As ações da Tesla, principal empresa do bilionário Elon Musk, tiveram queda de quase 12%, na terça-feira (26/4), um dia após ele ter anunciado um acordo para a compra do Twitter por US$ 44 bilhões. A retração refletiu a intenção do magnata, considerado o homem mais rico do mundo, com uma fortuna pessoal estimada em US$ 323 bilhões, de vender parte de suas ações na Tesla para financiar a aquisição do Twitter. Com a baixa das ações, a companhia de carros elétricos teve uma redução de US$ 126 bilhões no seu valor de mercado, em um único dia.
Elon Musk chegou a promover uma pesquisa, por meio do Twitter, para saber a opinião dos usuários sobre a proposta de vender cerca de 10% de sua participação na montadora de carros elétricos na China. A enquete recebeu mais de 3,5 milhões de votos e 57,9% das pessoas votaram sim para a proposta de venda das ações.
No fechamento da bolsa de tecnologia Nasdaq, às 18h de ontem, as ações da Tesla recuavam 11,99%. A queda bilionária de valor da companhia foi responsável por garantir à Tesla o pior desempenho entre todos os nomes listados no S&P 500 (índice que reúne as 500 maiores companhias listadas nos EUA), que registrou queda de 2,34% ontem. Em 2022, porém, a companhia acumula alta de 41,66%.
A Tesla está entre as empresas de capital aberto mais valiosas do mundo, avaliada em mais de US$ 900 bilhões. Musk pretende financiar a compra do Twitter com US$ 13 bilhões em empréstimos dos maiores bancos de Wall Street, além de usar um crédito de US$ 12,5 bilhões garantido por sua participação na Tesla. Restariam US$ 21 bilhões a pagar, que seriam levantados com a venda das ações da montadora.
De acordo com informações da imprensa norte-americana, Musk e dirigentes do banco de investimentos Morgan Stanley têm sondado outros investidores que possam se interessar por uma participação do Twitter.
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Nova política
Além de especulações sobre as estratégias financeiras de Elon Musk, a compra do Twitter gerou dúvidas sobre o futuro da plataforma digital. Após o acordo com os acionistas controladores da rede social, Musk emitiu um comunicado dizendo que queria eliminar os spammers e promover a liberdade de expressão — o que provocou reações favoráveis dos conservadores em todo o mundo, incluindo, no Brasil, seguidores do presidente Jair Bolsonaro. Ele anunciou ainda que pretende fechar o capital da empresa. Com isso, terá mais liberdade para agir fora do olhar dos acionistas públicos.
Angelo Carusone, executivo-chefe da organização norte-americana sem fins lucrativos Media Matters for America, disse que a visão de Musk sobre a liberdade de expressão era "confusa", porque eleva todas as informações igualmente, incluindo visões potencialmente extremas e desinformação. "O Twitter tem sido uma vanguarda quando se trata de política", disse Carusone. "Eu me preocupo com o que isso fará com o resto da paisagem."
Repercutindo as preocupações sobre as novas políticas de conteúdo do Twitter, dirigentes da União Europeia se preocuparam em traçar limites para a atuação de Musk. De acordo com o comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, a plataforma "terá que se adaptar totalmente às regras europeias", em matéria de liberdade de expressão, independentemente das orientações que o bilionário venha dar a ela. Recentemente, as autoridades europeias concluíram uma nova regulamentação que obriga as grandes plataformas a melhorar o controle sobre conteúdos ilegais, como pornografia infantil e apelo a atos terroristas.
Em dezembro do ano passado, Elon Musk foi eleito "Pessoa do Ano" pela revista Time. Cinco meses depois, ele já começa a ser considerado a pessoa mais poderosa do mundo. Dificilmente outro empresário exerceu tanta influência sobre indústrias que operam em áreas tão amplas da vanguarda tecnológica, com o poder de definir o futuro da economia global: mídia social, viagens espaciais, direção autônoma, transporte elétrico e inteligência artificial.
Ontem, o segundo homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, criador da Amazon, foi ao Twitter questionar se a China passaria a ter maior influência no controle da rede social, depois que ela for comprada por Musk. Bezos repostou o tweet de um repórter do The New York Times que levanta dúvidas se a China terá mais influência sobre o Twitter, agora que a plataforma foi comprada por seu rival. Segundo mercado da Tesla, o governo chinês baniu o Twitter de seu território em 2009. Mike Forsythe insinua que, para manter a boa relação comercial, Musk pode se tornar mais suscetível à pressão das autoridades chinesas sobre a plataforma.
Bezos retuitou dizendo que era uma pergunta "interessante". E complementou: "O governo chinês acabou de ganhar um pouco de influência sobre a praça da cidade?". E seguiu argumentando: "Minha própria resposta a essa pergunta é 'provavelmente não'. O resultado mais provável a esse respeito é a complexidade para a Tesla na China, em vez de censura no Twitter. Mas vamos ver. Musk é extremamente bom em lidar com esse tipo de complexidade", apostou.
Outro ponto que provoca muitas especulações é se Musk vai usar o Twitter para passar por cima das determinações da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês). Em 2018, a agência federal de regulamentação e controle dos mercados financeiros chegou a proibi-lo de fazer postagens sobre assuntos relacionados à sua empresa automotiva, a Tesla, depois que um tuíte fez o preço das ações da companhia despencar US$ 14 bilhões.
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