CONTAS PÚBLICAS

Campos Neto sobre piora do quadro fiscal: "É uma coisa que aflige"

"Não vamos entrar no mérito, mas existe um problema de como será financiado no ano que vem", diz presidente do BC

Rosana Hessel
postado em 15/08/2022 11:02 / atualizado em 15/08/2022 11:04
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrou preocupação, embora constrangido, com o aumento desenfreado dos gastos do governo em plena campanha eleitoral e reconheceu que a piora do quadro fiscal “é uma coisa que aflige”, porque é um problema que vem surpreendendo no curto prazo.

Em debate com economistas liberais do Instituto Millenium, realizado na manhã desta segunda-feira (15/8), ele buscou uma frase comum no meio econômico para ilustrar os benefícios criados pelo pacote de R$ 41,2 bilhões que inclui, a ampliação do Auxílio Brasil — programa que substituiu o Bolsa Família — de R$ 400 para R$ 600. “Não existe nada mais permanente do que um programa temporário do governo”, afirmou.

Ansiedade

Campos Neto destacou que quem comenta política fiscal é o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas reconheceu que o mercado tem “uma ansiedade” em conhecer as fontes de recursos para cobrir as “surpresas” que apareceram no curto prazo, em referência às bombas fiscais armadas que que destruíram o teto de gastos, na avaliação de especialistas em contas públicas. Uma prorrogação do auxílio de R$ 600 em 2023, como prevê o programa de governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, custaria R$ 60 bilhões e não cabe do Orçamento do próximo ano.

“O BC não costuma comentar política fiscal, mas usa como input nas suas projeções. E houve uma surpresa grande de curto prazo. Não vamos entrar no mérito, mas existe um problema de como será financiado no ano que vem”, frisou.

Vale lembrar que, diante do aumento dos gastos, a conta de subsídios deste ano já aumentou cerca de 50% em relação ao previsto, somando pouco mais de R$ 520 bilhões, de acordo com estimativas da Ryo Asset. Não à toa, analistas alertam para os riscos, principalmente da credibilidade do país em cumprir regras fiscais diante do debate em curso por técnicos do Ministério da Economia em buscar um novo arcabouço fiscal para substituir a regra do teto, que foi alterada três vezes pelo governo desde 2020.

Para ele, o BC brasileiro está à frente dos demais bancos centrais, porque iniciou o ajuste monetário antes dos demais, em março de 2021, mas não sinalizou se pretende interromper o ciclo de aperto monetário durante as eleições deste ano. Em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, elevou a taxa básica de juros (Selic) de 13,25% para 13,75% e deixou a porta aberta para um ajuste de “menor magnitude”.

Pix barato

Durante a apresentação aos economistas do Instituto Millenium, Campos Neto ainda destacou o novo recorde de transações do Pix na última sexta-feira (11), totalizando 89,5 milhões de operações realizadas pelas 478,4 milhões de chaves cadastradas.

O presidente do BC lembrou que a plataforma é um passo para o futuro da tokenização da economia e foi relativamente barata. Além disso, está sendo analisada por bancos centrais da Colômbia, do Uruguai e do Canadá. “O Pix é barato, custou R$ 5 milhões para o BC. E dá para fazer muito com pouco”, afirmou.

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