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Guerra na Ucrânia pode impactar a safra de setembro no Brasil, diz especialista

Segundo o diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária Brasileira (CNA), Bruno Lucchi, só será possível se ter uma ideia do que vai acontecer no país a partir de abril

Maria Eduarda Angeli*
postado em 18/03/2022 16:23 / atualizado em 18/03/2022 16:23
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A questão dos fertilizantes segue sendo um motivo de grande preocupação para o setor agro no Brasil. Em menos de um mês, houve um aumento de 52% no caso dos nitrogenados. Para esta safra, o país está garantido, uma vez que os produtores já possuem insumos estocados. A próxima leva de plantações, porém, prevista para o bimestre de setembro e outubro, carrega incertezas em função do conflito no leste europeu, que ameaça o fornecimento dos principais elementos usados na adubação dos produtos agrícolas.

Segundo o diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, a guerra ainda é complexa demais para que se trace um cenário para o fim do ano, e é necessário ter mais variáveis para analisar. O especialista foi o convidado desta sexta-feira (18/3) no CB.Agro, programa parceria do Correio e TV Brasília.

“Nós vamos ter uma sinalização do que pode acontecer com o Brasil a partir de abril, quando o Hemisfério Norte começa a plantar. Conforme for o plantio desses países, a gente vai ver”, disse. Ele ressaltou, ainda, que, atualmente, 90% do fertilizante consumido pelo país é importado. Nesse sentido, reduzir o nível de dependência brasileiro, na opinião dele, é uma questão de “segurança nacional”, já que impacta diretamente na disponibilidade de alimento para a população, e que isso se destaca em meio à guerra.

"A Rússia figura entre os principais fornecedores de fertilizantes no mundo. No caso do Brasil, de todo o volume que nós importamos no ano passado — em torno de 41 milhões de toneladas, 22% veio da Rússia. Então, um problema com a Rússia que dificulte esse escoamento da produção causa uma preocupação muito grande.”

Mesmo que seja exportador, a maior parte do que é produzido em solo brasileiro permanece no território nacional, conforme apontou o especialista — assim, é estratégico desenvolver a indústria brasileira, de forma competitiva. “Temos hoje vários eixos que precisam ser sanados. O Brasil ser autossuficiente [em termos de fertilizantes] a gente acredita que não vai ser algo que a gente vai buscar, porque esses outros países têm muito mais vantagens competitivas do que a gente”, observou Lucchi.

Sustentabilidade

De acordo com o diretor técnico, “hoje, o Brasil tem condições de estar em qualquer mercado mundial, justamente porque o produtor rural brasileiro aderiu ao código florestal, que é nossa lei principal no setor agrícola”. No entanto, o problema vem de não saber como comunicar e divulgar os sistemas de cultura utilizados pelos produtores nacionais.

“Quando eu exporto uma soja — que é uma commodity —, teoricamente o nível de proteína, as condições de umidade, são padrões internacionais. O Brasil tem um diferencial, porque ele tem uma reserva legal, uma área de preservação permanente, que é muito maior do que o que os outros países têm hoje. Então, num grão de soja, ele agrega muito mais sustentabilidade do que qualquer outro país no mundo, só que a gente não sabe capitalizar isso”, lamentou.

O especialista completou afirmando que o momento, apesar de trágico, é oportuno discutir políticas estruturantes para o país. “E essa política do fertilizante é essencial. O plano [nacional de fertilizantes], que foi lançado semana passada, prevê um horizonte de 30 anos, que é o médio e longo prazo, para se desenvolver uma série de iniciativas e ,até lá, ter uma dependência em torno de 40%, 50%.”

Bruno Lucchi justifica o prazo prolongado: “Não é um setor que a gente consegue trabalhar do dia para a noite. É uma data realista em função das mudanças estruturantes que precisam ser feitas. Demanda muito investimento, estudo, e melhoria do arcabouço legal para dar segurança jurídica para o investidor”.

Confira a entrevista na íntegra:

 

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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