Mercado financeiro

Crise na Ucrânia impacta mercados globais e deve chegar ao seu bolso

Ataque a Kiev, na Rússia, derrubou Bolsas, provocou a subida do dólar, disparou o petróleo e pode fazer trigo ficar mais caro

Deborah Hana Cardoso
postado em 24/02/2022 15:55 / atualizado em 24/02/2022 15:56

A escalada nas tensões entre Estados Unidos, Rússia e Ucrânia nos últimos dois meses culminou na primeira ofensiva do governo de Vladimir Putin contra a capital Kiev nesta quinta-feira (24/2). Além dos abalos sísmicos geopolíticos entre as nações, os mercados sofreram.

A crise internacional chegou em um momento em que o mundo não está nada bem, já que a pandemia da covid-19 contaminou também as políticas monetárias globais. Agora, com a crise geopolítica, o mundo deve receber um novo choque de pressão nos preços dos combustíveis e dos alimentos. E isso somado à inflação que permeia as potências, ainda em processo de retomada após os intensos lockdowns.

Dólar

Para entender o impacto da crise, vale analisar primeiro o dólar. Com a aversão ao risco de uma guerra entre potências, o dólar comercial abriu o dia negociado a R$ 5. Às 14h10, registrava uma alta de 2,35%, negociado a R$ 5,12. A moeda ante o real vinha em uma tendência de queda desde 21 de fevereiro, quando fechou o dia cotado a R$ 5,10.

Energia

Outra alta importante foi a do petróleo. A Rússia é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (OPEP+) e 60% de sua economia dependem da commodity. Com a onfensiva, pela primeira vez, o tipo Brent foi negociado a US$ 100 (valor de referência internacional) e o WTI (referência americana) foi negociado a US$ 95,54.

Além dos combustíveis que devem encarecer se a ofensiva continuar em Kiev, os europeus também deverão se preocupar. A Rússia é responsável pelo financiamento de 40% do gás natural que chega ao continente — motivo de preocupação da França, Alemanha, Itália e outros.

Bolsas

Os mercados internacionais também sentiram o peso do ataque russo. Em torno das 14h12 (horário de Brasília), os principais índices globais caíam: o Ibovespa (índice brasileiro de referência) foi a 1,89%, negociado a 109.829 pontos; os americanos Dow Jones despencavam 2,20%, negociado a 32.420,71 pontos e o S&P, negociado a 1,27%; na Europa, o DAXX, da Alemanha, registrava queda de 3,96% e era negociado a 14,052,10 pontos, e o Euro Stoxx 50, da União Europeia, caía 3,64%, negociado a 3.828,96 pontos. Na Ásia, o Hang Seng de Hong Kong despencava 3,21%, negociado a 22.901,56.

O índice russo MOEX caiu 30% desde o ataque.

Trigo

Além do aumento no preço dos combustíveis, que deve surtir um efeito cascata nos alimentos e outros bens de consumo, aumentando a pressão inflacionária global em meio à retomada econômica, há o trigo. A commodity é sensível ao conflito já que Rússia e Ucrânia, juntas, produzem 14% do trigo global e fornecem 29% de todas as exportações do cereal. O Brasil é um dos maiores importadores do mundo.

Política fiscal

Os governos, que antes prezavam por uma política fiscal pautada na responsabilidade de menor gasto frente às suas receitas, desde a pandemia têm gastado mais para mitigar o impacto do intenso desemprego que os lockdowns causaram. A revisão do papel do Estado em suas economias diante do desafio de uma recuperação econômica que ainda é desigual entre os setores produtivos causa gargalos e uma disrupção das cadeias globais de valor e de produção, enquanto os bancos centrais indicam que não irão aumentar juros e devido às inflações elevadas.

Um exemplo de pressão inflacionária ocorre nos EUA, que, em 2011, chegou a 7%, o maior nível desde 1982, apontou o índice de preços ao consumidor do país (CPI, na sigla em inglês). Lá, a juros básico está em 0% e 0,25%, conforme o Federal Reserve (Fed).

No caso do Brasil, a política contracionista de juros do Banco Central (BC) elevou a Selic para 10,75%. O último boletim Focus do BC estima que a inflação chegue a 5,6%.

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