TRABALHO

Construção civil manteve empregos na pandemia, mas salários caíram

Indústria da construção gerou R$ 325,1 bilhões em valor de incorporações, obras e/ou serviços em 2020, sendo R$ 304,4 bilhões em obras e/ou serviços (93,6%) e R$ 20,7 bilhões em incorporações (6,4%)

Michelle Portela
postado em 15/06/2022 16:54 / atualizado em 17/06/2022 15:38
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Mesmo sofrendo os efeitos da paralisação provocada pela pandemia, o setor da construção civil cresceu 3,8% em 2020, empregando 2 milhões de pessoas, 71,8 mil trabalhadores a mais do que em 2019. Além disso, as empresas do setor pagaram R$ 58,7 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações, de acordo com os dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

A edição de 2020 é a 30ª edição da pesquisa iniciada em 1990, tendo passado por diversas evoluções metodológicas. Em 2020, a maior parte (35,3%) dos trabalhadores do setor estava no segmento Construção de edifícios, cujo número de ocupados cresceu 4,9% ante 2019. 

“O segmento de Obras de infraestrutura era o principal do setor, mas caiu para a segunda colocação, com perda de nove pontos percentuais (p.p.) entre 2011 e 2020, sendo ultrapassado por Construção de edifícios, que ganhou 5,4 p.p.. Essa mudança ocorreu já em 2012”, diz o analista da pesquisa, Marcelo Miranda. 

Entre 2019 e 2020, a Paic mostrou estabilidade na participação de Obras de infraestrutura no valor gerado pelo setor: de 32,0% para 32,7%. Construção de edifícios avançou de 44,7% para 45,3% e Serviços especializados para construção foi o único a ter redução: de 23,3% para 22,0%. 

A pesquisa também mostra que a indústria da construção gerou R$ 325,1 bilhões em valor de incorporações, obras e/ou serviços em 2020, sendo R$ 304,4 bilhões em obras e/ou serviços (93,6%) e R$ 20,7 bilhões em incorporações (6,4%).

Salários 

A Paic 2020 mostra que as empresas do setor pagaram R$ 58,7 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações em 2020, a maior parte (37,1%) em Obras de infraestrutura. Entretanto, entre 2019 e 2020, o salário médio mensal da indústria da construção caiu de 2,3 para 2,2 salários mínimos. “O ano de 2020 teve os menores salários da série histórica”, destaca Miranda.

A maior remuneração foi registrada no canteiro de Obras de infraestrutura, com remuneração média de R$ 2,6 salários mínimos, em 2020. “O segmento de Obras de infraestrutura teve o maior crescimento percentual no número de trabalhadores (10,9%), enquanto os serviços especializados tiveram uma redução de 3,3%”, afirma Miranda.

Entre os três segmentos da indústria da construção, Obras de infraestrutura foi a que mais pagou em volume de salários, correspondendo a 37,1% do total. Construção de edifícios veio a seguir com 32,3%. Já a remuneração dos Serviços especializados para construção ficou com 30,6%.

A indústria da construção tinha 131,8 mil, empresas ativas em 2020. Houve significativo aumento (mais 6,7 mil empresas) frente a 2019 (125,1 mil). Já em relação a 2011, o número de empresas do setor cresceu 41,2%.

Para a pesquisadora Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre, os dados do IBGE refletem o trabalho formal no setor da construção civil num processo ainda completo de efeitos da pandemia. “Temos o lado formal da construção com empresas formalmente constituídas, mas é importante ter uma análise também sobre o porte das empresas. O lado negativo que precisamos apontar é a redução da renda do trabalhador, mas também é importante refletir que o PIB do setor cresceu”, avalia.

Dados Regionais

A região Sudeste continua sendo a principal em número de pessoal ocupado (894.655 trabalhadores) e em valor de incorporações, obras e/ou serviços (R$ 140.523.481). A má notícia é que no Centro-Oeste houve perda de participação de Brasília, de 32,9% para 26,9%

“Por unidade da Federação, de 2011 a 2020, o principal destaque é Rondônia cuja participação — no número de trabalhadores — caiu de 27,6% para 6,9%, devido ao fim das obras das grandes hidroelétricas do Rio Madeira. Já Pará (de 33.9% para 52,3%) e Amazonas (de 19,7% para 23,9%) ganham participação”, ressalta Miranda.

Na Região Sul, não houve mudança estrutural. Ainda no Centro-Oeste, destaque para os ganhos de participação de 15,6% para 22,7%, em Mato Grosso, e de 35,9% para 37,4%, em Goiás.

Na Região Nordeste, outro destaque foi a perda de participação de Pernambuco, de 25,7% para 16,0%. No Sudeste, São Paulo continua sendo a principal UF, com participação de 55,5%, que se manteve estável. “Mas houve uma perda forte de participação do Rio de Janeiro, que deixou de ser o segundo maior estado da região, caindo de 21,6% para 14,6%, e perdendo a posição para Minas Gerais (25,6%)”, completa o analista.

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