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Quer investir? Especialistas recomendam cuidados com a renda móvel

Tensão na política, ações do BC e cenário externo tendem a deixar a Bolsa instável. Recomenda-se procurar especialista para realizar aplicações mais arriscadas

João Vitor Tavarez*
postado em 27/12/2021 06:00
Bolsa de Valores: otimismo no início de 2021 deu lugar a muita volatilidade no mercado financeiro. Tendência deve se manter  -  (crédito: Gerd Altmann/Pixabay)
Bolsa de Valores: otimismo no início de 2021 deu lugar a muita volatilidade no mercado financeiro. Tendência deve se manter - (crédito: Gerd Altmann/Pixabay)

Calebe Vieira, diretor comercial da Be Capital, empresa de consultoria de investimentos, observa que, em 2021, o mercado de renda fixa não teve grandes surpresas. "Afinal, já era claro que a inflação estava muito alta e que uma das principais formas de tentar contê-la seria ampliar a Selic. Logo, essa elevação da Selic já era esperada para 2021", afirma.

O único fator inesperado, na avaliação do analista de investimentos, é o fato da inflação não cair na mesma proporção da alta da Selic. Esse fenômeno afetou os investidores do mercado financeiro. "O mercado de renda variável deixou muita gente de "calça arriada". Esperava-se, no início de 2021, que o Ibovespa fechasse 2022 próximo a 130 mil pontos. "No meio do caminho tudo desandou e hoje o Ibovespa briga para se manter próximo dos 110 mil pontos", descreve.

Para 2022, o especialista recomenda manter uma postura mais conservadora nas carteiras de investimentos. A cautela se justifica por dois motivos: a resistência da inflação e a instabilidade que deve marcar 2022.

"Como a inflação ainda tem persistido, existe a possibilidade da Selic chegar a 12% ao ano em 2022, o que possibilita um retorno próximo de 1% ao mês nos investimentos atrelados ao CDI", aponta Calebe Vieira.

"Por isso, é importante focar em produtos com rentabilidade superior a 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), mas que não tenha carência superior a dois anos", recomenda. "Isso porque, caso a elevação da Selic gere o efeito que estamos esperando na inflação (ou seja, a queda dela), possivelmente existirão cortes na taxa já em 2023, o que seria recomendado mudar a estratégia da carteira", analisa.

O segundo motivo de cautela para 2022, continua Vieira, é a conjuntura desafiadora dos próximos meses. Como o mercado ainda não se recuperou da pandemia, e as eleições tendem a aumentar o clima de incerteza, é provável que a Bolsa apresente uma volatilidade ainda maior.

"Então, para clientes conservadores, o melhor para o ano de 2022 é voltar aos velhos fundos e títulos de renda fixa que apresentaram excelente retorno no último ano. E para os clientes mais arrojados, recomendamos reduzir um pouco a exposição à Bolsa, criando uma reserva de oportunidade em ativos mais conservadores e aguardar as boas oportunidades que surgirem para alavancar os ganhos", conclui o analista.

Expectativas

Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, afirma que, na ótica dos investimentos, as crises abrem um campo de oportunidades. Para o especialista, embora haja aumento da Selic, é possível capturar taxas de juros maiores, como nos títulos públicos. "São os mais seguros em nosso mercado. Daí volta-se à tese do rentista, da qual é possível capturar prêmios interessantes com risco de crédito baixo", avaliou.

Silva também aponta que a Bolsa de Valores está bastante descontada, com preço das ações reduzidos ante a expectativa de inflação resistente, de alta de juros e de tensionamento político. "Há empresas com estrutura de capital forte, cujos preços estão muito descontados. Então, há oportunidade nesses dois campos (títulos públicos e bolsa), sempre lembrando principalmente na renda variável é bom buscar um especialista durante a escolha dos ativos", recomendou.

Em relação à 2022, Renan Silva avalia que será um ano bastante conturbado. "Começando pelas eleições, onde o embate político polarizado deve gerar volatilidade no mercado. Também há o cenário de inflação alta, que embora acomode, deve persistir porque estamos sob o efeito da inflação global", alerta.

Renan lembra que, ao longo da pandemia, o governo injetou muitos recursos na economia. "Consequentemente isso gera inflação, impacta nas commodities e gera demanda reprimida", exemplifica.

Felipe Giroleti, vice-presidente da plataforma de tecnologia do mercado financeiro, Franq Open Banking, avalia que 2022 foi um ano desafiador, onde as opções de renda fixa, por exemplo, foram menos atrativas. O consultor dá três conselhos na hora de investir: manter uma carteira de aplicações diversificada; respeitar o próprio perfil de investidor; e contar com um bom assessoramento financeiro.

"Tudo passa pelo equilíbrio na carteira de investimentos. Se o seu perfil é conservador, respeite, pois nada paga a tranquilidade diante das aplicações. O que ajuda muito nesse sentido é que empresas (de assessoramento) ajudem o investidor", afirma.

Poupança

A edição deste ano do Raio X do Investidor Brasileiro, realizado pela Anbima, mostra que a poupança foi a modalidade de aplicação preferida no Brasil nos últimos 12 meses. Cerca de três em cada 10 brasileiros optaram pela poupança (29%). Em seguida, estão os fundos de investimentos e títulos privados, com 5% das preferências. Títulos públicos via Tesouro Direto e ações da Bolsa de Valores assumem o último lugar, representando 3% das preferências.

Em relação ao perfil do investidor no país, o levantamento mostra que 40% dos brasileiros investem. Desse total, 55% são homens, 45% mulheres e ambos com idade média de 42 anos. A maioria (86%) trabalha com atividade remunerada e chegou a cursar faculdade (42%).

A pesquisa também informa como os brasileiros economizaram de 2020 até aqui. Seis em cada 10 pessoas (64%) não conseguiram gastar menos. Já 36% conseguiu, sendo que para 56% dos entrevistados, deixar de sair foi a principal medida adotada. 

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