INFLAÇÃO

Paulo Guedes coloca em xeque previsões do mercado para 2022"

Ministro da Economia relembra erros em projeções passadas e diz acreditar na alta de investimentos e em programas como o Auxílio Brasil para acelerar atividade econômica no próximo ano

Fernanda Fernandes
postado em 16/12/2021 19:57 / atualizado em 17/12/2021 11:09

O ministro da Economia, Paulo Guedes, parece não acreditar nas expectativas do mercado financeiro, que apontam para um fim de ano e início de 2022 em estado de recessão. Durante coletiva de imprensa para apresentação dos dados mais recentes do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Guedes aproveitou o espaço para fazer um “alerta” para as previsões equivocadas que ocorreram ao longo deste ano. “Eu não vou fazer previsão de quanto vai crescer (a economia) no ano que vem. Só vou dizer uma coisa: erraram quando disseram que o PIB iria cair 4% e o país ficaria em depressão, negaram a volta (da economia) em V, e agora estão dizendo que já temos recessão constatada, porque estamos combatendo a inflação”, explicou o ministro, referindo-se a alta taxa de juros aplicada em razão da política contracionista do Banco Central (BC).

Para Guedes, apesar da política de combate à inflação, ano que vem será um ano de alta na taxa de investimentos que, aliada à ampliação de programas como o Auxílio Brasil, poderão manter o consumo aquecido e trazer números mais positivos para o Produto Interno Bruto (PIB) do próximo ano. No último boletim Focus, divulgado na segunda-feira (13/12), pelo Banco Central, essa previsão foi de um avanço de 0,5% ao ano.

“Ano que vem será um ano de dois vetores: de um lado combate à inflação, por outro lado aumento sistematicamente na taxa de investimento e a ampliação dos nossos programas, como o Auxílio Brasil, que é um programa forte de transferência de arned para 17 milhões de famílias”, defendeu o líder da pasta da economia. “Será um ano difícil, mas cuidado com as previsões erradas”, reforçou.

Gabriel Leal De Barros, economista chefe da RPS Capital e ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), ressalta que, ainda que sempre haja a incorporação de componentes para expectativas futuras, as projeções de atividade e inflação são sempre dinâmicas e condicionadas ao conjunto de informação que o mercado dispõe naquele momento. “Nesse sentido, as projeções de PIB próximo de zero de boa parte do mercado, com algumas casas projetando PIB negativo, se deve principalmente ao choque de juros e ao cenário externo menos favorável aos países emergentes, especialmente os mais frágeis como o Brasil”, explica.

O economista concorda com Guedes ao afirmar que o Auxílio Brasil será um dos propulsores da economia em 2022. “O Ministro tem razão ao dizer que o programa vai ajudar no crescimento econômico, mas os pontos desfavoráveis, somado à aguda incerteza político-eleitoral do próximo ano, atuam como freio para um avanço mais forte da atividade, emprego e renda”, pontua Leal de Barros.

Na avaliação de Roberto Ellery, economista e professor da Universidade de Brasília (UNB), o ambiente atual de altas incertezas torna impossível que o mercado financeiro esteja errando para baixo no crescimento do PIB de 2022. “O mais provável é que o ministro, mais uma vez, esteja com excesso de otimismo. A inflação alta reduziu o poder de compra das famílias e forçou o Banco Central a elevar os juros. As confusões no lado fiscal prejudicam as expectativas e isso pode ter impacto negativo nos investimentos”, alerta

Investimentos privados

Ao falar sobre o balanço mais recente do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Guedes afirmou à imprensa que as entregas deste ano renderam R$ 334 bilhões - R$ 58 bilhões somente em outorgas, ou seja, pelo direito de investir no Brasil. De acordo com o ministro, nos últimos três anos, que compreendem a gestão do presidente Jair Bolsonaro, foram contratados 822 bilhões de reais em investimentos para a próxima década, atingindo o pico de contratos, desde 2013.

“Foi quase 1 trilhão de reais de investimentos para os próximos 10 a 15 anos, R$148 bi em outorgas. (...) Estamos chegando a 19,5% e, possivelmente, vamos atingir, no ano que vem, os 20%, o que significa que está havendo reativação dos investimentos no Brasil, como não há desde 2013”, destacou.

Ainda segundo o ministro, para o ano que vem, estão previstos mais 153 ativos com investimento total de R$ 389,3 bilhões. “Vamos para R$ 1,2 tri em contratos de investimentos”, pontuou. Segundo Guedes, esse alcance tem sido possível devido ao resgate de investimentos privados para economia brasileira, que haviam sido “expulsos” do país. “Nosso modelo de crescimento e visão de futuro para economia brasileira é de investimentos baseado em vieses privados, que foram expulsos do Brasil devido à legislação inadequada. Dai a importância dos marcos regulatórios”, informou.

Com a taxa de juros (Selic) atual à beira dos dois dígitos (a 9,25% ao ano), Guedes criticou medidas contracionistas de gestões anteriores. “Juros muito altos, de dois dígitos por década, e endividamento em bola de neve, impostos excessivos… Então o Brasil atolou, parou de crescer, exatamente porque expulsou o investimento privado e exauriu as finanças, impedindo também os investimentos públicos”, disse.

Recursos engessados

Não é de hoje que o ministro da Economia questiona a regra do Teto de Gastos. Nesta quinta, Guedes voltou a falar, também, sobre os recursos "engessados" no Tesouro que, na avaliação dele, poderiam ajudar os mais pobres. “É uma tragédia brasileira que o estado tenha tantos recursos que não estão bem administrados, e por outro lado, o povo na pobreza. (Esses recursos poderiam) melhorar não só o atendimento no serviço público, mas também na mudança na distribuição de renda e de propriedades”, defendeu.

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