volatilidade do câmbio e da inflação.

Juros

O chefe da autoridade monetária voltou a dizer nesta terça-feira que, apesar de ter se espalhado nos últimos meses, a alta da inflação ainda se deve a choques temporários, sobretudo à alta das commodities e à depreciação do real. Por conta disso, reforçou que a ideia do Comitê de Política Monetária (Copom) é fazer uma "normalização parcial" da taxa básica de juros (Selic), que subiu de 2% para 2,75% no mês passado, e deve sofrer outro ajuste desta magnitude no próximo mês.

Segundo Campos Neto, a normalização da Selic será parcial porque, apesar de precisar elevar os juros para conter as expectativas de inflação, o BC entende que a economia ainda requer condições estimulativas. Ele também acredita que ajustes mais fortes, como o último de 0,75 ponto percentual, podem ser mais eficazes e reduzir o impacto total desse ciclo de alta da Selic.

O presidente do BC disse, então, que esse movimento só vai se alterar caso o cenário fosse muito diferente. Questionado sobre o que poderia levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a subir mais os juros, em um processo de "normalização completa" da Selic, Campos Neto citou como exemplos de um "cenário muito diferente" o fato de a abertura da economia não ocorrer no segundo semestre e o eventual desrespeito às regras fiscais.

Em live com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Campos Neto reforçou, por sinal, que hoje o grande desafio do Brasil ainda é fiscal. Ele também reforçou a visão do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que um novo estado de calamidade pode trazer mais consequências negativas do que positivas para o país, já que representaria um aumento de gastos que poderia causar distúrbios no mercado.

"Eu vejo claramente um efeito negativo vindo de algo do qual é esperado um efeito positivo", alertou o presidente do BC, ao ser questionado pela equipe econômica do Itaú sobre a possibilidade de o Brasil decretar um novo estado de calamidade, neste ano, para poder ampliar os gastos públicos durante o enfrentamento da segunda onda da pandemia de covid-19.

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