Finanças

BC mantém taxa básica de juros em 13,75%, apesar da queda da inflação

Taxa básica não muda, apesar da queda recente da inflação. Comunicado do Copom indica preocupação com o quadro fiscal

Rosana Hessel
postado em 27/10/2022 10:34 / atualizado em 27/10/2022 10:37
 (crédito: Raphael Ribeiro/BCB)
(crédito: Raphael Ribeiro/BCB)

Na penúltima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano, o Banco Central manteve a taxa básica de juros da economia (Selic) em 13,75% ao ano, nível em vigor desde o inicio de agosto, como esperado pelo mercado. A decisão do colegiado foi unânime e ajudou a manter o Brasil na liderança do ranking mundial de juros reais (descontada a inflação), com taxa de 7,80% ao ano — bem acima da média de 2,11% negativos dos 40 países listados pela Infinity Asset Management, que fez um cálculo com base no custo de vida projetado para os próximos 12 meses.

O comunicado divulgado após a reunião foi mais breve do que os anteriores, mas alertou sobre incertezas, tanto no cenário interno quanto no externo. O Copom não indicou o que fará na última decisão do ano, em dezembro, mas deixou a janela aberta para futuras altas nos juros, caso for necessário. Com isso, sinalizou que está preocupado com a piora das contas públicas, apesar das declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o fiscal "continua forte".

Para analistas, o comunicado mais sucinto, às vésperas das eleições de segundo turno, no próximo domingo, evita deixar margem para interpretações adicionais. "O comunicado devia ser curto, pois as expectativas de inflação mais baixas poderiam ter interpretação política", destacou o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas Gomes, assessor externo de economia da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). "Foram bem corretos em dar um comunicado curto porque, assim, não deixam espaço para polêmica. O ambiente doméstico está cheio de incertezas, e ainda não sabemos até onde a queda recente da inflação se sustenta", destacou a economista Juliana Inhasz, professora do Insper, em referência à deflação registrada entre julho e setembro, após a redução de impostos estaduais e federais sobre combustíveis.

Janela aberta

Ao justificar a decisão no comunicado e destacar incerteza do cenário, o Copom ressaltou que se manterá vigilante, "avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação". Em seguida, enfatizou que os passos futuros da política monetária "poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avaliou que o BC condicionou a redução dos juros à questão fiscal, pois o tamanho do deficit público no ano que vem ainda é uma incógnita, podendo chegar a mais R$ 400 bilhões, como alertou o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles com base em dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). "O Banco Central está em compasso de espera. Só vai fazer mudança nos juros se houver uma nova regra fiscal a contento. Por isso, o Copom manteve a aberta a possibilidade de nova alta da Selic se essa nova regra não for bem desenhada", explicou Vale.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, avaliou que a mensagem principal do BC no comunicado foi de cautela, porque existe um cenário econômico de incerteza elevada, com dúvidas sobre os choques globais nos preços, e, por outro lado, risco de uma desaceleração global mais forte, que pode bater nos preços das commodities e gerar uma desinflação mais rápida. Outro motivo da cautela é a necessidade do Banco Central de assegurar não só o processo desinflacionário no país, como também uma convergência mais clara em direção às metas de 2023 e de 2024, cujos tetos são de 4,75% e de 4,50%, respectivamente. "Considerando todo esse cenário, o Banco Central passou uma mensagem de cautela, que não faz mudarmos nossas projeções", disse Padovani, que mantém a previsão da Selic em 13,75% até junho do ano que vem.

O consenso entre analistas, aliás, é de que o próximo governo, seja ele qual for, terá que recuperar a confiança de que vai controlar os gastos públicos com um novo arcabouço fiscal, pois o teto de gastos deixou de ser respeitado pelo atual governo após inúmeras alterações na regra. "Apesar da melhora da inflação, ainda há fatores domésticos e externos que fazem o BC manter essa vigilância na manutenção da taxa de juros. Por isso, o BC não vai se comprometer com o timing para a redução das taxas. A princípio, ele pode até começar a baixar a Selic entre março e abril, mas isso vai depender de quais serão as novas regras fiscais", reforçou Eduardo Velho, economista-chefe da gestora JF Trust.

Freitas Gomes, da CNC, disse, ainda, que o BC precisará se preocupar mais com a atividade econômica do que com a inflação, porque os juros reais acima de 8% ao ano, em 2023, travarão qualquer crescimento econômico do país. "A economia já está em desaceleração, e juros reais nesse patamar são bons para os rentistas, mas péssimos para as empresas e as famílias endividadas", alertou o ex-diretor do BC. Ele lembrou que o endividamento recorde das famílias, em torno de 80%, "é mais uma trava para o consumo".

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